Green Day: Esquizofrenia Diagnosticada

Desde os anos 90, quando o Pop Punk surgiu nas paradas musicais, o Green Day estava lá, estampando a capa deste novo estilo de Rock que surgia, ao lado de outras bandas também precursoras dessa nova abordagem do punk, como o Blink 182. Muitos anos se passaram (que clichê!) e a banda lançou nesse caminho vários álbuns, e muitos deles se destacaram na mídia e fizeram barulho na cena musical internacional. Recortando a carreira da banda norte-americana com somente três discos, veremos até onde Billie Joe Armstrong, Tré Cool e Mike Dirnt pretendem chegar com suas músicas, ideologias e bruscas transformações (às vezes estranhas), e o que já fizeram com suas canções no passado – um verdadeiro caso de esquizofrenia fonográfica.

Dookie

Dookie está entre os álbuns queridinhos dos amantes do Pop Punk clássico. O disco mostrou internacionalmente quem era o Green Day e que tipo de som eles estavam se propondo a fazer – e nada mais foi do que um sucesso. Inaugurando de certa forma o estilo novo do Punk, o disco vendeu mais 26 milhões de cópias ao redor do mundo e contava com energéticas canções como Basket Case e She. Fãs ortodoxos do punk californiano, hoje com seus trinta e poucos anos, se orgulham de ter o disco guardado em suas prateleiras e mal sabem contar quantas vezes ele foi tocado em festas residenciais que atrapalhavam todos os vizinhos com aquela bagunça que transbordava jovialidade, até a polícia chegar e acabar com a festa, é claro, mas parece que dez anos depois, foi a própria banda que se atrapalhou.

American Idiot

Após o lançamento de três discos entre o Dookie e o American Idiot, o Green Day andou experimentando novas sonoridades, principalmente o uso do violão e a composição de baladas, como no disco Nimrod (1997), mas a escolha do álbum de 2004 para ilustrar o “meio” da carreira da banda tem um motivo especial. A mudança foi algo que sempre acompanhou a banda, mas quase sempre ela tem sido brusca e até assustadora. American Idiot foi lançado em 2004, ano em que a Guerra do Iraque estava no seu auge e o ex-presidente americano George Bush era alvo de todas as críticas possíveis por parte da sociedade internacional. E o que o Green Day fez? Bem, tentou ser punk no sentido literal da coisa, e até conseguiu, gravando um disco com claras críticas ao governo de seu país. Novidade? Nenhuma, não para uma banda punk. O disco recebeu críticas positivas e emplacou vários sucessos como a faixa título e a balada pseudoemo Wake Me Up When September Ends, em que, além da questão política, o movimento emocore estava em voga, e eles flertaram um pouquinho com isto, nada mais plausível para o momento musical. Em comparação com Dookie, o disco foi uma dessas mudanças agressivas que a banda experimentou e que, de certa forma, a forneceu mais uma vez um lugar ao sol da cena musical internacional (até que uma frente fria chegasse).

Uno!

É, a frente fria veio e logo em 2012, ano em que, segundo a profecia Maia, o mundo irá acabar. Mas o Green Day não parece se importar nem um pouco com isso e planejaram para este ano uma trilogia musical, na qual Uno! é a apenas o começo desta nova e arriscada empreitada da banda: vem por aí Dos! E Tré! – esse último, um trocadilho infame com o nome do batuqueiro da “Dia Verde”. Segundo o próprio Billie Joe, os três álbuns são como a ida a uma festa: o primeiro é o famoso “esquenta”, o segundo é a festa em si, e o terceiro será o fim dela, o bagaço em que estamos depois de uma noite de farra, mas esse “esquenta” aí está mais pra “morno”. Sem grandes surpresas, Uno! é um disco que não condiz com a pretensão da banda e tem sabor de bebida barata, pois um “esquenta” que se preze tem que ter pelo menos vodka de qualidade e amigos curtindo de leve a pré-animação. Esse sabor um pouco amargo não se deve à velocidade das canções e seu nível de energia, que de fato tem, mas a questão é: Como se faz um álbum de Pop Punk ou Punk Rock com o pedal de overdrive da guitarra desligado? É o que parece que Billie Joe fez, mas não sabemos se foi por querer, afinal esse é o disco pra começar a trilogia. Quem sabe em Dos! e Tré! o frontman resolva pisar no pedal e ligá-lo no amplificador. É o que esperamos, até pra entendermos até onde o Green Day quer chegar com todas essas camaleônicas mudanças.

Curta mais de Green Day no Música Pavê

Compartilhe!

Shares

Shuffle

Curtiu? Comente!

Comments are closed.

Sobre o site

Feito para quem não se contenta apenas em ouvir a música, mas quer também vê-la, aqui você vai encontrar análises sem preconceitos e com olhar crítico sobre o relacionamento das artes visuais com o mercado fonográfico. Aprenda, informe-se e, principalmente, divirta-se – é pra isso que o Música Pavê existe.