Não Acredite em Músicos

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“please don’t put your life in the hands

of a rock’n’roll band

who’ll throw it all away”

Bobos somos nós que acreditamos em músicos, tais quais a mocinha apaixonada pelo vilão do filme antes dele ser desmascarado. Ouvimos e cantamos juntos com os olhos fechados, dançamos aqui e ali aquelas canções que chamamos de “nossas” sem se dar conta de que elas não nos pertencem, já que os sussurros que nos conquistam ao pé do (fone de) ouvido jogam charme aqui e ali nos corações alheios.

Engana-se quem pensar que falo de sedução, de amor platônico ou de alguma possessividade fonográfica (dizem que há quem não compartilhe música para não banalizá-la). Conto sobre algo ainda mais grave, que é nossa capacidade ingênua de ouvir nossa própria voz em versos alheios, de reconhecer nossa dor e nossa paz nas palavras de quem canta. Se alguém te convencer que ele ou ela é capaz de te fazer sentir assim, duvide. Com mais ênfase agora: Não acredite.

Comecei a me dar conta disso há uns anos, após ver uma entrevista com Damien Rice (aquele sacana) em que ele comentava justamente isso, sobre o quanto só cantava mentiras. Sim, justo ele, com suas dores tão sinceras ao violão – tudo mentira. Como exemplo, usava aquela música (que ganhou má reputação no Brasil sem justiça, mas com todo o sentido) cujo refrão dizia “I can’t take my eyes off of you”. “É claro que eu consigo parar de olhar pra ela”, explicava ele, mas cantava isso com um aparente coração na mão pela beleza da cena.

Ah, a cena! Gosto como cantores são chamados de “intérpretes”, mesmo nome que atores ganham em peças e filmes. As letras das canções são entoadas em primeira, terceira ou qualquer outra pessoa que represente o personagem do eu-lírico e nós, os bobos, fazemos questão de cair no faz-de-conta. Afinal, meu bem, poesia é ficção.

Que faço eu, então, que dedico tantas horas do meu dia à ficção alheia, submetido a mentiras daquilo que parece ser sobre mim? Pois não cheguei até aqui para te aconselhar a parar de ouvir música. Em pleno 1º de abril, sugiro com a maior das sinceridades: Abrace a fantasia. Mergulhe fundo no faz de conta e, assim que identificar algo parecido com você mesmo, traga à tona esse seu reflexo a fim dele se tornar reflexão – com o perdão do trocadilho.

E se vamos nos impressionar, que não seja por gestos, maneirismos e poses de quem canta, nem mesmo por suas palavras tão familiares, mas que seja pela nossa profunda capacidade de se conectar àquilo que existe ainda que se perca no momento, no ar, no interior.

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