Sofar+ Secret Festival – Como Foi?

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Daí você é convidado para um evento com várias bandas, DJs, coisa e tal, mas ninguém te conta onde vai ser, muito menos qual será a programação. O que você faz? Nós do Música Pavê e algumas centenas de pessoas decidimos aceitar o convite do Sofar+ Secret Festival e, pode ter certeza, valeu muito a pena.

Foi a primeira vez que o evento aconteceu fora de Londres, lar do Sofar Sounds, uma iniciativa que leva música a diversas cidades do mundo para um público com essa atitude de receber boa arte de surpresa. O local escolhido em São Paulo foi o Centro Cultural Rio Verde, um dos mais charmosos da capital, com seu jeitão de casa de fazenda e um teatro lindinho demais. Uma feirinha vendia alguns quitutes, de pão de mel a sanduíches, e logo na entrada o cheiro era de café com pão de queijo. Não poderia ser mais acolhedor.

A primeira parte do evento aconteceu na área externa, com o coreto do local servindo de palco para shows de até três músicos. O primeiro foi o mineiro Terra das Laranjeiras, que parece uma versão mais roots de um 5 a Seco. Guitarra elétrica, violões e flauta deram o tom das músicas bucólicas que o trio apresentou. Ao final de uma delas, daquelas que deixam um festival inteiro de queixo caído com tamanha beleza, um dos rapazes revelou ser uma composição sua com Luiza Brina e César Lacerda. “Ah, tá explicado”, foi nossa reação. Que belo começo.

Em seguida, após um intervalo curtíssimo, Anna Tréa subiu ao palco com guitarra, pedaleira e atabaque para, sozinha, se virar com os instrumentos e, com muita simpatia, suingue e voz, conquistar a atenção e o coração da pequena multidão em volta do coreto. Bem humorada e carismática, ela impressionou e nos deixou a pensar como seria uma apresentação sua com uma banda inteira – será que esse seria um formato que a deixaria mais solta para explorar mais sua interpretação ou o charme reside no “menos é mais”?

Foi a vez de entrar um dos únicos nomes que conhecíamos de todo o line upBenjamin, que acabou de lançar seu primeiro álbum, ironicamente batizado como Last. Como é de costume, Diego cativou a plateia com sua singeleza na atitude e complexidade na performance do violão com o vocal. Ao final, ninguém se contentou com um número reduzido de músicas e os gritos de “mais um” começaram a surgir, um pedido que ele gentilmente atendeu.

Alana Moraes e Gabriel Selvage surpreenderam com a maestria em suas performances – ela no vocal, ele no violão. Misturando estilos e ritmos, os dois arrancaram olhares de espanto durante as músicas e muitos aplausos após cada uma delas. Um show daqueles de você evitar piscar para não perder nenhum detalhe. Coisa muito fina.

Para encerrar a primeira parte do festival, Antonio Loureiro chegou com seus teclados e acompanhado por um baterista. Juntos, eles faziam um som que parecia sair de uma banda de muitos instrumentistas. Entre instrumentais e cantadas (nas quais Loureiro entregava um vocal que parecia um Ivan Lins mais sujinho, mais psicodélico), covers e originais, foi uma daquelas apresentações que não precisavam acabar nunca.

Mas o evento ainda estava na metade. Agora que a noite já tinha chegado, a ação se deslocou para o teatro, onde a programação começou em altíssimo estilo com Mustache e os Apaches, o nome mais popular de todo o line up. Os cinco músicos fizeram aquilo  que já vimos antes (seja no palco ou no meio da rua), aquela experiência divertidíssima que mistura boa música de todo e qualquer período, letras engraçadas e uma energia pra lá de positiva. Nunca perde a graça.

Logo depois, Sidiel Vieira chegou com mais quatro músicos para nos dar uma grande experiência de jazz. Às vezes, a banda virava trio, depois vinha com formação cheia, mas sempre entregou uma alta qualidade para fã nenhum do gênero colocar defeito. Além disso, foi uma boa variação de clima no meio da programação.

AfroElectro não estava lá pra brincadeira, muito menos pra fazer uma mera apresentação. Quando subiu ao palco, o som virou religião, tamanha era a devoção aos ritmos e batidas, que pareciam chamar entidades de todo canto. Resgatou o axé, o groove, o samba, o jazz, tudo junto e misturado. Eletrizante! O palco estava cheio, recheado de instrumentos diversos, em sua maioria de percussão. O carisma e magnetismo da banda eram impressionantes, sem dúvida dois de seus maiores valores.

Coutto Orchestra chegou de cara pintada e botou o povo pra dançar. In-cen-di-ou. Diferente de outras bandas, porém, inspirou em nós uma dança em que a sensualidade ficava em segundo plano, com tons divertidos, de festa. Mesmo trazendo um som maduro e de altíssima qualidade, foi capaz de fazer todo mundo se soltar e voltar a ser criança! Mistura de forró, maracatu e eletrônico, os tais da Coutto Orchestra foram a banda mais quente da noite. Que show! Nota 10!

Marco Vilane fechou a noite do Sofar com músicas mais “a la barzinho”. Foi ponto fora da curva no festival, diga-se de passagem. Num dia repleto de bandas surpreendentemente boas e diferenciadas em ritmo, batuque e carisma, Marco Vilane mergulhou em suas poesias mais amenas, calmas, reflexivas. Uma coisa mais ‘down’, mais Renato Russo do que o momento pedia. Mas, tá valendo. Foi bom pra respirar.

No fim das contas, o Sofar+ Secret Festival foi uma experiência ótima pra todos nós que aceitamos o convite. Bem organizado, com intervalos rápidos e uma despretensão legal, conseguiu surpreender mesmo quem foi com expectativas altas (o nosso caso). Os artistas eram todos excelentes e se mostravam muito agradecidos pela oportunidade, o que ajudava a romper barreiras entre palco e plateia a cada apresentação.

Que venham mais edições do evento!

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