Rita Zart e o Caos Alinhado de “O Que Range”

É sempre interessante notar como a obra comunica o pensamento do artista. Essa análise é feita na ideologia de seu discurso, mas também acontece na maneira com que alguém utiliza a linguagem artística. Uma audição atenta a O Que Range, por exemplo, oferece uma vitrine para o modo com que Rita Zart trabalha a canção.

Veterana do mundo da música, Rita colocou no mundo recentemente esse que é seu primeiro disco, após anos trabalhando com trilhas no cinema. Falando ao Música Pavê, ela conta que esse contexto foi fundamental para que ela entendesse o que poderia fazer em um projeto solo. “O cinema me trouxe muitas possibilidades de narrativas e de relevâncias”, conta a artista gaúcha, “ele me encorajou a também contar uma história. E eu vi que eu tinha o que dizer e também poderia ser relevante”.

Esse processo se deu ao longo dos anos, quando a crescente vontade de desenvolver algo autoral era interrompida pela demanda de trabalho. “Chegou uma hora em que isso se tornou insustentável”, comenta Rita, “me inscrevi para uma residência do projeto Concha (que fomenta a produção musical de mulheres, com apoio do Natura Musical) e decidi que, mesmo se não passasse, me dedicaria a esse trabalho”. Aprovada para a residência, Rita teve contato com artistas “que nunca conheceria pessoalmente” e, mais importante ainda, pôde conhecer mais de sua própria musicalidade – o que teve um impacto direto no disco.

“Foi um processo muito maluco, tudo muito experimental”, conta ela, “eu tinha assinado sozinha só uma trilha, sempre colaborei com outras pessoas. Quando decidi que ia me produzir, compus já cantando e sampleando. As músicas surgiam com melodia no piano, eu já gravava com voz, depois fui fazendo uma produção com samples e beats. Como tenho a facilidade de estar no estúdio, fui gravando e compondo ao mesmo tempo, bem no experimentalismo mesmo”. Depois, ela convidou quem ela chama de “instrumentistas de verdade (risos)” para preencherem as camadas.

E é aí quando voltamos ao assunto de como Rita Zart comunica naturalmente a maneira com que pensa música. Você logo nota como cada sílaba encontra uma nota diferente na composição, e como cada timbre tem seu lugar muito bem definido – e um deles sempre parece “protagonizar” o pequeno filme que ela exibe em cada faixa. É curioso ouvir de sua boca que, por mais organizado que o som final esteja, ele nasceu de uma experimentação movida pela vontade de criar.

“Eu escuto muita coisa e pensei que tinha que me encontrar nesse trabalho, pensar bem o que eu queria fazer”, comenta a artista. “Foi bastante caótico, pensei que nem chegaria até o fim”, revela Rita, que continua: “Gosto de como essas músicas ficaram, mas penso que o próximo será mais sob controle (risos)”.

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