Por Trás de “Poetry”, Dehd Reuniu Diversão e Autoconhecimento

Poetry é o quinto álbum do trio estadunidense Dehd, uma obra que, quando comparada aos lançamentos anteriores, parece carregar uma introspecção um pouco maior nas letras e na atmosfera do disco. Isso não foi à toa: Para escrever essas músicas, seus integrantes partiram em uma viagem pelo interior dos EUA, experimentando diferentes cenários e todas as circunstâncias que a estrada traz.

Falando ao Música Pavê, Jason Balla (guitarrista, vocalista e produtor dos álbuns anteriores da banda) conta que “há algo subconsciente, ou espiritual, na intenção de sair do lugar [para compor]. Mesmo em um nível menor, como andar de bicicleta ou dar uma caminhada já me dá novas ideias, me faz sentir mais próximo de mim mesmo”. Sua companheira de banda, a baixista e vocalista Emily Kempf, concorda e afirma que isso tem a ver até com sua movimentação no palco: Nós dois nos mexemos muito e nos movimentaríamos ainda mais se não fossem todos os cabos, que não nos deixam sair voando (risos). Mas, mesmo se você está dirigindo um carro, você está se movendo e a mente vai a outro lugar, e novas ideias vêm voando”.

O processo de composição na estrada tem também a ver com autoconhecimento. “Há uma liberdade diferente, especialmente em turnê, de você estar longe de casa e poder ser qualquer pessoa que você quer ser”, explica Balla, “eu me torno uma pessoa mais fluida e com mais potencial. Espero que o disco permita que os ouvintes entrem ainda mais em suas vidas. Há um senso de participação ativa que cada um tem em sua própria vida, que está no centro de várias das cançõe. Tem a ver com você poder olhar para sua vida com uma visão mais clara”.

“Espero que traga cura”, diz Emily sobre a relação dos ouvintes com Poetry, “sempre quero que as pessoas se identifiquem [com nossas músicas], então tento compor da maneira mais aberta, honesta e vulnerável que posso porque sei que é assim que a cura acontece. Quando você escuta em uma música algo que você já passou e que nunca ouviu ninguém falar a respeito, você se sente mais à vontade como ser humano nessa existência – agora que sei que não estou sozinha. Amo que podemos nos conectar às pessoas pela música”.

“Às vezes, o tornado de emoções na sua cabeça pode te fazer sentir que só você no mundo passa por isso, aí você escuta uma música e entende que esse problema não é tão único assim”, conta Balla, “ou talvez que isso não vai durar para sempre”, complementa a baixista, “eu ouvia muito Cat Power quando eu era mais nova, suas músicas mais tristes. Me fazia bem estar naquela roda de tristeza, cavar minha própria cova (risos)”.

Em Poetry, Dehd teve pela primeira vez alguém de fora na produção – no caso, Ziyad Asrar, da banda Whitney – uma experiência que os músicos contam ter sido bastante produtiva e, além disso, pautada pela nova amizade com o produtor. “Nunca demos tanta risada no estúdio antes”, revela Balla.

“As pessoas se esquecem, principalmente no indie rock, onde se corre muito atrás do vento, que o verbo é play (Nota: em inglês, o mesmo verbo para “tocar” um instrumento é o mesmo de “brincar”, por exemplo)”, comenta o guitarrista, “você tem que brincar, se divertir. É interessante estar no mercado de música há dez anos, em uma cena DIY, e já ter sobrevivido a muitas ondas de tendências e modas. Nada dura. A música que resiste ao tempo é a feita com o coração”.

“Me identifico com isso”, conta Emily, “quando era mais nova, eu costumava compor o tempo inteiro, era tudo o que eu fazia por gostar de tocar. Depois, eu comecei a só compor na hora que precisava trabalhar em um novo disco. Mas, ultimamente, estou brincando mais com a ideia de só rabiscar algumas linhas, ou dedilhar o baixo com mais frequência, pensando no que eu quero expressar”.

Ainda sobre poder se divertir na música, ele comenta: “Há tantas outras profissões que você pode seguir na vida que são menos estressantes e menos prejudiciais emocionalmente (risos), você tem que amar muito a música. É a única coisa que eu sei fazer”.

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