New Radicals: Nostalgia com Gosto de Esperança

Uma grande comoção tomou conta da Web na última semana quando a banda New Radicals anunciou uma breve (e única) reunião para tocar na série de shows que celebraram o início da presidência de Joe Biden nos Estados Unidos. Enquanto os pós-jovens comemoravam a notícia, as novas gerações ficaram um pouco perdidas com tamanha emoção nas redes sociais. Afinal, que banda é essa que quase não é falada e, de repente, é vista como querida por tanta gente?

A história de New Radicals é tão particular quanto é um tanto, digamos, desinteressante, no mesmo anticlímax com que Gregg Alexander e seus companheiros de banda sempre trataram suas atividades. Resumindo: O grupo surgiu em 1998 com o disco Maybe You’ve Been Brainwashed Too e o ultra hit You Get What You Give para, meses depois, às vésperas do lançamento do segundo single e clipe, Someday We’ll Know, o vocalista anunciou em julho de 1999 o fim da banda, alegando que já tinha atingido seus objetivos com este projeto. Fim.

Porém, como acontece com toda banda, sua história não se limita a si mesma. A gravadora seguiu com os planos e lançou Someday We’ll Know – que, por sua vez, também viria a ter um enorme sucesso – e seguiu as próximas duas décadas licenciando as faixas para uso em trilhas sonoras. Muito além disso, os fãs da banda na temporada 1998 e 99 seguiram com a banda em algum cantinho ali do coração pelo significado, ou mesmo pelo mero entretenimento, trazido pelo disco.

Maybe You’ve Been Brainwashed Too trabalha uma musicalidade tão honesta quanto divertida, dialogando o celebrado rock alternativo da época com uma veia pop, ou pop rock, quase nunca bem vista. Timbres familiares e bastante simpáticos que se juntam em harmonias volumosas, nada discretas, que elevavam os sentimentos forçadamente sinceros cantados por Alexander.

Suas letras tão narrativas vinham para ocupar um espaço que talvez fosse um desenvolvimento natural do grunge do começo daquela década com um maior financiamento. São histórias de uma classe média estadunidense entediada com a falta de desafios, o que faz com que esses adolescentes busquem pequenos delitos, uso de drogas e qualquer outra injeção de adrenalina em uma vida suburbana de boletos todos pagos pelos pais.

É essa ingenuidade que, quase que ironicamente, faz com que New Radicals siga tendo um carisma irresistível ainda em 2021. É uma jovialidade que desconhece pandemia, não aprendeu sobre aquecimento global e ainda está míope, ou plenamente cega, para as injustiças sociais. As indagações, confissões e desabafos de Alexander funcionam como um escapismo nostálgico para uma época que parte da população mundial – a mesma parcela onde estão muitos dos ouvintes da banda – ou não vivia, ou não percebia tantos problemas.

A posse de Biden foi sentida por muitos com esse mesmo alívio, o do retorno a uma época em que os problemas eram menos absurdos e até entediantes. Ter New Radicals ali – focando apenas na parte mais positiva de You Get What You Give, excluindo os debochados versos finais -, em uma apresentação ao vivo pela primeira (e dita última) vez em 22 anos foi um exercício de buscar a esperança naquilo que nos é familiar, ou mesmo nostálgico.

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