Rey Pila Traz Seus Diversos Encontros para a Música
Há coisas que nascem da colisão de dois elementos, como o vidro na areia atingida por um raio. Ao longo de sua trajetória, a banda mexicana Rey Pila incorpora a música que houve, os lugares por onde passa e, principalmente, as pessoas que encontra para dentro de seu som, seja na mais subjetiva das inspirações ou mesmo ativamente em parcerias para composições, produções e novas turnês.
Foi o caso de seu mais recente álbum, Velox Veritas. Ele dialoga com a discografia do grupo ao trazer suas referências múltiplas em uma produção feita nos Estados Unidos sob a tutela do grande Dave Sitek (TV on the Radio). Foi sobre essas reuniões criativas que Diego Solórzano falou ao Música Pavê através de ligação por vídeo, semanas após o lançamento do disco.
Ao ser perguntado sobre o trabalho com Sitek, Diego comentou que o processo foi desafiador, visto que ele “é uma pessoa de grande inteligência musical”, o que resultou em “um grande aprendizado” para a banda. “Ele é um personagem único, o que é difícil encontrar na música hoje em dia”.
A parceria começou após um amigo ter mostrado a Sitek as demos que Rey Pila tinha trabalhado para o novo álbum. “Ele me ligou e disse: ‘Quero trabalhar com vocês’, foi simples assim”, conta o vocalista, “não acho que já termos trabalhado com The Strokes e Brandon Flowers tenha sido definitivo para ele querer estar conosco. Ele parece ter genuinamente gostado da música”.
O que o quarteto e o produtor têm em comum é o livre passeio por vários estilos musicais, e a maneira com que dialogam seus trabalhos com as inspirações múltiplas – “Tecno, dub e música oitentista” são as que Diego cita como as mais frequentes em sua obra, com referências que vão “de Aphex Twin a The Cars, tudo isso se junta organicamente quando estamos em estúdio”.
Ao ser perguntado sobre o que há de mais mexicano em sua música, Diego reflete que “possivelmente é a conexão muito importante com a morte que há no México, com o Dia dos Mortos. Isso tem a ver com a música gótica dos anos 1980, como The Cure, Depeche Mode, Bauhaus, The Sisters of Mercy… penso que o que há de mais mexicano na música de Rey Pila seja esse fanatismo tão grande com a música dos anos 1980. Morrisey, The Cure e Depeche Mode têm no México possivelmente o lugar com maior vendagem de ingressos no mundo”.
Falando sobre América Latina, o vocalista comenta que, para ele, “a melhor música feita na região é a brasileira, e o melhor do Brasil é Antônio Carlos Jobim e também a Tropicália”. Ele conta ter crescido ouvindo essas músicas, por causa de seu pai, e por isso descreve a experiência de ter tocado no Brasil com uma única palavra: “Saudade”.
“Muita gente diz que se conecta mais com alguns lugares do que outros, e eu sinto que temos uma conexão muito importante com Argentina e Brasil. O Brasil nos recebeu de braços abertos, de uma forma que não esperávamos. E por uma conexão que eu tive na infância com a música brasileira, através do meu pai, chegar a São Paulo e ao Rio de Janeiro e poder ver essa música de perto, com a recepção das pessoas, me impactou para a vida toda”.
Vem destas experiências o som naturalmente múltiplo que Rey Pila promove no estúdio e nos palcos. A tapeçaria costurada pela banda é prova de que esses encontros, ou colisões, que a banda busca têm se mostrado bastante frutíferos para sua produção.
“Para ser completamente honesto, o que mais levamos em conta em nossos parceiros é o fator sentimental, a personalidade de cada um dos músicos que já trabalhamos”, comenta Diego, “seja Robert Smith, Julian Casablancas ou Brandon Flowers, o que mais levamos deles foi uma parte do coração, da emoção, da personalidade. Só em segundo lugar que vem o fator artístico”.
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