“Obrigado por Preguntar”: A Olívia Fez Um Álbum Para Todo Mundo

Quantas bandas você conhece que misturam revolta com o mundo atual, romance e indie rock? Com seu novo álbum, Obrigado por Perguntar, A Olívia faz exatamente isso. Com treze faixas, o trabalho é o segundo disco do grupo, sucessor de Jardineiros de Concreto (2017). 

A nova fase do grupo carrega uma formação diferente do que em sua fundação. Atualmente, é composto por Louis Vidall (vocal e guitarra), Pedro Lauletta (teclado e percussão), Pedro Tiepolo (baixo), Murilo Fedele (bateria) e Marcelo Rosado (guitarra).

Além disso, a banda não se limitou a um gênero musical: Punk, reggae, indie, pop e até o hardcore permeiam o álbum, que é repleto de canções de amor, entre letras poéticas e bem humoradas, com refrões carregados de fúria e inconformismo.

Em conversa com o Música Pavê, A Olívia compartilhou detalhes sobre a nova fase, o processo criativo das composições, a turnê na Argentina e os aprendizados da época da pandemia. 

Música Pavê: Primeiro, eu queria começar falando de Obrigado por Perguntar. Como foi o processo criativo desse álbum? 

Louis: Acho que o processo criativo vem um pouco de ver as músicas que tínhamos — algumas músicas eu fiz em 2017: Insustentável e Boa Tarde. Vimos que precisávamos compor 10 músicas, e usamos como norte a temática global, do dia-a-dia, do trabalho e da sustentabilidade. Foi uma grata surpresa que começaram a surgir canções de amor, que não estavam muito no norte. Isso ajudou a dar o tom do álbum, que é questionador, mas mais para o positivo. Começamos a pré-produção em 2023, que é uma parte importante de todo processo criativo. Não temos estúdio próprio, então íamos para o Porta Maldita, que é o nosso QG, e ficávamos ensaiando com o produtor.

Pedro Tiepolo: Nos outros EPs, tivemos um processo de pré-produção antes de gravar, de ficar ensaiando as músicas e pensar o que seria, mas este foi bem mais intenso. Antes de entrar e gravar qualquer coisa, já tínhamos todas as músicas exatamente como queríamos.

Pedro Lauletta: Nós fazíamos shows e falávamos: “Ah, hoje podemos testar uma música no setlist, ver qual a galera gosta mais”. Às vezes, mudávamos algo do arranjo depois do show, porque pensávamos: “Putz, para tocar isso ao vivo vai ser melhor fazer de tal maneira, talvez mudar uma coisa aqui…”.

MP: Falando em amor, o disco fala muito sobre o amor, e, pelo menos na minha interpretação, com um viés romântico. Como vocês traduzem esse sentimento nas canções? 

Louis: Acho que tem um pouco do amor romântico ali, principalmente em Incêndio em Mim. Aí, temos um amor meio sem esperança, que já é aquele amor romântico, mas é meio: “pô, só quero uma vidinha simples com uma pessoa que gosta de mim”. Tem também um amor um pouco mais jovem do tipo, “vamos ver o que rola”, que está escrito especificamente em Ensaio Aberto. De repente, não rolou nada ali, é uma coisa meio de um papo e ver o que acontece, de ser um ombro amigo e tal, mas às vezes é tão amigo e já que está tão amigo assim, de repente pode ser algo a mais. Não é o romance em si, mas sim, essa ideia de estar vulnerável. Eu acho que o amor nesse álbum tem muito a ver com o amor-próprio também, nessa parada de “Obrigado por Perguntar”, do tipo “olha, eu tô precisando cuidar e ser cuidado também”.

Pedro Tiepolo: Uma das características das letras que eu achei legal e que acho que fez sentido como um todo no álbum, é que apesar de ter uns temas bem diferentes, também tem essa coisa mais pessoal. É para ver como você como pessoa lida com essas questões globais acontecendo a nossa volta.

MP: O álbum possui uma mistura de muitos gêneros musicais. Tem indie, rock, pop, reggae e punk. Como foi essa união de estilos? Vocês já tinham ideia de que queriam fazer isso antes de começar a compor?

Pedro Tiepolo: Com o último EP, Selva Rock Brasileira, achamos o que é a sonoridade d’A Olívia como banda. Parte do som é termos muitas referências diferentes. São cinco pessoas, cada uma com gostos e influências novas. Queríamos trazer isso de algum modo, e criar um álbum diverso. Tanto na parte das letras, que pensamos: “já falamos disso, o que podemos complementar?” e da sonoridade também, do tipo: “beleza, já temos uma música nessa pegada, então vamos fazer algo diferente para a próxima”. 

Louis: Acho que tem um lance legal do teclado também. Desde Jardineiros de Concreto, já tínhamos uma música que flertava com samba. Com a entrada do Pedrão na banda, começamos a falar: “não, então, em vez de ser guitarra aqui, vai ser teclado. Ou em vez de ser o teclado aqui vai ser o baixo”. Então, quando você vai mudando o protagonismo de alguns instrumentos, isso muda a vibe também.

