¡Que Guapo!: Entrevista com David Carabén
As aventuras do ¡Que guapo! pela música catalã sempre buscaram entender um pouco do fenômeno em que se transformou esse produto cultural da província mediterrânea. Certamente uma das conversas mais esclarecedoras a respeito deste momento tão fértil foi a entrevista que fiz ao líder do grupo Mishima, David Carabén.
Carabén me indicou o fato de que não houve transformações apenas do lado de quem faz música, mas também, e talvez até mais, do lado de quem a consome, e o amadurecimento do público vem permitindo a profusão e o desenvolvimento de talentos, de arte, de boa música. Uma dinâmica em que todos saem ganhando.
Música Pavê: Você acredita no atual boom da música catalã?
David Carabén: Acho que os grupos encontraram o seu público. A música cantada em catalão já não tem tanta conotação de instrumento político e se constrói fundamentalmente a partir de uma intencionalidade artística. A princípio criávamos nos apoiando em referências, como no caso de Mishima no rock clássico, e agora encontramos um estilo próprio.
MP: “Há quem considera Mishima o Espírito Santo, após a consagração do Pai (Antònia Font), e o Filho (Manel) veio para completar a Santíssima Trindade do novo pop catalão.” Li esta frase no texto de apresentação de Mishima no website da agência de management Fina Estampa. Vocês se vêem desta maneira?
Carabén: (Risos) A verdade é que, além de compartilharmos o manager, temos a mesma visão do que é a música cantada em catalão. Ou seja, evitamos que isso nos instrumentalize politicamente, o que fazemos é música e cantamos em catalão porque é nosso idioma.
MP: Por que você faz música?
Carabén: Não sei. As canções sempre me emocionaram muito, acho que de uma forma diferente e mais intensa do que aos outros. Sempre concedi às canções um enorme poder de explicar a vida, elas me possibilitam desmontar, me ajudam a compreender. Se algo te fez feliz, pergunte o porquê, e assim será mais fácil enxergar o caminho.
MP: Os videoclipes são importantes?
Carabén: Sim, devem ser feitos. Mas sou muito exigente com eles, por isso temos poucos (Os videoclipes de Mishima são conhecidos por serem autênticas peças cinematográficas temperadas frequentemente pelo estilo hitchcockiano). O “Tot torna a começar”, por exemplo, foi dirigido pelo Lluís Cerveró, alguém em quem confio muito. Nosso objetivo era brincar com as diferentes formas de nascimento da fé, com os mistérios dos milagres.
MP: Você ouve música brasileira?
Carabén: Na minha casa, quando era pequeno, se ouvia muita música brasileira. Hoje em dia não escuto tanto, mas mantenho essa memória. Entendo a bossa nova, por exemplo, como a representação brasileira da revolução cool, quando os sentidos começam a passar por um filtro e as canções surgem mais intelectualizadas.
O encantador David Carabén estará com Mishima na próxima quinta-feira no Festival Pròxims, um evento organizado para celebrar a efervescência da cena musical catalã, onde se apresentarão também Antònia Font, Standstill, Anímic e El Petit de Cal Eril, todos nomes que já passaram pelo ¡Que guapo!. O Música Pavê estará lá e depois contará tudinho pra vocês.
Mishima – Tot Torna A Començar
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