MP Seleciona: Vinte Álbuns de 2019

De encontro ao que tanto ouvimos nos últimos anos, que “hoje em dia, ninguém mais ouve um disco inteiro”, observamos artistas e bandas investindo tempo, energia criativa e seus orçamentos em obras que resultam em um impacto proporcional à sua longa duração. Ufa, ainda bem.

Se não fosse assim, não teríamos a possibilidade de mergulhar tão profundamente em mensagens, estéticas e demais propostas que os músicos criaram para mostrar de uma só vez hoje. São narrativas que dão conta de resumir o que é a vida em nossos tempos, como se pensa a música e o que mais gostamos de ouvir.

Das centenas de discos que chegaram até o Música Pavê ao longo do ano, foi montada uma lista de mais de 60 obras – que chamaram nossa atenção pela qualidade de produção, relevância do lançamento e diálogo que elas possuem com os dias de hoje -, e então surgiu a seleção de 20 álbuns de 2019.

Acompanhe o especial 2019 no Música Pavê

Emicida – AmarElo

Salta aos olhos o tanto de ternura e carinho que permeia AmarElo. Emicida, em toda sua generosidade, nos presenteia com uma de suas obras mais lindas. Da escolha do nome ao conteúdo do disco, é possível perceber o quanto esse trabalho é coletivo e acolhedor. Certeiro em suas palavras, Leandro nos lembra que tudo que temos somos nós e a possibilidade de sermos comunidade. AmarElo proporciona o encontro por meio da complexidade da vida, e é aí que o elo nos toma. (Letícia Miranda)

Leia entrevista com Emicida, publicada no Música Pavê em novembro

MC Tha – Rito de Passá

Um dos álbuns deste ano que eu não canso de ouvir! Mc Tha nos entregou um disco sem defeitos e repleto de hits que te fazem dançar, sentir e refletir. Cada faixa, com sua própria personalidade, se entrelaça e nos leva a uma jornada cheia de ritmos brasileiros, amor e poesia. Ela nos entregou um projeto extremamente pessoal e nos dividiu o seu mundo. Rito de Passá é um álbum necessário na playlist de todo brasileiro! (Carolina Reis)

Leia entrevista com MC Tha, publicada no Música Pavê em setembro

O Terno – <atrás/além>

Se Recomeçar de Tim Bernardes entrou na nossa lista de discos que marcaram 2017, <atrás/além> não poderia ficar de fora neste ano. Embora tenha muito do álbum solo do vocalista do trio, não se confunda: esse é um legítimo álbum de O Terno. Cheio de nuances e orquestrações, o grupo expandiu de maneira grandiosa o seu horizonte. Liricamente, <atrás/além> reflete situações e sentimentos que nós, jovens e pós-jovens, vivenciamos todos os dias e, mesmo assim, em muitas vezes não sabemos como lidar. É aquele vazio e a vontade de salvar o mundo, a dualidade tão presente no álbum. Tão presente em nós.  (William Nunes)

Leia entrevista com O Terno, publicada no Música Pavê em abril

Lana Del Rey – Norman Fucking Rockwell

Entre épico e moderno, o sexto disco de Lana Del Rey consegue ser um ótimo resumo do seu trabalho até aqui, ao mesmo tempo que representa um passo adiante para artista enquanto compositora e intérprete de si mesma. Entre o potencial pop de Fuck It I Love You e Doin’ Time (cover de Sublime), surgem momentos longos e intensos como Venice Bitch (e seus 9 minutos) e a derradeira hope is a dangerous thing for a woman like me to have – but i have it, talvez o ponto alto entre as letras confessionais e íntimas que evocam referências de Ella Fitzgerald a Joni Mitchell. Como nunca antes na sua carreira, Lana fala de uma inquietude política, ambiental, generalizada – sem abrir mão da hipnotizante decadência californiana que fez sua voz se destacar ao longo da década. (Nathália Pandeló)

Curta mais de Lana Del Rey no Música Pavê

Saskia – Pq

“Intensidade” define o que a artista gaúcha colocou em seu álbum de estreia. Entre o peso das batidas e das letras, sua interpretação faz com que a audição de faixas como Na Cara, Graça e Pressssa não deixe ninguém sair ileso. É um trabalho tão hipnótico quanto agressivo, uma mistura viciante de cortisol com serotonina. Deslumbra os fãs de rap, cai o queixo do público da eletrônica e arranca aplausos de qualquer apaixonado por música contemporânea. (André Felipe de Medeiros)

