Nobat Mergulha na Música Brasileira em Busca de “Tropicalidade Alegre”

A indignação ao ver a cultura brasileira sendo negada foi o combustível para o nascimento de Mestiço, o quarto álbum do cantor e compositor mineiro Nobat. Recheado de referências a grandes obras da música brasileira, incluindo até mesmo uma parceria inédita com Elza Soares, o álbum é um prato cheio para quem gosta de celebrar a brasilidade e está buscando esperança em dias melhores.

Apesar de buscar referenciar a música tupiniquim do passado, Nobat desenvolve uma música atual com sua mistura própria de ritmos que incluem o Samba, Baião e Maracatu.

A busca pela força da ancestralidade musical

Mais do que uma carta de amor à música brasileira, o álbum nasce a partir de um propósito muito nobre. Em entrevista ao Música Pavê, o artista explicou sua convicção de que abraçar a diversidade que deu origem ao povo brasileiro é uma forma de unir as pessoas para melhorar o país, sendo a música um instrumento para promover essa união: “Foi a forma que encontrei de salvar o Brasil que amo e que está sob o ataque total de uma ala conservadora e intolerante no país. Um Brasil que bota fé na sua ancestralidade e assim é forte e gigante”.

A própria capa do disco também foi outro artifício usado para valorizar as raízes do país. Inspirada em um quadro do também brasileiro Cândido Portinari, a equipe foi até a cidade histórica de Sabará(MG) para uma sessão com o fotógrafo baiano Felipe Palma. “A capa queria transmitir um pouco desse mistério do Mestiço, que você não consegue identificar muito bem o que é, e desse lado tropical que neste momento não está sorrindo. A cara está um pouco mais séria por isso: Nossa tropicalidade não está alegre e a gente está precisando retomar um pouco dessa alegria, inclusive”. 

As parcerias do fim do mundo

Um aspecto que contribuiu para a diversidade sonora foi a produção, que passou pelas cidades de Belo Horizonte, São Paulo e Rio de Janeiro ao longo de dois anos. Também chama atenção as parcerias com outros artistas que enriquecem o trabalho. Na excelente Aqueles Homens, Nobat faz coro com Mariana Cavanellas (Lamparina, Rosa Neon). Em Fortaleza, o cantor recebe o bloco carnavalesco Então, Brilha!. Já em Beira do Mar, a parceria acontece com sua esposa, Lulis.  

Um dos pontos altos do disco é a faixa Me Deixa Sambar, que além de BNegão, também conta com uma gravação inédita de Elza Soares, uma verdadeira entidade da música Brasileira que nos deixou no começo de 2022. Nobat se diz devoto de toda a discografia da cantora e por isso buscou pela sua produção para propor a parceria, mas, por conta da fila de projetos parados durante a pandemia, a primeira resposta foi negativa. O desfecho da história mudou após Elza se sensibilizar com um texto de Nobat publicado pelo jornal Estado de Minas, no qual A Mulher do Fim do Mundo apareceu no topo da lista dos álbuns da década de 2010. Com isso, a música de Nobat ganhou uma nova chance e desta vez o retorno foi positivo: “Foi um dos dias mais malucos da minha vida receber um ‘sim’ da Elza. Não são muitas vezes na vida que você vai ter algo dessa grandeza”, conta Nobat. 

Apesar de não ter encontrado ela pessoalmente, Nobat diz que seu contato com Elza aconteceu através de um telefonema inesperado: “Era uma quinta-feira, estava bebendo com amigos e, de repente, recebi uma ligação do Rio de Janeiro. Era ela do outro lado da linha me falando que ficou a semana inteira estudando a música e tinha acabado de gravar. Ficamos falando sobre a história do samba, foi surreal”.

Música para jovens de todas as idades

Além da diversidade do povo, de artistas e de ritmos, o disco também aborda a diversidade temporal. A faixa Jovem traz uma mensagem que parece ser direcionada para incentivar uma geração mais nova, mas, segundo o artista, é uma música para jovens de todas as idades: “Caetano é um menino, Tom Zé é um menino e eles, com mais de 80 anos, continuam lançando obras riquíssimas. Esses são meus exemplos”. Assim como Elza Soares, que fez músicas relevantes em pelo menos cinco décadas diferentes, Nobat diz que a passagem do tempo favorece sua arte: “Eu gosto de ficar mais velho. Durante a vida a gente vive vários auges, e agora estou vivendo um deles”. 

Curta mais de Nobat e de outras entrevistas no Música Pavê

Compartilhe!

Shares

Shuffle

Curtiu? Comente!

Comments are closed.

Sobre o site

Feito para quem não se contenta apenas em ouvir a música, mas quer também vê-la, aqui você vai encontrar análises sem preconceitos e com olhar crítico sobre o relacionamento das artes visuais com o mercado fonográfico. Aprenda, informe-se e, principalmente, divirta-se – é pra isso que o Música Pavê existe.