Pedro Lauletta: Como banda, nós fugimos daquele padrão guitarra-baixo-bateria de manter sempre a instrumentação parecida. As composições mesmo, elas não seguem uma fórmula, às vezes uma coisa soa mais latina, mais brasileira, mais rock and roll… Nunca foi “ah não, agora queremos fazer uma coisa assim”, mas sim algo mais natural. 

Pedro Tiepolo: Acho que já foi mais alternativo, esse lance de tentar fazer coisas diferentes. E, agora, estamos com um pensamento mais: “beleza, vamos testar ideias diferentes, mas com um norte. Vamos fazer um álbum pop que seja para todo mundo”. E é o mesmo com o rock. Mas também não é como se fosse uma música sem consistência, sem graça. 

MP: Queria perguntar sobre a faixa Nem Debaixo de Tiro. Para mim, vocês queriam passar uma mensagem de luta e resistência no mundo artístico. Era isso mesmo?

Louis: Era isso, mas eu fiz em um dia que eu tava com a rinite atacada e eu tinha um compromisso ali, um compromisso aqui, e ainda tinha alguma coisa da música também. O fazer artístico estava me travando, e não tinha para onde fugir. Você está zoado de saúde, mas você tem que fazer um corre artístico. Aí, você fala: “Por que eu estou fazendo isso mesmo? Estou todo ferrado, cansado, com dor, podia estar fazendo outra coisa”. Só que aí você não sai. Nem com a sua saúde, nem com as questões do mundo, os boletos, nem com todos os problemas, você fica nesse barco. É o meu barco, não tem como sair.

Pedro Tiepolo: Escolhemos essa faixa para fechar o álbum. Foi uma escolha meio ousada, mas nos queríamos isso, de ser uma porrada no final. Tanto da temática — que é uma coisa voltada para o “beleza, não vamos desistir” — mas também de sonoridade.

Louis: Quase terminamos o álbum com Lugar Comum. Mas não queríamos que a nossa mensagem fosse “ah, lugar comum”, mas sim algo mais tipo: “vai correr atrás daquilo que você quer” .

MP: O primeiro disco de vocês, Jardineiros de Concreto, foi lançado em 2017. Vocês se veem como artistas de maneira diferente do que naquela época?

Louis: Somos diferentes, né? Estamos bem melhores. Quando você começa, você está catando o cavaco ainda. Evoluímos musicalmente, mas gosto de olhar para esse álbum e ver que tinha muita coisa lá que ainda é a nossa essência. Tem muita gente que não gosta do primeiro trabalho, e, às vezes, eu acho que isso até meio brega. É um bom trabalho, eu acho que tem músicas que nós tocamos até hoje — Bartolomeu, Macaco — que estão sempre no show e que vão sempre muito bem. Mas é claro que evoluímos tecnicamente. Mudou a formação da banda também, então muda o sotaque, as intenções, as inspirações…

Pedro Tiepolo: Esse é o primeiro álbum com essa formação. Então, apesar de existirem vários trabalhos antes, agora é que chegamos nessa coisa assim de: “beleza, agora, sim, encontramos a sonoridade e vamos ver o que será daqui para frente”.

MP: Vocês realizaram recentemente uma turnê na Argentina e foi a primeira vez em que vocês tocaram fora do Brasil. Como foi a experiência?

Pedro Lauletta: Eu toco na noite desde que tenho uns 15 anos, então tem mais da metade da minha vida que toco em vários lugares. E uma coisa que me deixou com uma impressão muito positiva de lá é que eles têm um carinho muito grande pela música ao vivo. Nos lugares que tocamos, eles sempre tentavam fazer com que nós nos sentíssemos confortáveis de alguma forma, seja dando água quando quiséssemos, comida… Tinha todo um cuidado que às vezes, infelizmente, ainda não existe em muitos lugares aqui no Brasil. Até um cuidado técnico, no sentido de que todo equipamento estava novo, não precisava ser um negócio top de linha, mas tipo, tinha um amplificador bom, uma bateria boa, tinha o som, nós conseguíamos nos ouvir, conseguia ouvir o público bem, não tinha microfonia.

Louis: É outra cultura. Parece que eles têm uma conexão muito forte com a música e o rock. Na Argentina, nós sentimos isso, que realmente todo mundo gosta muito. Aqui as pessoas apoiam bastante a cena, mas para fazer isso você precisa sair de casa e gastar, então não é tão fácil assim. O rock se tornou menor aqui no Brasil perto do que é lá. 

MP:  Vocês lançaram um EP na pandemia também, Output. Quais as diferenças entre compor nesse período e hoje em dia?

Louis:  Sentimos o poder da importância de passar a energia do show ao vivo para as nossas gravações. Pedrinho entra na pandemia e participa de uma que gravamos meio à distância, meio presencial… E aí, quando saímos da pandemia e começamos a fazer os shows, falamos: “Nossa, show é bom demais, né?”. Então, vamos trazer a energia do show para o EP. Selva Rock Brasileira já vem com essa bagagem. Conseguimos nos soltar mais e também começamos a passar a vibe do ao vivo para o fonograma. Antes da pandemia, isso não era possível, mas, durante, sim. Não era uma coisa que nós nos preocupávamos tanto antes, mas começamos a ver a importância do ao vivo depois.

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