Ressignificação + Conexão: Victorino comenta “Reverso”

Gosto da palavra “releitura”, principalmente ao entender que “ler” tem a ver com decodificar, interpretar e dar significado a algo a partir do que temos como base para compreender o mundo (a linguagem, o repertório etc.). “Releitura” é também o nome dado a gravações feitas para músicas já previamente conhecidas, nas quais os artistas colocam suas impressões sobre uma composição, gerando novas possibilidades de interpretação também para o ouvinte.

Não é à toa que tento colocar em palavras um processo que já conhecemos tão bem na hora de contar sobre Reverso, projeto recém-lançado do cantor e produtor Victorino, visto que o EP acompanhado de vídeos nasceu de um processo no qual o músico ressignificou não só as faixas escolhidas para suas releituras, mas também viu suas composições através de uma nova ótica, sendo influenciado em parte pelas músicas que escolheu regravar.

Falando ao Música Pavê, ele conta que a ideia de criar Reverso surgiu enquanto ele refletia sobre o conceito de sustentabilidade (influenciado em parte por Edgar), ao passo que também tentava entender melhor sua própria obra. “Eu estava em um processo muito grande de entender minhas músicas como fechadas nela mesmas, porque elas não eram conectivas quanto as que eu estou fazendo hoje”, comenta Victorino, “comecei a olhar pra elas e senti que elas eram ‘pouco sustentáveis’ – por mais conceituais e poéticas elas fossem na minha cabeça, elas davam pouco material pra quem ouvisse se conectasse com a sua interpretação – com exceção de duas ou três”.

O que é a conexão? A gente se conecta não com o que a pessoa tá dizendo, mas com nossa interpretação do que ela está dizendo. Quanto mais tu afunila o texto, mais dá na cara das pessoas o que você está dizendo, mais se abre a interpretação. E eu achava que era o contrário, que quanto mais aberto, conceitual e imagético, mais teria esse espaço. Por isso que a maioria das canções pop são ‘simples’, porque elas podem ser ressignificadas por vários anos”.

Foi então que ele se voltou para composições que o haviam tocado recentemente, todas de artistas “que estão no aqui e agora, brasileiros da minha idade com os mesmos dilemas que eu” – no caso, Phill Veras, Tuyo e Silva. “O ‘segura na âncora e pula no mar’ é muito específico, mas também muito aberto –  Qual é a sua âncora, qual o seu mar?”, conta ele, “eu trouxe isso para o universo musical, e isso faz parte de eu me deixar levar. A ressignificação está no arranjo, na escolha de timbres, e acho que tá aí o bonito da versão. Não é compor outra coisa em cima, a letra e a melodia já estão ali, mas, no caso do produtor, tu vai ressiginificar sonoramente aquilo a partir do que tu sente”.

Reverso, com duas músicas já lançadas, tem novidades a cada duas semanas. A próxima é Universo, que Silva gravou em Vista pro Mar, reimaginada por Victorino em violão e voz. Depois dela, ele lançará duas faixas autorais também ressignificadas a partir de novos olhares para composições e gravações feitas anteriormente.

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