Passado a Limpo: Ed Sheeran

Era 2005 quando Ed Sheeran deu os primeiros passos rumo à construção de sua carreira. Lançado de forma independente, o EP The Orange Room já carregava a essência do cantor — o notável talento de criar melodias cativantes usando apenas voz e violão. Com quatro faixas, o trabalho entrega uma sonoridade acústica e minimalista. As composições autobiográficas revelam uma honestidade desarmante que o acompanharia por toda a carreira. Ao longo dos anos, Ed seguiu transitando com naturalidade entre o folk, o rap melódico e o pop radiofônico, sempre ancorado na vulnerabilidade que o tornou único.

Seu primeiro álbum de estúdio, + (Plus), lançado em 2011, consolidou a estética acústica e confessional que marcou seu início. Com faixas como The A Team e Lego House, o disco agradou ao público por sua simplicidade e profundidade sentimental, embora tenha sido visto por parte da crítica como um trabalho seguro e repetitivo. Ainda assim, foi um passo importante e preparou o terreno para os voos seguintes.

Lançado em 2014, X (Multiply) marca o amadurecimento artístico de Sheeran e completa 11 anos, neste 2025, como um divisor de águas em sua trajetória. No disco, ele explora com fluidez tanto a delicadeza de baladas como Photograph e Thinking Out Loud quanto a energia de faixas como Sing, Nina e Don’t, que flertam com o R&B e o hip hop. As letras mergulham em temas como amor, frustração e crescimento pessoal, com uma entrega emocional que convida o ouvinte a se reconhecer nas narrativas. A produção, assinada por nomes como Pharrell Williams, Jake Gosling e Rick Rubin, trouxe polimento à sonoridade sem apagar a atmosfera intimista. Não à toa, foi o disco que o projetou definitivamente ao estrelato global.

Três anos depois, em 2017, após uma pausa nas redes sociais que aproveitou para viajar por alguns lugares do mundo, Ed lançou ÷ (Divide) com uma proposta mais vibrante, mas ainda conectada às influências dos álbuns anteriores. O trabalho equilibra faixas dançantes, como Shape of You, com outras de tom mais delicado, como Perfect e Happier, além de incorporar arranjos inspirados na música tradicional irlandesa em canções como Galway Girl e Nancy Mulligan. É uma viagem emocional diversa, mas coesa, que leva o ouvinte a cada uma das atmosferas propostas pelo álbum; é quase como se tivéssemos viajando com Ed pelo mundo descobrindo as fontes de inspiração para esse disco.

A partir daí, o artista seguiu expandindo seu repertório com o No.6 Collaborations Project em 2019, recheado de parcerias com artistas como Justin Bieber, Khalid e Eminem, entre outros. Neste projeto, Sheeran se arrisca em outros gêneros ao lado de nomes do pop e do rap, mantendo a versatilidade já vista em seus trabalhos solo. Com o álbum = (Equals), lançado em 2021, o cantor traz uma carga ainda mais pessoal abordando temas como amor, dores e paternidade com sensibilidade. Em 2023, Ed mergulhou em uma fase ainda mais introspectiva com – (Subtract), produzido por Aaron Dessner (The National), no qual, apesar de tentar retomar a sonoridade acústica de seus primeiros projetos, acaba não sendo tão emocional e crua como antes.

Ao longo de quase duas décadas de carreira, Ed Sheeran construiu uma discografia marcada por altos e baixos, transitando entre o íntimo e o comercial com relativa naturalidade. É um dos poucos artistas que consegue transitar por diversos gêneros, mantendo sua identidade ao mesmo tempo que não tem medo de imergir no experimental. E se alguns de seus álbuns flutuam entre o previsível e o ousado, X (Multiply) representa o ponto em que Sheeran conseguiu alinhar com mais precisão sua essência musical à versatilidade que marcaria seus trabalhos seguintes.

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