MP Seleciona: Oito Discos de 2018
O mercado enche a boca para falar que vivemos em uma era de singles, não de álbuns, mas as centenas de lançamentos que observamos ao longo do ano comprovam que, se a dinâmica de atenção e audição das pessoas mudou (e, de fato, é outra hoje), o prazer de ouvir uma obra longa segue incomparável.
A equipe Música Pavê votou e elegeu oito álbuns muito significativos de 2018, aqueles que, sempre que ouvirmos no futuro, identificaremos como próprios desse ano, de gente que fez por merecer estar entre os destaques.
Tuyo – Pra Curar
Capaz de criar ambientes íntimos com suas vozes, o trio paranaense dialoga com os instrumentos de forma singular. A identidade de Tuyo não se dá de forma estática, mas em trânsito, sendo assim, seu primeiro disco cheio percorre diferentes caminhos fazendo um folk-pop-orquestral, sem medo de escancarar dores, ou cantar amores. As texturas, ora orgânicas, ora sintéticas, apresentam um trabalho cheio de nuances. Certamente uma das melhores surpresas desse ano. (Letícia Miranda)
Arctic Monkeys –Tranquility Base Hotel & Casino
A discografia do grupo mostra que ele não é de repetir muitas fórmulas entre um disco e outro. Sempre voltou de intervalos com mudanças, e talvez esta seja a mais significativa, já que abre novas perspectivas e possibilidades em relação ao futuro. E, justamente por isso, é a fase mais interessante da banda. O tom espacial, etílico e meio blasé às críticas caiu muito bem para quem não é mais “os meninos de Sheffield”. Ame ou odeie, TBH&C é um divisor de águas. (William Nunes)
Troye Sivan –Bloom
Dentro do mainstreamzão, nenhuma outra obra foi tão significativa em 2018 como Bloom. Reunindo várias características de estilo que percebemos nesses tempos (como todo bom trabalho pop se presta a fazer), o cantor australiano fez por merecer o grande número de vendas do álbum, com faixas dançantes, baladas românticas e diversas confissões que resumem bem experiências que a juventude LGBTQI+ vive no mundo de hoje, da sexualidade às amizades. (André Felipe de Medeiros)
Kali Uchis – Isolation
Um disco pop que vai na contramão do pop, Isolation é a estreia de Kali Uchis. Em cada faixa, o potencial hit divide espaço com experimentações de soul, R&B, jazz, música latina e bossa nova. Uchis desafia gêneros com uma voz ao mesmo tempo potente e discreta. Ao lado de parceiros como Jorja Smith, Tyler, The Creator, Damon Albarn, BADBADNOTGOOD e Thundercat, a artista conseguiu construir um disco coeso cheio de contradições – o que o torna irresistível.
Baco Exu do Blues – Bluesman
Baco deixou claro que Bluesman é um álbum sobre a saúde mental dos negros e que foi feito para fortalecê-los. Não só isso, mas o rapper usa seus versos, rimas, suspiros e punchlines para questionar todas as imagens ruins associada a ele, seus ancestrais e sua cultura. Ele desenvolve sua arte para exaltar tudo aquilo já conquistado pelo seu povo, mas costura histórias pessoais em cada verso que cospe. (Carolina Reis)
Elza Soares – Deus É Mulher
Um novo álbum de Elza Soares não é somente um lançamento: Abre-se uma atmosfera semelhante a uma distopia e cada música ouvida é derradeira, como se fosse a última canção escutada. Não à toa, o trabalho se chama Deus é Mulher – Elza é mesmo uma entidade da música popular brasileira, que, entre muitos feitos, grita a quatro cantos e conscientiza a importância de Exu nas escolas. (Rômulo Mendes)
Duda Beat –Sinto Muito
A ambiguidade do título prepara terreno para uma obra de qualidade múltiplas, às vezes até conflitantes. A persona das músicas é ora desencanada, ora assumidamente carente, entre o “só hoje” e o “para sempre”. Da mesma forma, Sinto Muito é brasileiro e universal, é contemporâneo e, quero crer, atemporal – ainda que fique marcado eternamente como o trabalho que apresentou ao mundo a força que é Duda Beat. (André Felipe de Medeiros)
Florence + The Machine – High as Hope
Sabemos o prazer que é confiar que Florence Welch não entregará um trabalho ruim. Melhor ainda é se deixar ser surpreendido por novas nuances que ela entrega a cada obra – caso de High as Hope. Além de uma ou outra sonoridade diferente de antes (como a ótima South London Forever), há espaço para um novo encontro com a pessoalidade da artista, com sua constante relação íntima estabelecida com quem ouve letras tão pessoais cantadas por uma das melhores vozes desta geração. (André Felipe de Medeiros)
Acompanhe o especial 2018 no Música Pavê