Não À Toa, Royel Otis É o Momento
Royel Maddell e Otis Pavlovic estão em uma longa e alta maré de boas escolhas no que diz respeito à sua banda Royel Otis. Formada em 2021, ela ganhou projeção para muito além da Austrália e fincou seu nome entre as favoritas do meio alternativo ao redor do globo com ajuda de dois fatores: Nostalgia e viralização – além de, é claro, boa música.
Isso porque uma versão da icônica Linger, que The Cranberries lançou em 1993, ganhou atenção em abril quando a dupla se apresentou em um programa de rádio, com onipresença nas redes sociais e elogios da própria banda irlandesa. “Cresci escutando essa música porque era uma das favoritas da minha mãe”, contou Royel ao Música Pavê, “com certeza essa música nos ajudou a chegar em novos públicos, mas nós nunca pensamos que ela fosse viralizar”. “Na verdade, achamos que aconteceria o oposto (risos)”, brinca Otis, “era uma canção muito arriscada de fazer uma versão, porque ela é clássica. Quisemos gravar porque amamos a música, mas corremos o risco de estragá-la”.
O vídeo de Linger fez que muitos ouvidos se voltassem para Royel Otis, que havia lançado dois meses antes eu álbum de estreia, Pratts & Pain. Ao ser perguntada sobre os desafios do estúdio, a dupla comenta que o maior foi conseguir manter a concentração para finalizar a obra. Royel diz que “é preciso saber aproveitar as pausas para resetar sua mente, sair para almoçar e beber alguma coisa” – daí o disco ser batizado com o nome do bar perto de onde gravavam, onde iam todos os dias para relaxar.
Produzido por Dan Carey (que já trabalhou com Foals, Franz Ferdinand e CSS), o álbum apresenta uma energia bastante juvenil ao passear por diferentes vertentes do indie. “Queríamos que ele tivesse uma sonoridade mais crua, não necessariamente com as guitarras, mas na vibe em geral”, explica Otis, daí músicas como Músicas como Velvet e Big Cig terem sido gravadas ao vivo. Royel completa: “Sem sintetizadores fazendo toda uma ambientação. Tentamos ter o menor número de instrumentos possível”.
É fácil notar também um aspecto quase “atemporal” em Royel Otis (e os dois sorriem quando uso essa palavra para falar de sua música). “A ideia é fazer um som como mel, que nunca estraga”, brinca Royel. Para além da estética, a longa duração de Pratts & Pains, que passa dos 45 minutos, é algo que destaca o duo em uma época de lançamentos tão breves.
“Quando eu era moleque, os discos eram todos assim, muito mais longos dos que os de hoje em dia”, comenta Royel, “mas [a longa duração] não foi uma decisão consciente. Queríamos reunir todas essas faixas e assim fizemos. Era para ser ainda maior, acabamos deixando algumas músicas de fora”.
Não à toa, essas escolhas têm trazido um público variado ao som que Royel Otis apresenta, para muito além da geração dos músicos – por exemplo, os millennials que chegaram até eles por Linger . “Às vezes, vemos crianças de sete anos com seus pais no show, e às vezes tem um cara de 70 anos dançando na primeira fila”, conta Otis, “acho muito legal quando ver pessoas mais velhas na plateia”.
“Acho que a música, ao longo da história, sempre acontece em ciclos”, explica Royel, “e acho que tivemos a sorte de ter o timing certo de estar na hora do ciclo das ‘bandas de guitarra’. Não vai durar para sempre”. “Depois, a gente muda”, conclui Otis.
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