Mano Brown: “Não estou fechado a outras ideias”

foto por pedro dimitrow

Mano Brown é uma figura conhecida por ter muito o que dizer, porta voz de toda uma geração do rap e da população preta de São Paulo. E eis que é criado um lugar onde sua fala não só pode ser acessada diretamente, mas no qual o rapper é colocado também em posição de escuta: Mano a Mano, podcast exclusivo da plataforma Spotify estreado hoje, 26 de agosto.

Em coletiva à imprensa às vésperas do lançamento do primeiro episódio, no qual Brown conversa com Karol Conká, ele conta que toda a ideia surgiu a partir de sugestões de seus amigos, que insistiram que ele criasse um podcast que refletisse o momento que estava vivendo. “Percebi muita gente com problemas mentais no início da pandemia”, disse ele, “fui estudar e ler teologia, arqueologia, filosofia, ciência e diáspora africana. Descobri coisas maravilhosas”. “Toda a filosofia negra, a conscientização da ciência negra é banalizada no brasil, [é preciso] ter um estudo mais profundo a respeito”, comentou também.

Tão inspirado, é natural que ele assuma o mesmo papel de comunicador que sempre exercitou em seus versos com Racionais MCs, agora em um formato novo. Brown conta que precisou sair da zona de conforto “porque não tenho experiência com esse tipo de trabalho. Você vê como é difícil pro jornalista, pro repórter, abordar um convidado para tirar [dele] o que você quer que as pessoas saibam”. “Tenho vivênvia, tenho história e poderia ficar falando de mim, mas não é isso o que eu quero”, explica ele, “tem tantas histórias de pessoas que eu admiro, que eu gostaria de [ouvi-las], e gostaria que os outros ouvissem também”.

É interessante pensar, como público, que nos deparamos com um Mano Brown em diálogo – ou seja, também em posição de escuta – quando vamos ouvir Mano a Mano com a identidade que temos dele em nossa mente, de um cara que, como ele mesmo diz, “por natureza, antes de mais nada, já se posiciona”. “Há temas que não tem como você se acovardar e não falar. Eu tenho meus pensamentos, mas não estou fechado a entendimentos novos”, explica ele.

“Acho que essa guerra filosófica que tá acontecendo no brasil, ideológica, a gente vai ter que conviver com isso, porque são pessoas no nosso próprio território”, conta Brown ao explicar a importância do diálogo, “as pessoas que votam nos partidos de direita estão nas ruas praticando o que eles pensam. Não é sem falar com eles que eles deixam de existir. A gente vai ter que dialogar com eles, não é uma massa que pode ser desprezada, ou desconsiderada”.

“Sou muito contestado também – graças a Deus, a unanimidade é burra. Quem escolhe um lado nunca será neutro. Eu nunca fui neutro, tenho minhas ideias coletivas e as minhas individuais também, porque nem sempre o coletivo concorda. E isso pra mim é inegociável, a minha individualidade eu não troco”, diz ele, “as pessoas não querem se ouvir, estão cansadas das mesmas ideias. [São] as mesmas ideias que fazem as coisas estagnarem. Eu procuro fugir do clichê, pra que as coisas que eu penso não percam a importância”.

“A gente tá sempre em transformação e aprendendo, eu não estou fechado a outras ideias”, comenta.

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