Luê, sobre o Pará: “Ainda somos muitas vezes invisíveis pro resto do país”

foto por azevedo lobo

Luê é uma das vozes da nova geração da música brasileira que melhor representam toda essa cena: Seu trabalho está afinado com a produção contemporânea ao redor do globo sem ignorar – muito pelo contrário – as heranças brasileiras como um todo, e também as específicas do Pará, onde nasceu e cresceu.

E sua terra ganhará na próxima semana, em 09 de abril, uma raíz no Rio de Janeiro, com a primeira edição carioca do já tradicional Festival Se Rasgum, no Circo Voador. Naquela noite, Luê se apresentará com Otto, sendo um dos destaques da programação (veja cartaz abaixo).

Entre os ensaios para o festival e o trabalho no duo BABY, com seu companheiro Mateo Piracés-Ugarte (Francisco el Hombre), a cantora e compositora trocou emails com o Música Pavê sobre todas essas coisas.

Música Pavê: Pra começar, queria trazer aqui o assunto de colaborações, parcerias etc. Você já gravou com muita gente (Giovani Cidreira, Luísa e os Alquimistas, Xaxim…), tem o BABY com Mateo e vai tocar com Otto no festival. O quanto essas somas agregam ao seu trabalho solo, ou mesmo à sua criatividade?

Luê: Eu sempre gostei de fazer essas colaborações com outros artistas porque acho que me acrescenta muito. Digo isso tanto pela parte criativa, aquela coisa de somar ideias e a partir daí surgir uma troca única, quanto pessoalmente e profissionalmente mesmo. Eu sou muito observadora e gosto de ver como as pessoas trabalham, como lidam com suas equipes, com as alegrias e os perrengues sabe? Sempre coloco um pouquinho do que absorvo no trabalho com outros artistas na minha bagagem. Aprendo bastante com isso. 

MP: Antes de mudar de assunto, fiquei curioso: Com quem mais você gostaria de unir forças, mas ainda não teve oportunidade?

Luê: Tô doida pra fazer um feat com a Julia Mestre. Oi, Julia, vamo? (risos)

MP: Sempre lembro da playlist que você fez com referências do seu show, em 2019. Nesses três anos, quais outras referências você colecionou para o seu trabalho?

Luê: Nossa, ta na hora de fazer uma playlist nova! Bom, de lá pra cá, se passaram uns bons anos e muitos artistas surgiram, né? Eu quando gosto de uma música ou artista fico obcecada ouvindo sempre então alguns eu mantive como referência e outros são novos. No geral, quem não sai da minha playlist e influencia meu trabalho direta e indiretamente são: Nathy Peluso, Rosalía, Sevdaliza, The Weeknd, C. Tangana, K4triel, Kali Uchis… Do Brasil, eu adoro Duda Beat, Marina Sena, Juliana Linhares, Rachel Reis, tô curiosa com o Jão e tô apaixonada na Bala Desejo. E os clássicos pra mim, que são ritmos tradicionais e populares da minha terra, como o carimbó, cumbia, zouk, o brega, as aparelhagens e artistas Arraial do Pavulagem, Nilson Chaves, etc.

MP: Aproveitando o Se Rasgum, queria te perguntar: Como você percebe que as pessoas (seja em São Paulo, onde você mora, ou no Rio de Janeiro) entendem a música paraense de hoje? O que te surpreendeu quando você saiu do Pará na maneira, ou no quanto, o Brasil conhece ou desconhece o estado?

Luê: Eu saí do Pará em 2014 e sinto que, naquela época, os holofotes estavam muito voltados pro Norte não só no que diz respeito à música, mas também à culinária, ao povo, à cultura em geral. Parece que as pessoas estavam muito curiosas com tudo o que vinha de lá. Essa curiosidade, eu sinto que ainda existe, mas me entristece sentir que os anos passam e ainda somos muitas vezes invisíveis pro resto do país. Ainda o Norte é confundido com Nordeste, ainda ouço falas ignorantes e preconceituosas. Temos artistas geniais na região Norte que ninguém faz ideia porque ainda é difícil furar bloqueios e conseguir conquistar espaços aqui no Sudeste, onde “tudo acontece”.

MP: Qual significado tem para você poder subir no palco do Circo Voador ao lado de Otto, e também neste 2022?

Luê: Tive a alegria de subir no palco do Circo recentemente agora em 2022 (pela primeira vez depois da pandemia) com a Francisco el Hombre e foi surreal! Dessa vez, tem um significado importante, pois é o Se Rasgum, festival da minha cidade no Rio de Janeiro, trazendo vários artistas do Norte. É sobre aquilo que falei anteriormente sabe? Ocupar esses espaços é fundamental pra nós. E, bom, Otto é um amigo querido com quem já cantei várias vezes e todas elas foram bem marcantes pra mim. Inclusive, esse vai ser nosso reencontro, porque não nos vemos há uns bons anos, desde um pouco antes da pandemia. Estar no Se Rasgum com o Otto num dos melhores palcos do brasil vai ser incrível, to muito animada!

MP: Antes de me despedir, fico curioso para ouvir novidades suas que estão por vir. O que você pode nos adiantar – entre singles, discos ou outras parcerias?

Luê: No momento, eu tô trabalhando bastante no BABY, meu projeto com o Mateo. Temos alguns lançamentos e shows bem importantes vindo aí! Também tô bem concentrada no meu próximo disco, compondo, estudando, pesquisando bastante o que eu quero trazer e falar. Em breve, vou poder trazer mais novidades sobre isso!

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