$hanel – Prova Concreta da Solidez Independente

$hanel assinando o contrato com o “consórcio”

Agora em 2014, completo seis anos de trabalho percorrendo, de alguma forma, os bastidores da indústria cultural. Pode não ser muito tempo, mas foi o suficiente pra eu conseguir observar muitos casos diferentes de como bandas e artistas conduzem suas carreiras, desde os que tem o apoio de uma grande empresa (caso das gravadoras majors) até os que trabalham de maneira independente. Das lições que levo comigo depois de tanto ver, conversar e escrever sobre a realidade do mercado musical do nosso tempo é a que ninguém faz nada sozinho. A última história que ouvi e que confirma a ideia é a da cantora $hanel, um nome que provavelmente ouviremos muito daqui pra frente, justamente pela coletividade envolvida em seu trabalho.

Com pouca idade (19 aninhos), Paula $hanel carrega o título de ex-blogueira no currículo, além de ser sócia e garota propaganda da grife de roupas Alternative. Essas credenciais ajudaram para que sua única música divulgada na Internet (Memórias) tivesse quase 100 mil visualizações em poucos meses. Foi aí que chegou a hora de decidir: Ou ela seguiria fazendo música dessa forma quase “improvisada” em meio aos seus outros afazeres, ou se envolveria com profissionais qualificados para desenvolver e concretizar sua carreira dentro da música. Sabiamente, ela escolheu a última opção.

É aí que entra em jogo um trabalho conjunto de três empresas no que os empresários apelidaram de “Consórcio $hanel”: F/Simas (de Felipe Simas, gerente de carreira do cantor Tiago Iorc), Okent (produtora audiovisual do videomaker e fotógrafo Rafael Kent) e Panic! (de Ricardo Panicalli, que tem a banda Cine no portfólio). É o que eles chamam de um “contrato de 360 graus”, já que contempla trabalhos por todos os lados da cantora, que pode trilhar com eles seu caminho dentro da música pop, uma estrada antes percorrida apenas por quem tinha o carimbo de uma grande gravadora nas costas.

o “consórcio $hanel”

E isso não seria possível se, ao longo dos últimos tantos anos, muitos músicos não tivessem trabalhado à exaustão para provar, ao contrário do que prega um senso comum massificado, que música independente não implica nem um pouco em algo feito com qualidade inferior. Isso, ao lado da crise que o mercado fonográfico passou com a popularização do compartilhamento de MP3 pela Web, trouxe também uma nova imagem para os artistas de sucesso, que deixaram de ser celebridades inalcançáveis e passaram a ser vistos mais como profissionais que precisam trabalhar duro para conseguir seu espaço.

Com o amparo dessa equipe de peso, $hanel pode se concentrar em suas composições e performances, deixando o trabalho de marketing, negociação e agendamento de shows, produção de material gráfico e audiovisual e produção musical (de contratação de músicos de apoio a questões logísticas e contratuais de estúdio e pós-produção) para profissionais com mais experiência e qualificação. A ela cabe ainda continuar o trabalho de se manter presente para os fãs – sim, ela já tem vários e uma espiada no Instagram revela a dimensão que isso tem. O primeiro passo foi retirar Memórias do YouTube e voltar ao estúdio para uma nova versão da faixa, que virá com um EP para marcar esse reinício de carreira.

Mais interessante ainda do que um contrato desse tipo envolvendo três empresas (nunca ouvi nada parecido no Brasil) é ver isso acontecendo dentro da música pop. O meio independente costuma ser habitado principalmente pelo que chamamos de alternativo (daí o termo indie), daí o público que curte o gênero ter sempre tão poucas opções, visto que chega nele quase que exclusivamente os artistas das grandes gravadoras. Nesses seis anos observando as dinâmicas do mercado, também comecei a trabalhar com assessoria e estratégias de duas bandas, justamente gente que chegou em mim dizendo que não conseguiria fazer sozinho. É quando vejo situações assim que percebo que aquele papo de algum tempo atrás, de que uma hora o mercado iria se estabilizar de vez depois da crise, está se concretizando agora, sem medo de vestir a camisa independente e de suá-la fazendo seu melhor trabalho.