Lori É Cria da Música Pop e do Teatro

“Atriz porque escolhi, cantora porque sempre fui”. Essa frase contrasta com o talento de Clarissa Celori, que trilha os passos musicais com seu pseudônimo Lori. Explorando e transitando em diferentes espaços, ela tem na música um trabalho concreto e bem executado logo em seu primeiro EP, Vênus em Virgem (2019).

Ao ouvirmos a obra, notamos sua maturidade na abordagem lírica sobre relacionamentos, diferente de tantos outros que tratam do tema através de clichês. Percebemos também como sua identidade musical vai se criando, com influências da estética oitentista aliada a uma boa dose do pop contemporâneo, como Lorde e Lana Del Rey, ou mesmo Stevie Nicks.

Toda a produção e captação desta fase em que Lori se encontra é assinada por Gabriel Nascimento, parceiro na empreitada da artista de longa data. Juntos, os dois conseguiram fazer a melodia transparecer a camada intimista carregada nas letras. “Sei do que posso oferecer nas mãos e lugares certos, espero por eles pra conseguir me desenvolver e me tornar a artista que já sou por dentro”, contou ela ao Música Pavê por email.

Música Pavê: Como você define seu som? Quais sonoridades você explora?

Lori: É pop. Synthpop, eletropop, groovy pop, indie pop, o que você preferir. Falo que “synths and groove” é meu lema e não é à toa. Em Vênus em Virgem, quisemos trazer isso dentro de um som atual e urbano, ao mesmo tempo que nostálgico pelos elementos que já conhecemos (guitarrinhas de Daft Punk e Michael Jackson). O vocal é algo pessoal e muito íntimo. Algo que ainda estou aprendendo a explorar. Gosto de sentir sinestesia nas minhas músicas. Os temas do EP foram meu próprio amadurecimento e processo de auto-descoberta, dentro de análises sombras dores-amores & projeções com que eu tava lidando.

MP: O que te inspira a compor? Quais são suas influências? Algum disco ou artista que é de extrema importância para o seu processo de criação?

Lori: Essa foi a pergunta mais difícil de responder, porque eu ouço muita coisa e muitos discos me marcaram nas diversas fases da minha vida. Vivemos numa época cada vez mais vasta musicalmente, o que é ótimo por nos dar mais espaço e oportunidades de criar. Também acho muito valiosas as coisas que retornam e se recriam, mesclar gêneros e épocas. O clássico e o não explorado. Sou fã de mulheres como Stevie Nicks e Lana Del Rey, e hoje em dia me considero muito cadelinha da Tove Lo e da Dua Lipa (risos). Álbuns como Emotion (Carly Rae Jepsen) e Melodrama (Lorde) foram inspiração pro EP, junto com tantas bandas que descobrimos e adotamos no processo, como Honne, Cannons d Roosevelt.

MP: O teatro tem algum papel nisso? Ele te ajuda seja a compor ou a se expressar?

Lori: Mais do que eu consigo imaginar. Acho que Lori não existiria se eu não tivesse feito a escolha de ser atriz cinco anos atrás. Desde o teatro musical amador, até o que deveria estar sendo meu semestre de  formatura no Wolf Maya. Para além de saber como agir no palco, ser ator é conhecer os seus corpos, os outros, viver outras possibilidades. Eu aprendi de uma maneira até dolorida, a abrir espaço dentro de mim. E isso é libertador. Até como cantora isso vai sempre fazer parte do meu trabalho.

MP: Quais temas você quer abordar em suas músicas?

Lori: Eu sou simples nas minhas palavras, apesar de querer exprimir os sentimentos do mundo. Eu quero falar do que sinto, do que vejo nos meus sonhos, do que quero materializar pra mim. Acredito na música como um tipo de magia, usada tanto para invocar, quanto pra fazer perceber de uma maneira mais bela e sensível o que já existe. O que mais amo nas músicas e artistas que ouço é a capacidade de fechar os olhos e imaginar uma cena, uma sensação, cores e texturas, atmosferas. 

MP: Como foi processo de gravação de seu primeiro EP “Vênus em Virgem”?

Lori: Foi um processo longo e cheio de descobertas. Eu e o Gabriel Nascimento, que produziu o EP, passamos praticamente o ano de 2019 inteiro trabalhando nele e deixando cada faixa amadurecer no seu tempo. Aprendi muita coisa, e tenho muito carinho por esses meses de trabalho. Pude trabalhar também com o Lucas Carrasco, um grande músico e amigo que gravou as guitarras maravilhosas do disco. Ensaiamos em um estúdio aqui em SP, fizemos dois shows: um no goma (Barão) em novembro e outro no Teatro Cacilda Becker (SP) em janeiro. Esse último foi com certeza um dos melhores dias da minha vida.

MP: Você tem alguns versos guardados esperando para um registro cheio em breve, como um álbum?

Lori: Tenho sim. Sempre guardo meu cadernos porque acho divertido e inspirador voltar pra esses lugares, mas… no fim do ano passado, queimei a maioria (risos). Não tem problema porque eu confio no novo e no presente, e é estando vivo nele que se cria. 

MP: O que tem achado de São Paulo e como ela te influenciou?

Lori: Desde a época do ensino médio, quando eu ainda morava em Campinas, queria me mudar pra São Paulo. Quando me mudei em 2017, tive um ano muito difícil. Me sentia desolada e perdida, com medo de não achar meu lugar no mundo. Aos poucos, as coisas foram se ajeitando. Comecei a estudar, trabalhar, conhecer pessoas e fazer amizades. Hoje já são três anos e sinto que aqui tô mudando todos os dias, criando raízes ao mesmo tempo que asas, me construindo e desconstruindo. São Paulo é muito: tem que saber lidar. Saber o que quer, que tá tudo bem, e que mesmo num lugar que não pareça sua “casa”, você vai se reconhecer. Vai conhecer pessoas que vieram de um outro lugar assim como você, e que mesmo com todas as diferenças, elas vão se tornar sua verdadeira casa.

MP: Como você vê Clarissa e Lori?

Lori: Eu como Clarissa, sou uma jovem adulta tentando fazer o possível pra realizar meus objetivos. Digo isso porque sei que não consigo focar 100% numa coisa só, e que sozinha tudo é mais difícil. Então, não quero estar sozinha, e não quero me sacrificar por coisas que não acredito. Sei do que posso oferecer nas mãos e lugares certos, espero por eles pra conseguir me desenvolver e me tornar a artista que já sou por dentro. Como Lori, vejo uma personagem curiosa que quer revelar mistérios, que quer atravessar fronteiras para muito além da mente humana. E que conta não só com a música pra isso, mas com tudo aquilo que uma artista pop oferece no pacote.

MP: Tendo já passado alguns meses desde que o EP saiu, como você o enxerga hoje?

Lori: Vênus em Virgem saiu no fim de outubro. Faz pouco tempo, mas parece que aconteceu tanta coisa desde então, que ele conseguiu se integrar e ressignificar aqui dentro. Hoje eu vejo ele de uma forma ainda mais sincera, justamente pelo distanciamento. Por eu já ser outra pessoa, ter outros sentimentos borbulhando, consigo olhar pras fases da cada música de uma forma mais clara e madura. Eu me cobrei tanto durante o processo desse EP, que demorei pra realmente me sentir orgulhosa dele. E hoje acho que ele deveria estar sendo muito mais ouvido. Ainda dá tempo (risos).

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