Tagua Tagua Conta dos Processos em seu “Inteiro Metade”

foto de thiago picolli

Inteiro Metade chegou ao mundo como o resultado da experiência que Felipe Puperi ganhou no trabalho com seu Tagua Tagua. Após dois EPs, chegou a hora de produzir um álbum completo, e o caminho até sua conclusão e lançamento foi um argumento em favor daquela máxima que afirma que “melhor é a jornada do que o destino”.

Isso porque o processo criativo, da reunião de inspirações até o entendimento conceitual da obra, definiu largamente aquilo que ouvimos ao longo de suas nove faixas. Ou seja, dos pequenos detalhes às maiores intenções, o que o disco traz é um registro do desenvolvimento das ideias que ele trabalhou sob o conceito, veja só, de como as coisas se transformam e a complexidade dessa dinâmica. Falando ao Música Pavê, ele explicou melhor como trabalhou esse tema no repertório do disco.

“Aprendi a enxergar as músicas um pouco menos como um caminho de super experimentação e aprender também a ser o meu produtor”, conta Felipe, “minha ideia era menos mostrar tudo de legal que eu sei fazer e mais como uma canção pode ser massa e o quanto ela consegue passar. Hoje em dia, eu componho muito mais no violão, o que eu tinha muita dificuldade antes, e aí [as músicas] já vêm em forma de canção”. Segundo ele, isso fez com que esse lançamento tenha “uma conexão automática, uma via de acesso mais prática ao ouvinte, dele se conectar à sua mensagem, ao seu trabalho”, e acrescenta que “tem um prazer por trás disso”.

“As músicas no no Inteiro Metade têm estruturas mais definidas do que em meus outros trabalhos. Elas têm mais versos, pré-refrões, refrões, acontecem em uma estrutura um pouco mais lógica”, explica ele, “Rastro de Pó, por exemplo, tem uma parte de solo que se estende por uns dois minutos e aquilo vai indo e é só sensação, né? Eu só quis passar um ‘vamo indo, essa sensação tá boa, segue nela’ (risos). Hoje, eu já fiz mais esse trabalho de criar construções. Acho que a experiência me ajudou muito nisso”.

Para Felipe, a maturidade adquirida ao longo de tantos anos – muito antes de Tagua Tagua, ele estava com a banda Wannabe Jalva, e também produz para outros artistas – foi a responsável também por olhar para o lado mais pop da música, ao invés de tentar ser mais genial do que prazeroso em sua criação. “Isso passa pela cabeça dos artistas no processo de amadurecer e começar a pensar diferente”, explica ele, “porque tem a urgência de mostrar muita coisa em um só material, em um só trabalho. Não dá para tirar essa realidade do processo do artista. É difícil você fazer um primeiro material. Você vai lançar um EP de três músicas e elas precisam mostrar tudo o que você tem para conseguir abrir algum espaço, sabe? Muitas vezes, o artista se confunde dentro desse universo, sobre como divulgar a própria música nesse processo”.

O mais desafiador na hora de trabalhar em Inteiro Metade, como ele conta, foi “entender o sentido de toda a obra junta”: “Eu fui vendo que as músicas escorriam para lados diferentes e eu fui proporcionando abrir o espectro. Esse processo de ressignificação, que eu tanto tenho dito que [é o cocnceito do disco], acabou me abrindo uma gama gigantesca de possibilidades. Fui me dando conta que esse processo de ressignificações levava muito tempo e envolvia um carrossel de emoções. É como terminar um relacionamento. Às vezes, você pode se sentir eufórico por estar entrando em um universo novo, aí ao longo do tempo os sentimentos vão mudando, você vai sentindo saudade, solidão, tem que viver o luto daquele relacionamento para a pessoa tomar uma nova posição na sua vida. Quando eu me dei conta desse monte de sensações, o disco ficou muito rico, porque eu consegui ir de um lado eufórico para uma coisa mais melancólica, de ser alegre, esperançosa e nostálgica, muitas facetas. Eu gosto de circular por todos esses caminhos”.

“Esse universo do disco tão vasto de sentimentos me permitiu juntar uma música como Só Pra Ver, que é super pop e pra cima, com a música Do Mundo, que é super pra dentro”, conta Felipe, “eu acho que tratei de um tema que muita gente vai se identificar, o de se deparar com como você está se relacionando com as pessoas e com o mundo, e como fazer essas relações. Foi algo que eu me questionei muito nesses últimos tempos, sobre me relacionar com as pessoas, mesmo relacionamentos românticos. O disco acaba fazendo sentido em algum momento pra todo mundo, o como eu vou fazer para rearranjar as relações. A transformação é muitas vezes dolorida, não é fato sair da sua zona de conforto e mudar”.

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