Soltar a Voz: Questão de Talento ou Técnica?
Um dos significados que “arte” tem é “técnica”. Ao longo da história, o termo foi adquirindo novas dimensões, ganhando conotações sobre “expressão” e afins, mas mesmo quando uma obra se propõe a ser o reflexo de algo que não poderia ser comunicado de outra forma, ela precisa de um certo amparo técnico para ser executada. É como sempre falamos, “a arte de fazer alguma coisa” significa a maneira aprimorada de se realizar algo – e isso vale tanto para a música, quanto para qualquer outra linguagem.
A noção da necessidade de se aprender sobre um instrumento para poder tocá-lo não é difícil de compreender. Por maior que seja a aptidão musical de alguém, ele dificilmente fará um bom som na primeira vez que colocar as mãos em um violão, flauta ou bateria. Em compensação, a voz é um instrumento que começa a ser utilizado desde muito cedo, ainda que como brincadeira, o que torna possível que se pense que uma pessoa talentosa poderia, sozinha, dominar sua arte.
“Apesar de ter os que cantam intuitivamente, ter o conhecimento te proporciona explorar mais a voz, acredito”, nos contou Lucas Camporezzi, vocalista da João e os Poetas de Cabelo Solto e da Monndo, “Sem contar que estudar música em geral te abre um mundo de possibilidades, e é muito bom compartilhar essa troca com um bom professor”. Já para o músico Vinicius Castro, o aprendizado técnico foi importante não só para que ele aprendesse novas coisas, mas para corrigir os vícios que tinha. “Eu, antes de estudar canto, ao final de cada show estava com a voz bem gasta e a garganta doendo até depois disso. Não tenho mais esse problema”, afirma o cantor, “É importante estudar pra se preservar, antes de mais nada”.
Quem também comenta sobre as correções que o estudo o proporcionou é Leo Cavalcanti. Ele chegou fazer algumas aulas há algum tempo, parou e percebeu a falta que lhe fazia. “Tinha vontade de usar a minha voz da melhor forma possível, com menos esforço e tensão, mais fluidez e naturalidade”, afirma o músico, que retornou aos estudos há alguns meses. “Estou com mais clareza de meus hábitos, tanto nocivos, quanto bons, e do que preciso fazer ou deixar de fazer para melhorar”, comentou ele sobre o período após ter voltado às aulas.
Mesmo aqueles que decidem apostar mais em sua aptidão para a arte reconhecem os benefícios do aprimoramento técnico. É o caso de Pélico, que fez apenas algumas aulas e seguiu dali sozinho, mas admite que hoje sente falta. “a técnica ajuda a não prejudicar as cordas vocais e ajuda muita na respiração”, afirmou ele, ”consequentemente, você terá um canto mais bonito”.
Uma pessoa sem a menor aptidão pode vir a aprender um modo de cantar e pode até executar seu vocal bem, mas dificilmente conseguirá atingir o nível de quem une seu talento natural ao aprimoramento dado pelo estudo e pela prática. Como Pélico nos disse, “a técnica deve ser usada a favor da intuição”, e não ao contrário.
Se você percebe que tem essa aptidão e deseja lapidar seu talento, pode se espelhar nesses e em tantos outros bons músicos e procurar um dos muitos cursos no Brasil sobre técnicas vocais, isso sem deixar de praticar e observar bons vocalistas em ação. Assim como um pianista treina diariamente para se aprimorar, você deve fazer o mesmo com o instrumento que já nasceu dentro de você. E lembre-se: Uma pessoa que canta corretamente mesmo sem ter uma boa voz está sempre muito à frente de alguém talentoso que canta de qualquer jeito.
Particularmente, o excesso de técnica vocal me cansa bastante… Firulas, gemidos, gritos…
Tenho me dedicado a artistas menos virtuosos e mais honestos…
Artistas como Pélico ou Leo Cavalcanti, por exemplo, tem uma poesia simples, franca, que não precisa (e até nega, em alguns casos) de parnasianismos vocálicos!