Sinta o Pulso: Seu Jorge narra suicídios
Sou fã da iminência. Do momento em que o Um deixa d’ele mesmo para ser parte do desconhecido. A virada. O meio-sim para o completo, o certo para o indefinido, é vida ou sobrevivência? A vista difusa não distingue mais nada, não encaixa o que era branco no que pensava ser negro, não sabe também contrariar esta mesma ordem ou voltar para a origem. Tem de muitos tipos a iminência. Tantos que nem sei contar. Tantos que, hoje, vou eleger apenas um: a loucura. Enlouquecer, confundir real com imaginário, ver cortina em ventania, trocar boi por cavalo, brincar com leão achando que é gato. Fingir que é outro, fazer-se de são, enudecer o corpo e a mente no meio da rua, sem pudor, sem favor, sem roupas ou regras; vestido apenas de louco. Fico imaginando a divisa, a sensação que precede perceber-se não são, mas folclórico. De repente perdeu-se o juízo, as faculdades, o controle sináptico, e agora? É o mundo que gira ou é a mente que sente rotacionar as idéias em torno de si?
Chatterton, música de Serge Gainsbourg adaptada por Seu Jorge (e performada junto à Ana Carolina), cita personagens da história que cometeram suicídio para dar fim à sua loucura. Outros, fizeram desta iminência um hábito e permaneceram loucos. Tanto faz, é provável que já estivessem mortos ainda vivos, cansados de tanto pensar. Seja para escrever música, texto, poesia. Seja para (vulgar) cansar-se de muita beleza. Exaustos, envenenaram-se de insanidade. Interessante a história do poeta que dá nome à música, Chatterton. Menino esquisito desde pequeno, até que sua mãe o ensinou a ler. Viciou nos livros e virou poeta. Aos 11, já tinha seus poemas publicados no jornal inglês Bristol. Porém, pasme, o fez sob o pseudônimo de um monge de nome Thomas Rowley, sem nunca assumir sua identidade. Ora, já não é isso o tal suicídio? Teve lá seu reconhecimento, embora com um nome fictício. Porém, seu talento não foi suficiente para sustentá-lo. Envenenou-se aos 17 anos de idade. Foi um homem novo, incompreendido, louco.
A música fala da iminência. “Chatterton, suicidou. Kurt Cobain, suicidou. Vargas, suicidou. Nietzsche, enlouqueceu. E eu! Não vou nada bem”. Logo aí, percebeu: sou o próximo. Me fascinam os loucos. Pelo menos não se deixam ser lineares, são loucos e pronto.
Chatterton, por Seu Jorge a Ana Carolina:
Seu Jorge, muito mais louco, canta a mesma música em Paris:
A música original:
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