Spacey Jane fez seu segundo álbum no “vácuo da música ao vivo”

Uma busca rápida pela banda australiana Spacey Jane em qualquer plataforma logo rende comentários fervorosos sobre suas apresentações ao vivo, seja na resposta do público ou nas resenhas da crítica especializada. Não é arriscado considerar, mesmo falando daqui de um canto do mundo onde o quarteto nunca pisou, que esse é, portanto, seu ponto mais forte. Que curioso, então, pensar que o grupo produziu seu segundo álbum, Here Comes Everybody, durante uma época da pandemia quando ninguém sabia afirmar se pisaríamos novamente em um show alguma vez na vida.

“Estávamos em um vácuo da música ao vivo”, contou o vocalista Caleb Harper ao Música Pavê, “pela primeira vez, fizemos músicas sem pensar em como elas ficariam no palco. Levamos em consideração apenas a experiência do ouvinte com o disco”. Ao comentar também a experiência de trabalhar em um segundo álbum, em comparação a um lançamento de estreia, ele afirma que “não foi mais fácil, porque tínhamos mais o que se pensar. Quando você lança seu primeiro álbum, é como uma criança de três anos te mostrar um desenho e você fala “olha, que legal” (risos), tem toda uma margem de poder errar. Essa margem é bem menor agora. Nosso público cresceu, há mais expectativas, e tivemos que considerar isso tudo. Ao mesmo tempo, é nossa primeira vez compondo e produzindo tendo a banda como nosso trabalho em tempo integral. A sensação é de que, agora, estamos onde precisamos estar”.

Além de poder se dedicar exclusivamente à banda (e com tempo de sobra durante a quarentena da pandemia), Spacey Jane pôde repensar o que gostaria de fazer com Here Comes Everybody, o sucessor de Sunlight (2020). “A forma com que as pessoas consumem música é 99% sozinhas, com fones de ouvido, então pensamos ‘como fazemos essa experiência ser a melhor?’”, conta Caleb, “só agora que estamos no processo de construir o show para o álbum, o que tem sido bem legal, porque é aí que surgem vários desafios de como transportar isso para o palco. Estamos andando na linha tênue entre reproduzir o que está no álbum, que é o que as pessoas mais querem escutar, e nossa vontade de fazer uma performance que seja incrível”.

“Acho que, cada vez mais, se você ama uma música de uma banda, você quer ir ao show e, no mínimo, reconhecer aquele som que você já curte. Então, o objetivo primário é conseguir aproximar o som ao vivo do gravado, daí então pensar em como deixá-lo ainda melhor”, comenta ele, que diz também estar ansioso pelos shows: “[Estou] animado para tocar menos das músicas antigas, que tocamos tanto ao longo de dois anos, então vai ser bom poder focar nas novas. Acho que nos dá uma nova energia. Mas fico nervoso porque a plateia ainda não conhece bem as músicas. Não dá para saber como as pessoas ali se identificam com uma faixa só pelos números do streaming. Às vezes, quando você está ali na frente delas, a reação não é a que você esperava, é uma história totalmente diferente”.

Com lançamento marcado para 24 de junho, Here Comes Everybody já teve três singles lançados: Hardlight, It’s Been a Long Day e Sitting Up. “Eles não refletem necessariamente como o disco é como um todo, porque a decisão de escolha dos singles é feita baseada em diversos fatores – o selo pensa no que vai ficar melhor na rádio, no streaming, o engajamento etc. -, e montar um álbum é só uma questão de ter em mente o que faz aquele disco ser bom”, explica Caleb, “há coisas no álbum que estou curioso para ver como as pessoas vão reagir. Ele não é todo de grandes refrões, ou guiado por guitarras. Tem muito teclado, mas também muita percussão. Você vai escutar o álbum e não vai faiar ‘ah claro, eu já conhecia esse som por ter ouvido os singles’. Acho que vai dizer: ‘não era isso o que eu esperava, que porra é essa?’ (risos)”.

Se a pandemia e também seu período de isolamento influenciaram a produção disco, é fácil presumir que também tenham afetado o conteúdo das letras – vide It’s Been a Long Day. Caleb conta que trabalhar essa dinâmica “é difícil, porque não queremos falar disso o tempo todo, mas também não podemos ignorar o impacto que tudo isso tem. Para mim, a faixa é sobre um relacionamento que terminou como resultado das aflições de ser um músico durante a pandemia, e como ela afetou meu estado mental. Então, sim, ela teve um impacto direto no conteúdo do álbum, que fala das experiências que eu e outros tivemos nesses anos”.

Em tempo: Spacey Jane é uma banda meio “peixe fora d’água” na cena de Perth, conhecida como berço da psicodelia australiana. “Nós trabalhamos com um cara que masterizou os primeiros lançamentos que Tame Impala fez”, conta Caleb, “e várias bandas psicodélicas brasileiras mandavam música para ele masterizar também, então nós sentávamos no estúdio com ele e ficávamos ouvindo um monte de música brasileira psicodélica que ainda nem tinha saído, e era tudo incrível. Nós nos desenvolvemos nesse ambiente, mas éramos a única banda fazendo um som mais indie”.

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