Leia entrevista com Saskia, publicada no Música Pavê em novembro

Lizzo – Cuz I Love You

Lizzo já abre seu disco com a faixa que dá nome ao trabalho – e não é qualquer faixa: Cuz I Love You é forte, tem vocal, tem uma letra irreverente e te arrepia! Com uma abertura dessas, a gente já sabe que o caminho será interessante – e é! Com músicas que já tinham sido lançadas mas que só tiveram seu boom nesse ano, como Truth Hurts e a animada Boys, passando por momentos profundos onde a voz de Lizzo é o maior elemento, como em Jerome, até o batidão que é pano de fundo para as rimas da cantora, como em Tempo, sua parceria com Missy Elliott. É um álbum que pode te acompanhar, independente do seu estado de espírito do dia! (Matheus Moreira)

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Djonga – Ladrão

Djonga avisa: “Abram alas ao rei”, ele está chegando para pegar a cena de assalto e falar para os ouvintes se ligarem, que o país que a televisão não mostra é assim. Nesse seu terceiro álbum, intitulado Ladrão, o mineiro ressignifica a palavra do título e informa que, independente do status social, a sociedade da inércia sempre lhe apontará o dedo, acusando-o de ladrão. O disco mostra a evolução do rapper e nos contempla com um rap com camadas que não deixa a simplicidade de lado. (Rômulo Mendes)

Curta mais de Djonga no Música Pavê

Brittany Howard – Jaime

Para fazer um álbum grandioso, é preciso muito mais do que arranjos cheios e movimentados, cada vez mais possíveis e comuns com o avanço tecnológico. É preciso, como Britanny Howard, executar o mínimo intensamente. Jaime é vivo, imponente pela postura, não pela agitação. Para sê-lo, não precisa de muito mais do que a voz, o discurso e a paixão de sua criadora. (João Barreira)

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Elza Soares – Planeta Fome

Depois de dois bem sucedidos álbuns gravados em São Paulo (ambos ícones de 2015 e de 2018 – para não falar da década), Elza retornou ao Rio de Janeiro onde nasceu para desabafar sobre o Brasil que vivemos hoje. Com a sensibilidade que sua voz rouca comunica tão bem, ela reuniu gente do naipe de BaianaSystem e BNegão para criar uma obra grandiosa, brasileira e contemporânea – três adjetivos que sua música carrega há tantas décadas. (André Felipe de Medeiros)

Leia entrevista com Elza Soares, publicada no Música Pavê em novembro

Bruna Mendez – Corpo Possível

Em Corpo Possível, Bruna está no lugar de protagonista de seu trabalho. Da capa aos versos, sua voz ecoa como a de quem diz de si, sem medo. A possibilidade de expressão de um corpo que muda e sente na pele os efeitos das transformações ficam em evidência em Pele de Sal, por exemplo, faixa que conta com a participação do trio curitibano Tuyo. As camadas sonoras se encontram com a voz suave e marcante da cantora em um cenário envolvente e íntimo. (Letícia Miranda)

Leia entrevista com Bruna Mendez, publicada no Música Pavê em outubro

Céu – APKÁ!

Céu abraçou uma estética eletrônica – tão indie quanto pop – em Tropix, mas foi seu novo trabalho que mergulhou de vez na intensidade de timbres e camadas para criar um disco em caps e exclamação desde o título. Sua personalidade, de essência romântica e referências tropicais-glamourosas, segue intacta nesta nova fase, da grandiosidade de Corpocontinente ao hit-indie-popzão-pra-dançar Forçar o Verão, incluindo até mesmo uma parceria com Tropkillaz. Um ponto alto de uma carreira formada apenas por vitórias. (André Felipe de Medeiros)

Leia entrevista com Céu, publicada no Música Pavê de novembro

Carly Rae Jepsen – Dedicated

Se ao longo dos anos, Jepsen se provou uma compositora que arrebata corações com baladas pop embebidas no mais sincero sentimentalismo, em Dedicated ela leva o romance para a pista de dança. Ora intenso e sensual, ora melancólico, o quarto álbum relembra amores antigos (Julien), celebra novas paixões (No Drug Like Me, Now that I Found You) e desemboca em amor próprio (Party for One – uma irmã mais otimista de Dancing on my Own, de Robyn). Os quase 20 produtores poderiam ter transformado o trabalho em uma colagem desconexa, não fosse pela personalidade tão presente de Carly Rae Jepsen. (Nathália Pandeló)

Curta mais de Carly Rae Jepsen no Música Pavê

Solange – When I Get Home

Dona de um dos álbuns mais interessantes dos últimos tempos, Solange não poupou inventividade e dinamismo na hora que apresentar When I Get Home. O disco foi lançado em março e ganhou um filme com temática afrofuturista ambientada em Houston, cidade natal da cantora. As diferentes camadas, das questões raciais as nuances afetivas, o desejo de retorno para casa vai sendo desdobrado lentamente, colocando Solange diante das complexidades da arte. (Letícia Miranda)

