Saulo Duarte: de Belém a São Paulo
São Paulo, quatro anos atrás. Saulo Duarte chega à maior cidade do hemisfério sul. A selva de pedras, cinza, rude, forte, lhe bate o peito. A vontade era viver de música, mas esta nova cidade lhe soa como ela é, uma loucura, cheia de amor e ódio para dar. Saulo não pensou, escolheu buscar o amor, somente. O início, como sabemos, foi duro. Mas se deu bem. Saulo veio sozinho, como tantos outros sonhadores, aportou com algumas canções na mente, procurando banda, parceiros e um céu claro. As circunstâncias lhe presentearam com Klaus Sena (baixista e produtor musical). Klaus foi esta pessoa que procuramos quando sozinhos, em meio a uma megacidade, em uma capital para nós enormemente solitária. O novo amigo abraçou a causa desde o início, se envolveu no processo de composição das canções de Saulo, ajudando a organizar ideias, formulando o conceito do futuro disco. Em um segundo momento chegou Beto Gibbs (baterista) e deste convívio, das jam sessions, das novas trocas de ideias e sob o céu agora generoso de São Paulo, Saulo, Klaus e Beto iniciaram o disco que vamos relatar em breve.
Antes. Saulo Duarte nasceu no Pará. Sabendo disto o que nos vêm à mente em relação a sua música? Carimbó, é claro. E é justo penar assim, mas os esteriótipos terminam quando começa o pensar. O Pará está presente em suas músicas assim como Fortaleza, terra onde foi criado, e São Paulo, onde mora atualmente, estão. O que lhe vem à mente agora, leitor? Que tipo de música faria Saulo Duarte? Acho que você está tentando adivinhar. Uma mistura dessas três cidades, sim, mas também de todas as capitais brasileiras e cidades da América do Sul onde ele já tocou. Coloque aí nos pensamentos os romances, as pessoas que ele conheceu, os amigos que fez, as outras bandas da estrada, os parceiros de trabalho, as desilusões amorosas, as alegrias, os sentires, as poesias, o refletir… É muita coisa para se cantar, não? Mas tem muito mais no disco do rapaz. Saulo canta o seu mundo, a poesia do seu entorno, e tudo isso é grande. Como mora atualmente em Sampa e as letras do disco, em sua maioria, foram feitas na cidade, naturalmente os aspectos da megalópolis acabam se acentuando mais. Afinal, São Paulo jamais se deixa passar incólume diante de seu habitantes, jamais. Concordamos, mas nada que tire o caráter plural das canções.
Em seu disco de estreia, Saulo Duarte e a Unidade, que tem produção de Carlos Eduardo Miranda e acaba de ser lançado pela YB Music, Saulo demonstra bem seu lado rítmico multifacetado. Carimbó, guitarrada, brega, suingue, pop, rock e outras influências conversam entre si, formando um trabalho interessante e particularmente original. É bom quando um artista não tem a obrigação de seguir linhas rítmicas, quando sua arte é tão independente que não se faz questão de ser uma banda de rock ou um cantor de MPB ou um grupo disso, daquilo. Bom mesmo é fazer música, seja em que ritmo for. Basta que a poesia do cotidiano esteja lá. É assim que inicio e lhes preparo para ouvir Saulo.
Há várias participações especiais neste primeiro trabalho, começando por Vitor Colares, do Fóssil, nas canções Onze Horas e Não Vale A Pena; também João Eduardo em Nada Pra Depois, Não Vale A Pena e Meu Sonho E Você; Felipe Cazaux em Amor E Otras Cositas Más; Diogo Soares, do Los Porongas, e Daniel Groove em Que Massa, que dividem também a autoria da canção; e Tulipa Ruiz em Onze Horas.
Saulo nos conta que o álbum é uma obra coletiva. “Este disco, acima de tudo, é um disco de equipe, de gueto, de irmãos… Apesar do trabalho levar o meu nome, a minha banda é fixa e somos todos amigos (na vida pessoal) e parceiros nesse projeto. Eu sinto que todas as pessoas que fizeram parte do processo (de produção) deste disco sentem essa energia, de que existe algo muito sólido entre Saulo Duarte, Beto Gibbs (bateria), João Leão (teclados), Klaus Sena (baixo) e Tulio Bias (percussão).”
Sobre lançamento em vídeo, Saulo conta que está gravando o primeiro clipe do disco, da canção Não Vale A Pena, com direção do baiano Eduardo Escariz. Lançará, em breve, o vídeo de outra canção, Onze Horas, e também uma jam session ao vivo do estúdio Cambuci Roots, com algumas canções do disco.
Pois bem. Está aqui, então, para todos nós, Saulo Duarte e a Unidade. Boa audição sob os céus benfazejos de sua cidade.
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(Conheça também mais do trabalho do autor do texto, Dom de Oliveira)