Imagina Pedro Pastoriz e Adam Evald juntos em turnê

fotos por david hauser

Fazer uma turnê de quinze datas em um país estrangeiro sendo músico independente – se essa frase é de um perrengue incomparável, ela comunica também uma realidade muito prazerosa de ser vivida, ainda mais em boa companhia.

Foi o que aconteceu com o brasileiro Pedro Pastoriz e o sueco Adam Evald, que partiram juntos para uma turnê na Alemanha ao longo de setembro. Lá, os dois somaram seus repertórios para viver uma experiência única (e dar quinze belas noites para os alemães).

Os dois foram gentis e simpáticos (como sempre) para trocar emails contando em primeira mão ao Música Pavê como foi viver essa história.

Música Pavê: Como foi poder dividir o palco um com o outro?

Pedro Pastoriz: Fui pra Alemanha com minha sequência de shows chamada Esse Show É um Teste. A ideia é que cada apresentação seja diferente da outra, com histórias entre as músicas e testes de repertório pro disco novo. E a combinação de eu ter essa busca do teste e tocar com Adam nos fez criar algo novo durante a tour, um show compartilhado, que ele chamou de “show dentro do show”, ou “livro dentro do livro”, como no Lobo da Estepe, de Hermann Hesse. Adoro o trabalho do Adam, ele tem essa força da palavra, consegue contar histórias improvisadas e poder tocar essas músicas do repertório dele foi um barato. Passamos os dias todos juntos, almoçando, viajando, passando som, e nesse tempo a gente criou bastante coisa do momento pra colocar no show. Foi uma coisa bem viva. Nosso senso de humor é parecido, então, embora tenha sido um mega desafio todas as questões logísticas normais de uma turnê, os shows fluíram de um jeito fácil e divertido.

Adam Evald: Para mim, foi a realização de um sonho. Sou muito fã de sua música. Que luxo poder ouvi-lo de graça todos os dias.

MP: Vocês já se conheciam de antes, né? De onde veio a ideia de estarem juntos nessa?

Adam: Já sim! Somos amigos próximos, você pode nos chamar de irmãos brasuecos. A ideia de dividir o palco era um meto ato de humildade. Já fui ao Brasil quatro vezes, e Pedro sempre foi um anfitrião gracioso, fazendo com que minhas estadias fossem espetaculares, me conectando com pessoas ótimas e lugares legais. Agora, era minha vez de dar algo em troca. Já que nós dois estamos com álbuns para serem lançados, e meus bookers europeus tinham uma turnê bem legal planejada para mim, achei que seria uma boa ideia unirmos forças pra promover nossos trabalhos. Nem fazia ideia que nós viríamos a criar juntos durante a turnê.

Pedro: A gente conversa bastante, e uma turnê na Europa tava nos planos. A gente pensa em compor, gravar juntos num futuro próximo. (Quebra a quarta parede e conversa com a câmera, seduzindo contratantes): Espero que a gente continue essa tour com shows pro Brasil, em 2020.

 

MP: O que o som de vocês tem de mais parecido?
Adam: Eu diria que os dois se relacionam ao mesmo tempo completamente e de maneira nenhuma. “De maneira nenhuma” à primeira vista, digamos que em um nível superficial, já que nossos sons são totalmente diferente um do outro. E “completamente”, falando em um nível mais profundo, para aqueles que têm paciência, conhecimento musical e sabedoria. Alguém que pode ouvir que compartilharmos exatamente as mesmas referências musicais. Escutamos as mesmas coisas, de todas as décadas passadas, e é baseado nesse catálogo que escrevemos nossas músicas.

Pedro: Concordo com o Adam, temos as mesmas referências e meios totalmente diferentes. Quando fizemos esse show conjunto, vi que os repertórios se complementam nessa ideia de um show de variedades, meio “eu mordo aqui, ele assopra lá” (risos). Tinha algo de talk show entre as músicas e, nas últimas apresentações, tocamos True Love Will Find You in the End, do Daniel Johnston. O Adam tocou e montou uma banda pro Daniel Johnston quando ele passou por Malmö, e tem histórias legais dele. Histórias que ouvi no show, inclusive.
 
MP: E o quanto o trabalho assim, com outros artistas, enriquece os trabalhos que vocês fazem solo?

Pedro: Com o Adam foi sensacional, até porque essa ideia de muitos shows na sequência entrosa muito, amadurece o trabalho. E curti esse formato dentro do meu Esse Show é um Teste. Sigo a turnê e achei uma boa convidar músicos e bandas locais nas cidades que toco, e é uma coisa nova pra mim. Fiz alguns shows no Rio Grande do Sul agora no início do mês e curti muito esse formato de chegar na cidade pela manhã, ensaiar à tarde com músicos locais e tocar à noite. É intenso e traz um estado interessante de novidade e presença nos shows. Espero que o Adam volte ao Brasil em breve e que a gente possa voltar a tocar, compor, gravar logo mais. Foram ótimos dias.

Adam: Pedro e eu nos conectamos muito bem através da música. Durante o curso da turnê, discutimos e analisamos a performance um do outro. Foi de grande ajuda. Nós dois apontamos nossas forças e nossas fraquezas, e trabalhamos com isso em mente. Mas eu diria que o efeito mais forte que essa colaboração teve não aparece em nossos trabalhos solo, mas na força com que nossas mentes colidem, tendo novas ideias. Começamos três projetos que resultaram dessa parceria, não necessariamente com os nossos nomes de artista solo. Anunciaremos quando estivemos prontos para servir esse nosso cozido.

E posso acrescentar uma coisa? Sei que não é uma pergunta… mas já estou com saudades do Pedro.

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