Karol Conká: “Quando você tem uma missão, você tem que resistir”
Karol Conká está “muito empolgada” para seu show no Rock In Rio nesta sexta, 27, que terá participações de Linn da Quebrada e Gloria Groove. A convite da Heineken, o Música Pavê conversou com a cantora após ensaio em São Paulo.
“Eu tô todo dia no meu estúdio montando o show”, comenta a artista, “e toca, e canta, vê o que tira e o que bota… Vou chegar nesse show com meu DJ que sempre me acompanha e uma nova formação de banda. Isso sem contar a Linn e a Gloria, que eu não chamo nem de cereja do bolo, eu chamo do bolo todo. A cereja é o público, que vai dar aquele toque final”.
A escolha das duas – uma transexual e uma drag queen – foi proposital na intenção de fazer sua parte na reparação tão urgente na nossa sociedade separatista. “Em tempos de loucura, a gente tem que usar nossa arte e nossa visibilidade sempre para levar informação”, comenta Karol, “eu acho incrível quando outros influenciadores ou artistas têm a sensatez de fazer isso. O sentido é fazer com que todo mundo se sinta bem no ambiente onde todo mundo vive. Não tem como a gente não aceitar certas coisas – o gay, a trans, a lésbica, a negra e a feminista – que nem afetam nosso dia a dia para o mal”. Sobre a atitude de levá-las consigo para o palco do maior festival do país, ela comenta que “o coletivo é o que enriquece todo um processo artístico ou comportamental”.
Na movimentação para o show, nasceu um single que reúne as três vozes: Alavancô, que sairá ainda nesta semana sob produção de seu parceiro de sembre Boss in Drama. Nesta composição, elas quiseram falar “do quão legal é ser a gente”, conta Karol, “porque tem gente que se assusta. Eu abro a música falando isso, ‘tem gente que se assusta/veste até a carapuça/quando ouve meus versos ácidos/com a fala bruta’. Falo que ‘é difícil ter que aceitar tudo isso’ e ‘quem se assume causa choque nas mentes mal informadas’. A mensagem é “só vem dançar aqui”, porque não tem mal nenhum nisso”.
“A alegria comunica muita coisa”, continua ela, “eu vejo isso na minha trajetória. Em vários lugares que eu cheguei, as pessoas tinham medo da Karol Conká. ‘Ela é feminista, ela é inteligente, ela fala um monte de coisas, que medo dela’. Aí eu começo a conversar e a pessoa vê que eu sou legal (risos). Me dizem ‘você parece uma rocha, você resiste muita coisa’. Mas acho que quando você tem uma missão, você tem que resistir mesmo“. Para quem também quer comunicar seu posicionamento crítico, ela passa a receita: “Senso de humor, sensatez e empatia. Se a gente tiver esse três, a gente consegue levar a informação adiante”.
Essa comunicação direta parece ser um dos maiores pilares na carreira da artista, logo abaixo da produção musical. Poucos minutos em sua presença logo explicam por que: Karol gosta mesmo é de conversar. “O público fala bastante comigo e eu gosto de entender a opinião das pessoas”, conta ela, “a gente se conhece melhor quando as pessoas próximas são sinceras, e elas acabam falando da importância que eu tenho. Muitas vezes, eu não enxergava essa potência que eu sou e, com o tempo, fui entendendo que tenho uma importância. Mas me incomodo de ser colocada num pedestal. Acho esse mundo pop lindo, mas o que é ser diva? É ser acessível ou inacessível? Eu sou acessível, mas esse posto de diva faz que as pessoas acreditem que eu não sou”.
“Gosto de estar nos lugares”, conta Karol, “se for só para cantar uma música com tema tal, eu vou. Porque eu gosto de conversar, de falar, de jogar minhas ideias e me divertir. No final das contas, tudo é diversão para mim. Faço turnês internacionais já tem uns quatro anos, e a gente vê que o pop do Brasil é maravilhoso, mas as informações giram em uma bolha só. Então, é como se a gente tivesse que fazer sempre o mesmo som. Já me pediram pra eu fazer um Tombei novo. Não vou fazer, eu não repito fórmulas se eu posso criar outra. O pop tem essa pluralidade. E o melhor pop é o do Brasil, eu acho (risos)”.
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