Lado A: Karina Buhr
Energia. É essa a palavra que me vem à mente sempre que penso em Karina Buhr. “Energia” como força, como o que faz mover, o que faz acontecer, mas também como o que é produzido, o que é consequência. Assim, o produto de sua arte chega ao ouvinte de maneira que continue sempre em movimento, sempre pronta para continuar causando. Isso vem de todos os lados, seja na parte propriamente musical, lírica ou interpretativa de cada uma de suas canções, sem nunca ser óbvia ou previsível, mesmo na maneira com que é energética.
Seu último disco, Longe de Longe (2011), revela bem isso. A abertura com Carapalavra já pega o ouvinte pela gola da camisa e ordena: “Fica, meu amor” com gritos e guitarras – um convite irrecusável pela qualidade da música e pela força com que ela nos fala. É quase uma ordem. Logo em seguida, ela canta A Pessoa Morre falando de falecimentos por “tanto verbo”, mas com a voz tranquila dessa vez, quase sádica.
Deve ser a maneira que ela traduz aquela mystique feminina em suas canções. Karina tem uma aura misteriosa até quando parece estar abrindo o coração. Talvez pelos tantos anos trabalhando com teatro, esse caráter interpretativo traz uma versatilidade à sua voz em cada faixa do disco que faz com que a gente nem sempre confie nela. Não Me Ame Tanto, ela instrui, “pego tudo, o meu e o seu amor, faço um bolo de amor e jogo fora, ou como e gozo dentro” diz sua poesia enquanto o vocal sorri da nossa ingenuidade.
Não Me Ame Tanto
As músicas são, no geral, curtas – o que reforça a o caráter abrupto de suas mudanças de humor. Quando menos esperamos, ela diz “hoje acordei pra ser romântica”, ou canta no melhor da levada da MPB: “eu já sinto um calor de amor, de amor, quando você chega aqui”, para então nos sugerir: “se aproxime de mim um pouco, mas não tanto a ponde de eu sentir sua falta quando você for embora”. É tão sincero e tão construído com as guitarras contidas que a energia na tensão entre os elementos da música (de menos de dois minutos) entra no ouvinte e é devolvida à Karina em sorrisos inevitáveis.
A força de Guitarristas de Copacabana e Copo de Veneno combina com sua relação com o palco. O teatro a ensinou a se mover naquele espaço limitado, a transformar cada narrativa musical em uma cena, e ela declama a letra de Sem Fazer Ideia como um personagem de fala decorada, quase monótona, dando uma atenção extra às palavras de cada um daqueles versos. Ela sabe ser ouvida.
Acompanhada de uma bela banda e conquistando elogios por onde quer que passe, Karina Buhr tem uma força polivalente, sempre reaproveitada e nunca desperdiçada por qualquer um que ouça suas criações. Muito já foi dito sobre ela, mesmo com apenas dois discos lançados até agora. Sem dúvidas, energia não vai faltar para ela seguir seu caminho por ainda muito tempo – nem para nós a seguirmos onde quer que ela nos leve.
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(Foto da Capa: Diego Ciarlariello)
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