“Mesmo Coração” Mostra Atalhos em Nova Fase

“Atalhos é aquela banda que faz um som mais folk, né?” – até certo tempo atrás, a resposta dessa pergunta seria “sim”. Mas, ao longo do tempo (e de shows e discos), o grupo foi desenvolvendo sua sonoridade até chegar hoje a um lugar bastante diferente, como mostra seu mais recente single Mesmo Coração.

Segundo Gabriel Soares, dois episódios foram decisivos para a estética deste novo momento da banda (que gira em torno dele e de Conrado Passarelli). Primeiro, a saudosa Quarto Negro o chamou para tocar bateria em sua última turnê, o que lhe deu um contato mais intenso com outras formas de se pensar arranjos. O segundo, de ainda maior relevância, foi o contato com o chileno Ives Sepúlveda, da banda The Holydrug Couple.

“Gosto muito do som deles, que tem toda essa dinâmica mais atmosférica, camadas de synths e teclado”, contou o músico ao Música Pavê, “queria trazer isso pro nosso som, e queria trazer nosso som para 2020”. A relação com Ives se estreitou ao ponto da banda convidá-lo para assinar a produção de seu próximo álbum.

“Antes, eu compunha no violão e chamava os outros para o estúdio para fazer os arranjos e, depois, já ia para a gravação. Agora, a gente está tendo todo um trabalho de fazer as composições na guitarra pensando em espaços para synths e teclado”.

Mesmo Coração exemplifica esta nova fase por trazer “esse universo mais onírico de camadas de sons”, como explica Gabriel, “e a questão da gente ir ouvindo as faixas e, a cada audição, surgir uma coisa nova. Primeiro vem as guitarras, depois tem as camadas mais do fundo, sempre tem algo a mais”. Nos instrumentos, o single tem “a bateria mais reta – nos primeiros discos, ela tinha muitas viradas, e agora parece até uma bateria eletrônica -, e o dedilhado na guitarra”, segundo o músico, “e o riff do Conrado em loop ajuda a criar essa coisa nostálgica”.

Já sua letra traz uma homenagem a Belchior – que já havia aparecido no universo lírico de Atalhos no disco Animais Feridos (2017), que encerra com a faixa Onde Está Belchior. O artista, assim como Gabriel, sempre possuiu uma forte conexão com a América Latina – o que explica também a produção do álbum entre Brasil e Chile.

Chamado de A Tentação do Fracasso, o disco tem esse nome por mostrar algo que Atalhos carrega consigo desde sempre: “A obstinação de continuar a fazer música”. Como diz Gabriel, “chegar ao quarto disco sem conseguir ter se estruturado é visto como um fracasso. É muito difícil fazer um som independente do Brasil, mas, ao mesmo tempo, não ter ‘chegado lá’ é bom porque você segue com um objetivo não alcançado, então segue indo atrás dele”.

Curta mais de Atalhos no Música Pavê