Sturle Dagsland: Xamã, Vampiro e Perseguidor de Gatos
Há um universo próprio que o ouvinte adentra assim que dá o play em Sturle Dagsland. O músico norueguês – que lança hoje, 05, seu primeiro e homônimo álbum -, reúne inspirações, timbres e musicalidades distintas em um som imersivo e de grande personalidade, abraçando com afeto o estranhamento.
Falando ao Música Pavê acompanhado de seu irmão e parceiro musical Sjur, Sturle comentou que sua estética é “sempre expressiva, dinâmica e aventureira. Sempre exploramos novos sons e maneiras de nos expressarmos. A inspiração pode vir de qualquer lugar: Da natureza, ou de sonhos, ou de onde for. Também usamos mitologia nórdica como inspiração. Mas também tenho músicas inspiradas por gatos. Eu às vezes vejo um gato na rua e sigo ele por algumas horas para ver aonde ele vai”.
É evidente o quanto Sturle e Sjur se empolgam com aquilo que é fora do comum, o que se reflete em suas músicas, vídeos e até histórias para contar – como se perder no Brasil na tentativa de encontrar um macaco, ou como conseguiram entrar na Noruega com 20kgs de café brasileiro. “A polícia sempre me para no aeroporto, porque eu me visto diferente dos outros”, conta ele, com certo orgulho, “porque sempre acham que eu estou carregando drogas, mesmo eu não usando nada”.
Viajar o mundo com sua música faz com que o universo estético de sua música continue sempre crescendo, assim como o repertório de histórias para contar. Os irmãos logo aprenderam durante essas andanças que “pessoas são pessoas em qualquer lugar, mas há especificidades de como se reage à música em cada lugar. Em alguns, há algo na cultura que faz com que as pessoas estejam mais abertas à nossa música”.
“Na Groelândia, as pessoas vieram falar comigo depois do show porque disseram que minha música lembrava as tradições dos povos antigos de lá”, conta Sturle, “eles me chamaram de angakkuq, que é o xamã. Você não pode se dar esse título, apenas os outros podem te chamar assim”. “Na última vez que tocamos na Finlândia, uma mulher trouxe sua avó, que era imigrante da Síria”, conta também ele, “ela tinha algum tipo de demência e estava fora de si há dez anos, mas, no show ela estava lúcida”.
Xamânico ou não, seu som esbanja a intenção da autenticidade, o que leva o músico às mais diversas situações e plateias. “Já tocamos em festivais de pop, de rock e até em um de pornografia gay (risos)”, comenta ele” e as pessoas quem vêm aos nossos shows são tão diversas quanto os locais onde tocamos. Às vezes, vemos crianças e, em outras, pessoas com chifres”.
Ainda sobre tocar ao vivo, ele brinca que, quando está no palco, “absorvo as energias do público, como um vampiro (risos), o que sempre torna a apresentação ainda melhor. A resposta que temos do público nos shows é o que mais ajuda a dar forma ao nosso trabalho”.
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