Sem pressa, Helo Cleaver lança seu primeiro trabalho solo

foto por renata malzoni, colagem por letícia miranda

Tem dias que você só precisa de um abraço. É esse sentimento que proporciona o EP Preguis, primeiro trabalho solo de Helo Cleaver. Com poucos elementos – mas muito bem selecionados -, as músicas trazem sintetizadores e beats eletrônicos no melhor estilo lo-fi. As quatro faixas do EP são um convite para tirar o pé do acelerador, respirar e apreciar as camadas e texturas do som. 

Muito disso é reflexo do próprio processo de produção. Trata-se de um trabalho feito sem pressa e sem a urgência do lançamento imediato, que é tão comum no trabalho de estreia de tantos artistas. Entre indas e vindas dos estúdios caseiros, foram cerca de quatro anos para gravar músicas, sendo que algumas delas já tinham mais de dez anos de idade. A produção ficou por conta de Thiago Barros (Raça).

Helo Cleaver é um nome que circula pela cena independente de São Paulo há um certo tempo. Além dos trabalhos em cima dos palcos comandando as teclas de bandas como Raça e Brvnks, ela também está por trás da Revista Balaclava e é figurinha carimbada no podcast Vamos Falar Sobre Música. Helo conversou com o Música Pavê para mergulhar – sem pressa – em cada uma de suas músicas.

Café com Leite

“Foi a segunda música que eu escrevi na vida e ela diz muito sobre mim. Sou a caçula, então sempre tive esse negócio de ‘ser café com leite’. Eu escrevi essa num dia de chuva na praia com um violão. Quando fomos gravar, eu quis manter essa simplicidade, então o beat e o violão são cíclicos. Eu queria que ela tivesse esse sentimento de calma. Aí foram entrando os outros elementos. Eu gravei eles quando fui passar um tempo no interior. Tem passarinho, água corrente e outras coisas do interior. É isso, sobre estar em casa, sobre estar com meus pais, sobre calma e tentando ter calma no meio de uma pandemia. Como eu gravei pra mim, tudo tem um significado. A grande surpresa é agora as outras pessoas estarem ouvindo”

Carol

“A Carol existe, é a minha melhor amiga. É uma música sobre amizade, escrevi sobre ela. E aí veio a ideia do Tiago de tirar os elementos e deixar ela mais vazia, assim fica tudo mais poderoso. Foi muito legal ver essa possibilidade, pois a gente queria que fosse calma e não tinha a obrigação de ser pop. E no final ela fica um pouco mais agitada. Acho que é uma característica do jeito que eu escrevo, pois as outras também fazem isso no final. Talvez seja a minha preferida, porque fala da minha melhor amiga e parece que eu tô acabando com ela, mas, na verdade é uma carta de amor. 

Cinco da Tarde

Essa foi a que a gente mais brincou com a batida. Eu amo hip-hop, coisas tipo Drake. Então, foi uma experiência e a gente chegou nesse beat que eu achei divertido. Mas, mesmo assim, tem uma coisa mais melancólica. Na verdade, o EP inteiro tem um clima melancólico, então não tem muito como fugir (risos). É uma música que é bem mais abstrata na letra. A minha família vem de uma tradição inglesa, então às cinco da tarde é a hora do chá e tem toda uma simbologia. A gente fez uma coisa no final que foi ir adicionando elementos aos poucos, que era algo que eu queria fazer. 

Filha Única

Ela tem um beat que é um pouco mais popzinho. Veio de um sample de percussão que é meio latino e a gente foi mexendo até ficar do jeito que a gente queria. É uma letra que diz muito sobre mim mas é extremamente dramática, um momento onde eu estava péssima. Então é um drama. Mas teve muita gente que se identificou com o sentimento de não ser filho único e crescer com irmãos, mas mesmo assim sentir uma solidão. Acho que ela funciona muito bem pra finalizar com uma chavezinha de ouro um ep que diz muito sobre exatamente aquilo que a música tá falando que é família, melancolia, solidão. E fecha de um jeito divertido porque assim como “Cinco da Tarde” ela tem uns elementos mais divertidos no final. 

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