Marcelo Segreto É Apenas um Rapaz Latino Americano

Marcelo Segreto é um nome que habita o imaginário de quem acompanha a música independente feita em São Paulo como a voz do grupo Filarmônica de Pasárgada – uma banda que tece comentários interessantes sobre o mundo que vivemos sem perder o bom humor. Que surpresa interessante é ouvir seu primeiro EP solo, América América, e notar que a obra explora uma delicadeza e uma melancolia próprias de um projeto solo, a nível bastante pessoal, sem perder as características com as quais ficou conhecido no grupo.

Isso porque América América chega conceitual, tratando nossa relação com os países e a cultura latina que cerca as fronteiras brasileiras, mas com as quais pouco nos identificamos em nível de nação. Só que isso é trabalhado em um formato de canção mais intimista, às vezes até introspectivo. Após uma primeira faixa que dialoga mais explicitamente com o tema, as duas músicas seguintes se desenrolam em outro aspecto.

“Pensei que seria legal tratar da América Latina de um jeito indireto nessas duas, sem focar nas questões sociais e políticas como na primeira, mas usar uma metáfora de relação amorosa para dizer como a questão do distanciamento é a mesma num relacionamento com a que temos com esses países”, contou Marcelo ao Música Pavê. “Estava trabalhando em um disco de canções de amor, uma pegada diferente da Filarmônica”, explica ele, “a gente estava no meio desse processo quando chegaram essas três músicas. Eu já compus essas faixas do EP pensando nessas questões mais líricas, e o EP acabou ficando com a cara desse disco que a gente vai lançar no ano que vem”.

“O tema da América Latina veio porque compus essas canções a partir de um concurso de fomento cultural, de temática da AL”, explica o cantor e compositor, “o tema já me fascinava – a gente é brasileiro e, por causa da língua, tem uma questão de distanciamento grande, a elite cultural brasileira sempre olhou muito mais para EUA e Europa do que para os latinos, com os quais a gente tem muito mais em comum”. Ele percebe que não está sozinho nesse movimento de estabelecer laços com os países vizinhos: “Acho que questões sócio-políticas têm feito a gente pensar mais sobre isso. Fiz uma live com Marcus Preto, diretor musical do disco, e ele foi citando compositores e artistas brasileiros que tinham essa influência da música latino-americana, e é enorme a quantidade de canções que se ligam a isso. Acho que é uma continuidade, é claro que nunca é o que a gente poderia ser pela proximidade que a gente tem com os países. Se a gente pensar, por exemplo, na Europa, os países têm muito mais intercâmbio cultural do que os da América Latina”.

Além de Marcus Preto, Marcelo esteve acompanhado de Tó Brandileone (5 a Seco) no EP, na posição de produtor. “Nos conhecemos há um tempão, desde que a Filarmônica de Pasárgada e 5 a Seco começaram a tocar juntos em festivais”, comenta o artista, “ele é impressionante na sua musicalidade, um puta músico e intérprete que se aprofundou na produção”. Foi por Tó que ele chegou à argentina Loli Molina, com quem divide os vocais em Tordesilhas. “Como [a faixa] tem esse diálogo, de um verso terminar no começo do outro, eu já compus pensando em duas vozes”, conta Marcelo, “Tó pensou em convidar a Loli e foi maravilhoso, ela é muito amor, muito legal, além de um talento incrível. Foi muito especial gravar com alguém de outro país e outra cultura, ainda mais em uma canção que fala sobre isso. [Belchior, Milton etc.] Tenho conversado muito sobre tentar estabelecer elos com outros artistas da América Latina e, depois da pandemia, fazer esses intercâmbios”.

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