Gabriel Aragão Reflete Sobre Perdas em Primeiro EP Solo

foto por murilo amancio

Após mais de uma década de música com a banda Selvagens à Procura da Lei, Gabriel Aragão está alçando voo em uma carreira solo em paralelo. Com o lançamento do EP ABRECAMINHOS, o músico mostra um outro lado de suas composições. Mais pessoal e contemplativo, Gabriel mantém os pés fincados no rock de alta qualidade que o consolidou na cena, enquanto a cabeça navega por reflexões sobre os tempos atuais. 

Em entrevista ao Música Pavê, o artista conta que na nova etapa, ele pretende mostrar uma parte do seu trabalho que ele sempre quis explorar, mas ainda não tinha sido possível no projeto em grupo: “Eu acho que uma banda no nosso formato, em que é uma dança de quatro protagonistas, da minha parte acaba que fica muita coisa de fora. Não é só o fato de ficar música de fora, mas o fato de ter algo a dizer. Existem certos temas, sejam políticos ou até românticos, que você quer falar, mas não tem um espaço nítido dentro do disco de um grupo”.

Ainda assim, não é possível dissociar o trabalho solo de Gabriel da banda em que está há tanto tempo. Inclusive, o produtor Paul Ralphes, que assinou gravações de Selvagens, é o responsável pela produção de ABRECAMINHOS. A familiaridade da dupla acabou por contribuir para um trabalho com a identidade e as referências de Gabriel. 

O novo projeto também traz a influência da pandemia e do isolamento. Com todas as músicas gravadas durante o período, o resultado foi um pouco mais melancólico. “Quando eu estava fazendo, não percebi isso, mas agora parece óbvio. Com certeza tem relação com o período em que compus”, comenta.

“Eu estava trancado em São Paulo, com muita saudade de Fortaleza e, ao mesmo tempo, tentando produzir coisas novas. Embora tenha falado muito sobre o lado político da pandemia no livro que eu lancei, nesse EP foi mais o lado pessoal”, afirma, se referindo à publicação de O Livro das Impermanências, estreia literária de Gabriel, de 2021.


Um dos destaque do EP é a faixa Toca o Barco, composta após a trágica da morte do jornalista Ricardo Boechat, fazendo referência à frase sempre usada pelo locutor na rádio: “Acabou ganhando um significado maior na pandemia. Todo mundo conhece alguém que foi embora nesse período”.

“Na pandemia, eu também me abri muito para escrever muito com outras pessoas, para além do Selvagens. A primeira parceria foi com Roberta Campos, que acabou se tornando uma amiga”, conta Gabriel. No EP, a composição com a artista é a faixa Se Você Quiser. A canção fala sobre a dificuldade que alguns relacionamentos enfrentaram na pandemia: “Muitos casais que a gente achou que iam passar a vida inteira juntos se separaram nesse período”.

Em Dia Cheio, o artista traz reflexões sobra a própria mortalidade e sobre o valor da família. Pensando em um outro aspecto do isolamento, Gabriel brinca com a ideia de que imaginamos que teríamos muito tempo livre durante esse período e contempla a forma como utilizamos nosso tempo.

A escolha do nome ABRECAMINHOS também carrega significado, já que o lançamento prepara o terreno para o próximo projeto do artista. Ao mesmo tempo em que produzia o EP, Gabriel já trabalhava em seu primeiro álbum solo. “Acabou dando tudo certo, amarrou o conceito do EP e do disco, que deve sair ano que vem”, conta ele, “já está gravado e está muito lindo. Gravei em Portugal, com Marcelo Camelo. Estou indo com calma, mas quero lançar ainda no primeiro semestre do ano que vem”.

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