Curta mais de Solange no Música Pavê

BaianaSystem – O Futuro Não Demora

Você tem poder para mudar o mundo. Esse é o espírito de O Futuro Não Demora, disco que consolida o nome de BaianaSystem como um dos grandes da última década. A mensagem é clara e bastante objetiva, cheias de referências da cultura brasileira. Dividido em duas partes, Água e Fogo, o grupo mergulhou na ancestralidade e trouxe um discurso que mexe com política e fé (seja qual for a sua). E, apesar de ter um senso de urgência latente, sem dúvida, O Futuro Não Demora ainda vai ressoar muito nos próximos anos. Disco para se ouvir em tempos de resistência. (William Nunes)

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Jair Naves – Rente

Há artistas que se reinventam e aqueles que se redescobrem a cada trabalho. Jair Naves parece estar nesse segundo grupo, visto que cada lançamento seu expande um pouco do universo temático e estético que ele propõe desde sempre. Quando Rente começa a tocar, reconhecemos a melancolia, o olhar crítico e o timbre vocal que queríamos mesmo ouvir, entre respostas pessoais tanto a estímulos externos, quanto a novas descobertas interiores. Intenso e sensível na mesma proporção de seus temas, um álbum excelente como a discografia do músico. (André Felipe de Medeiros)

Leia entrevista com Jair Naves, publicada no Música Pavê em maio

Liniker e os Caramelows – Goela Abaixo

Depois de alcançar um público gigante com Remonta, Liniker e os Caramelows voltou em 2019 com o disco Goela Abaixo. Diferente do que o título traz, ele é um álbum para se ouvir sem pressa, mastigando cada faixa suavemente para sentir cada linha cantada – ou falada, como em Textão. O álbum é guiado pelos diversos timbres de Liniker, que nos direciona pra sentir junto a permissão de se apaixonar, sentir prazer e de se jogar na doçura e dor de um começo de relacionamento. Goela Abaixo é sobre engolir e digerir sentimentos – e nisso Liniker e banda souberam trabalhar bem. (Matheus Moreira)

Leia faixa a faixa de Goela Abaixo, publicado no Música Pavê em março

Tyler, the Creator – IGOR

Tyler radicaliza conceitos próprios, testando limites do pop com texturas ácidas, melodias contagiantes, vozes e letras vulneráveis. As canções são diretas ao ponto e recortadas, como peças radiofônicas impacientes. O resultado é uma obra que soa tão divertida quanto emocionalmente carregada. É um álbum mais subversivo e polarizador que seu antecessor, o também excelente Flower Boy, e que consolida Tyler como um dos artistas mais inovadores e relevantes de sua geração. (João Barreira)

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Clarice Falcão – Tem Conserto

A Clarice que conhecemos há tantos anos apresentava uma personagem – muito divertida – de si mesma, sempre irônica e meticulosamente escrachada. Como diz a comediante Hannah Gadsby, nem sempre fazer piada de si mesma é humildade, às vezes é só humilhação. Tem Conserto é uma resposta da artista ao peso de tantos anos rindo às próprias custas, uma obra que descarta a personagem para apresentar uma persona humanizada que precisa lidar com sua depressão. O bom humor seque presente, como em Mal Pra Saúde e Horizontalmente, mas o que fica de Tem Conserto é a melancolia que pede respeito, ainda que esteja dançando enquanto chora. (André Felipe de Medeiros)

Leia entrevista com Clarice Falcão, publicada no Música Pavê em junho

Billie Eilish – when we fall asleep, where do we go?

Já falamos de Billie Eilish em quase todos nossos especiais desee fim de ano, mas não é à toa. when we fall asleep, where do we go? foi produzido por ela e seu irmão e entregou à nova geração um pop nunca visto. Tão acostumada a ouvir um pop “perfeito”, Billie Eilish usa metáforas e obras visuais assustadoras, pensamentos sombrios e uma sonoridade única. O álbum veio como um banho gelado em uma tarde calorenta no verão – ou seja, necessário, ainda que chocante. (Carolina Reis)

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Boogarins – Sombrou Dúvida

Boogarins é estilo demais. Os caras conseguem suspender o tempo por meio da sua sonoridade. Uma viagem sem embriaguez no corpo. Não é por acaso que a ampliação do trabalho vai além do mercado brasileiro – e chega a ser curioso o sucesso ser mais recorrente no fora do país. Nesse quarto álbum, os goianos não decepcionam: Psicodelia no talo, letras que o ouvinte não se liga nos detalhes na primeira escuta, linhas rítmicas de confundir a cabeça. É necessário ouvi-la muitas vezes para pegar a riqueza da obra. (Rômulo Mendes)

Leia entrevista com Boogarins, publicada no Música Pavê em maio

Acompanhe o especial 2019 no Música Pavê

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