Luísa Sonza: “Sucesso e fracasso são iguais, os dois são impostores”
No encerramento de Escândalo Íntimo, com a faixa Não Sou Demais, Luísa Sonza conclui toda a narrativa do álbum nos versos “não sou demais, mas não sou pouca bosta”. “[Entendi que] o sucesso e o fracasso são a mesma coisa, os dois são impostores”, explica a artista, “o dificil é conseguir construir o amor próprio que a sociedade nos tira o tempo todo”.
Luísa fala a uma sala cheia de membros da imprensa, em uma tarde na qual apresentou trechos do disco e comentou cada uma de suas faixas – as lançadas nesta semana e também as próximas, que virão aos poucos expandindo um pouco mais a experiência do ouvinte com a narrativa proposta – a das muitas fases de uma relação amorosa complicada, ou, conforme a interpretação, de “um relaciomento tóxico comigo mesma”, nas palavras da cantora.
Escândalo Íntimo, conta Luísa, nasceu “diretamente da terapia” e de seus processos de autoconhecimento com tudo o que viveu na época de DOCE 22, de crises de ansiedade a “traumas criados por relacionamentos”. A partir de análises de seus pesadelos, ela entendeu que eles “não eram sobre alguém, eram sobre mim”, já que “os sonhos são projeções de nós mesmos”, “tentei fugir de mim mesma, mas isso é o que me resta”. Foi quando ela decidiu externalizar todas essas suas questões em forma de música – ou melhor, de disco.
“Minha vontade era de fazer um álbum longo”, explica ela, “gosto muito de histórias”. Dividido em quatro blocos, o repertório começa com comentários sobre nossas relações na contemporaneidade (“eu te uso e jogo fora”, como ela explica) e sobre suas vivências na indústria musical (como ela canta em Carnificina). Após um momento de viver acelaredamente em suas relações, a protagonista se apaixona e, de música em música, começa a baixar a guarda e se entregar à paixão.
Romance em Cena, com Marina Sena, é uma das faixas que marcam essa transição para um novo momento da personagem – “ela vai se despindo muito parte por parte, peça por peça, tirando suas amarras aos poucos”, comenta Luísa. Em Sagrado Profano, o casal tem sua primeira briga e o relacionamento começa a ruir. Em Penhasco 2, com uma Demi Lovato cantando em português, ela já vive “o luto do relacionamento”, como conta a artista: “Eu fiz pensando naquela coisa bem dramática [de você estar] no chão olhando para a casa que um dia foi de vocês dois e agora está vazia. É quando você consegue ouvir o ruído do silêncio”.
A última parte é “muito conclusiva, como se você saísse de uma sessão de terapia” na qual a personagem se dá conta de o relacionamento que ela mais precisa se concentrar é o consigo mesma. De volta à conclusão com Não Sou Demais, Luísa explica que a faixa – e o álbum – vieram também como resposta à dualidade moralista de nossa cultura: “Somos muito mais complexos do que [apenas] bons ou ruins”, uma atitude que ela cultivou para responder aos muitos comentários que recebe sobre sua pessoa.
“Já fui cancelada, já fui endeusada, já fui demonizada e hoje eu nem ligo mais pra isso”, conta ela, “as pessoas vão me reduzir a episódios que elas viram, mas a minha vida é muito mais que a vida pública”. Luísa diz ter produzido Escândalo Íntimo como um exercício de expressão artística para si mesma (“estou antes em uma jornada pessoal do que profissional”), não para servir uma indústria que ela chama de “patética”. “Não estou preocupada como o público vai reagir”, diz ela, “prefiro ignorar que o Brasil inteiro está vendo o meu psicológico e, assim, eu sou feliz”.
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