Precisamos Falar Sobre Alicia Keys

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Ao ouvir Here pela enésima vez, após ter passado um fim de semana inteiro em sua companhia, vem a certeza de que precisamos falar sobre Alicia Keys e o que sua figura representa em 2016.

Cantora, compositora, produtora, jurada do programa The Voice – Alicia, aos 35 anos, já acumula 15 prêmios Grammy e um diálogo interessante com o mainstream sem perder, sempre que possível, seu pé na música autoral mais verdadeira, com suas raízes no r&b influenciadas pelo hip hop e o som da Nova York onde e de quando nasceu. Here é sobre isso.

Trata-se de um disco sobre manter-se verdadeira ao que se acredita, ao que se faz e, em primeiro lugar, a quem se é. Ela foi notícia em maio quando divulgou que não usaria mais maquiagem em qualquer ocasião pública – uma verdadeira ousadia para os padrões que uma velha mídia teima em vender e a sociedade insiste em comprar -, e aparece despida de tudo na capa do álbum. É sua pele como é, seu cabelo ao natural e sua beleza em versão orgânica.

O mesmo parece acontecer com a música. Here não maqueia a vida e coloca uma fantasia na vitrine que causa qualquer sentimento de inadequação em quem não vive de forma parecida com o que é oferecido. O vídeo The Gospel, um curtametragem que acompanha o lançamento, esclarece essa mensagem, falando de violência e de aceitação ao mesmo tempo, da complexidade das dificuldades que a vida periférica carrega.

Mais do que um discurso de empoderamento, o disco aproveita a perspectiva de quem conhece o modo de vida que dinheiro e fama constroem na indústria em que Alicia Keys atua há cerca de duas décadas e de quem atingiu um sucesso (seja ele monetário ou artístico) que poucos conseguem. Não se trata de um álbum periférico que o mainstream abraçou, mas de um produto feito ali dentro aos moldes e com o discurso incomum àquela realidade, algo semelhante ao que as irmãs Knowles – Beyoncé e Solange – apresentaram respectivamente em abril e outubro.

Sua estrutura narrativa, com as músicas emendando umas nas outras, deixou os singles (incluindo In Common) para o fim, como se eles viessem como faixas bônus. É como se ela dissesse que quem viesse a Here por elas poderá encontrá-las, mas não são as protagonistas dessa história. E enquanto as músicas narram essa ou aquela trama muito específicas de uma certa realidade urbana e periférica, é trabalhado um conceito maior e de identificação global.

Alicia Keys fala sobre o valor individual que cada pessoa tem em seu conjunto de experiências e contextos culturais, um discurso que ela vem trabalhando na televisão junto aos participantes do reality show com suas palavras e em linguagem não-verbal pelo não uso de maquiagem. Todos têm uma história para contar e a cantora aproveita seu espaço na grande mídia para cumprir seu papel de comunicar em larga escala o que acredita. Melhor ainda, faz isso em uma experiência musical pop sempre interessante e bastante impressionante.

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