Joe Silhueta Comenta “Sobre Saltos y Outras Quedas” Faixa a Faixa

foto por kelton gomes

A banda brasiliense Joe Silhueta verá seu segundo disco, Sobre Saltos y Outras Quedas sair do forno nesta quinta, dia 30. Sem medo de spoilers, o grupo vem ao Música Pavê comentar alguns detalhes de cada uma das onze faixas que compõem a obra, sucessora de Trilhas do Sol (2018).

O álbum foi gravado na virada de 2019 para 2020 e traz produção de Gustavo Halfeld e Jota Dale, e traz participação de Dinho Almeida (Boogarins) em Assoviata. Sobre Saltos y Outras Quedas poderá ser escutado nas plataformas de streaming listadas nesta página.

Todos os comentários do faixa a faixa foram enviados por Guilherme Cobelo, idealizador do projeto.

1. Feirará

“Composição coletiva feita a partir de um riff do Marcelo. A letra foi surgindo tentando acompanhar o riff, o imaginário foi se desenrolando ao sabor das palavras aparentemente sem lógica, da brincadeira com os dias da semana. No fim das contas virou uma música prismática erótico-canábica que mistura rock, forró e balada soul na mesma dentada”

2. Suíte 305

“Começou com uma linha melódica em cima de dois acordes num ritmo ternário, meio bossa/meio jazz, sugerindo uma conversa entre duas pessoas: Uma que tá numas de ir embora de alguma situação limite e outra que dá corda pra essa vontade. Como num filme, a música progride acompanhando esses embaraços e desembaraços sentimentais, desejos de fuga e indecisões. O nome é por causa do quarto de hotel em Goiânia em que estávamos de madrugada quando mostrei essa música pro povo depois do nosso show no Bananada”

3. Naco de Nuca

“Um poema erótico pra ser sussurrado ao pé do ouvido e ao redor do pescoço, pendurado nos lábios. Um rock tropical. No processo de criação dos arranjos, a Gaivota (vocalista) começou a introduzir a música com uma citação livre de Estrela da Manhã, do Manuel Bandeira, que acabou ficando”

4. Cidade Palavra

“Eu tinha a música, os acordes, a melodia e um verso misterioso (‘na cidade a palavra que não se dá’) mas não tinha o resto da letra. Gosto muito da maneira como o Tarso poetiza as coisas que ele inventa de cantar, o modo indireto com que ele trata alguns temas e achei que ele seria o parceiro ideal pra escrever essa. Ele curtiu a proposta e em pouco tempo me mandou a letra”

5. Hoje É Seu Dia

“Essa eu escrevi com minha mãe em mente. Uma canção saudável pra ela respirar fundo e se sentir segura e disposta a fazer do dia o que ela bem entendesse, sem pensar em nada que pudesse trazer preocupações ou dúvidas. Um canto de exaltação à autonomia”

6. Sobressaltos

“Uma sequência de espantos num ritmo vertiginoso. Sombras dançando num incêndio. A consciência de estar passando por uma fase terrível e a certeza de que depois do instante mais denso da noite é que o sol desponta. Psicodelia agreste pesada pra cantar gritando”

7. Assoviata

“Começou com uma sequência estranha de acordes ligados por uma melodia assoviada na Casa Verde em Uberlândia, durante uma turnê. Um lance meio épico espacial. Acabei escrevendo a letra junto com o Tarso, imaginando esse personagem do pássaro-banido que não pertence a lugar nenhum e sonha com um tempo em que as fronteiras deixarão de existir. A velha utopia anarquista. O verdadeiro paraíso terreno. Tivemos a graça de ter gravado ela com o talento do Dinho do Boogarins, nosso amigo de longa data e dono de uma voz aerada lindíssima que por sorte estava de passagem por Brasília durante as gravações”

8. Essa Aranha

“Uma declaração amorosa em clima de axé psicodélico. Escrevi essa letra sentindo muita saudade e muito tesão. Desejo de encontrar e de escancarar o peito, de falar tudo, de ser romântico e brega sem medo”

9. O Amor 

“Surgiu como um samba subvertendo o slogan do governo Bolsonaro: ao invés de ‘Brasil acima de tudo, Deus acima de todos’ ficou ‘O amor acima de tudo, acima de todos’.  O samba acabou descambando prum groove com lampejos e loops eletrônicos. Tem uma breve e diluída citação a I Threw It All Away, do Bob Dylan”

10. Era Uma Trombeta

“Uma valsa tortuosa que me veio após uma sequência de pesadelos. As imagens da letra são as imagens dos sonhos. A referência à mulher incensando o quarto também é literal: graças a Tâmara, eu consegui voltar a dormir tranquilo. Os arranjos foram ainda mais entortados pela mente do Sombrio”

11. Tropicalipse

“Essa letra a princípio tinha uma introdução narrada contando sobre essa caravela em alto mar se aproximando da costa brasileira. As estrofes seriam as alucinações do marinheiro no alto do mastro depois de meses navegando com sol na cabeça. A narrativa seria a história das metamorfoses pelas quais o atual ‘homem de bem’ passou até chegar a ser o que ele é: de navegante à bandeirante, conquistador a colonizador, o invasor e explorador se mantendo impune através dos séculos. Todo o arranjo foi pensado pra ilustrar e criar paisagens e climas pra esse enredo”

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