Noporn: “O interessante é a música ser um link”

Artes plásticas, moda, comportamento, poesia, teatro: Noporn é sempre muito, também sendo música. O projeto encabeçado pela artista multimídia Liana Padilha já passou por diversas fases e formações (e até mesmo gerações), sempre encontrando um novo público disposto a entrar na festa poética promovida pelo projeto.

“Noporn é uma coisa muito de pista, mas sempre foi muito melancólico, é quase triste (risos)”, contou Liana ao Música Pavê por telefone, “sempre busco fazer algo sincero que eu goste, que eu entenda e que eu não me envergonhe”. 

Ela conta que o projeto era “quase um carnaval eterno no começo, era muito hedonista”, o que mudou ao longo dos anos à medida que a sociedade se transformou: “Tudo era mais puro, a gente se preocupava menos com política e com os escrotos. Era todo mundo mais cego, não tinha tanta informação e você ficava menos tenso”. Como DJ, ela percebeu como o público desenvolveu o que ela chama de um “desespero por diversão” para aguentar tempos cada vez mais opressores. Foi quando a farra proposta pelo grupo encontrou significados sociais mais amplos, para além da pista de dança.

Foi nesse deslocamento que novos fãs encontram Noporn, principalmente dentro dos grupos LGBTQI+. “Nosso público hoje é muito jovem, a maioria é menino”, explica Liana, “em um leque muito amplo, de 13 a 30 anos. Muitos chegam e falam que nasceram em cidade pequena e se achavam um ET, até que queriam se matar”. Nesse contexto de opressão, seja ela qual for, se colocar como livre para dançar chega a ser um ato político.

“Mas você não pode pensar na diversão só como política, senão fica uma chatice”, conta a artista, “tem que ter prazer e gozo. Eu tinha a ilusão de que as questões que estão vivas hoje não iriam mais existir, conceitos encapsulados como gay ou hétero, esquerda e direita, ou até as fronteiras. Acho que, por medo de mudança, as pessoas estão muito agarradas a esses conceitos, e elas nem sabem porque estão agarradas. Sempre questionei por que sexo é tabu e violência é ok. E cada dia mais é assim. Onde você não fala livremente sobre sexo, você cria perversão, psicotapatas, violência, assédio. Temos que falar claramente sobre as coisas”.

Sobre sua posição de artista nesse meio, Liana revela que “o interessante é a música ser um link e abrir as conversas também em outras plataformas. Ela tem um poder e cura e de poesia bem maior, ela é meio absoluta”. Ao comentar sua alternância entre linguagens artísticas em paralelo ao trabalho musical, ela diz que “se você tem uma poética, a forma de você expressar essa mensagem independe do suporte. Você pode desenhar, dançar, fazer muitas cosas com isso”.

“Noporn pra mim é um livro, cada disco conta uma historinha”, explica Liana, “o primeiro é completamente puro e amoroso, [sobre] coisas que eu escrevia desde a adolescência. O segundo já é uma coisa adulta, de estar solta no mundo. Eu brinco que ele é uma história de amor que tem músicas do começo, outras do tédio do meio e, no final, tem uma música sobre violência. Talvez o próximo seja uma coisa da rua, mas não tenho nada fechado. A gente já tem três músicas que são arquétipos femininos do norte do Brasil. Acho que [o disco] tem a ver essa coisa da mulher mesmo, a gente fala muito da coisa feminina, do empoderamento, e tem um homem correspondente a essa mulher. Meu medo é virar uma coisa bruta, é perder o encanto”.

Noporn é uma das atrações do festival MECABrennand, que acontece no dia 14 de setembro no Recife. A programação musical inclui, entre outros, Tulipa Ruiz, Mombojó e Romero Ferro, além dos recém-anunciados Sofia Freire e a DJ Nadejda. Os ingressos estão à venda.

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