Fundadoras do WME contam que “é clara a evolução de cinco anos para cá”

Criado em 2017 pelas empresárias Claudia Assef, Monique Dardenne e Fátima Pissarra (CEO da Music2! Mynd), o Women’s Music Event by Music2! (WME) não se resume a um evento para premiação de mulheres que se destacam no mercado da música. É, para além disto, uma plataforma que serve como incentivadora do protagonismo feminino na música, nos negócios e na tecnologia. Nesses cinco anos de existência, o WME já realizou diversas conferências, debates, palestras e workshops, tanto de forma virtual quanto presencial, estimando ter impactado mais de 10 milhões de pessoas ao longo deste caminho.

Em 2019 a plataforma criou um aplicativo que agrega dados de profissionais mulheres que atuam na indústria da música em todo o país – o Banco de Profissionais WME. Através dele, interessados podem buscar por expert de diversas áreas e formar sua equipe de forma equânime mais facilmente.

Mais recentemente, o WME criou o selo IGUAL, que estimula a equidade de gênero em programações e equipes de eventos musicais realizados no Brasil. O selo é dado aos empreendimentos que tenham pelo menos 50% de sua grade artística e de seu grupo de trabalho composto por mulheres, pessoas não-binárias e/ou trans.

Hoje (16 de dezembro), acontece a quinta edição da WME Awards by Music2!, a premiação que visa valorizar as mulheres que se destacam no mercado da música em três frentes: categorias de voto popular, categorias de voto técnico e homenageadas pelo conjunto de sua obra. O evento será transmitido pelo canal TNT, a partir das 20h30.

As criadoras do WME falaram ao Música Pavê sobre as expectativas para a premiação deste ano, sobre o selo IGUAL e os planos futuros.

Música Pavê: Vamos começar pelo selo IGUAL. Como surgiu a ideia de lançá-lo? 

O selo chancela iniciativas da música que tem 50% do seu corpo de trabalhadores ou line up compostos por mulheres. Foi uma forma que achamos de pressionar uma mudança na indústria pela igualdade de gêneros mais rápida e efetiva agora nessa retomada. O selo foi inspirado pela plataforma inglesa Key Change, que tem o mesmo intuito. Com cinco anos de plataforma, dando várias ferramentas para o mercado com nossas iniciativas, nos sentimos seguras de lançar o nosso selo em território nacional. 

Como vocês fazem a análise dos eventos inscritos? O que vocês têm aprendido nesse processo?

Temos uma ficha de inscrição no nosso site, qualquer iniciativa dentro das propostas na ficha pode se inscrever e, tendo todas especificações, a gente aprova o recebimento do selo – isso de iniciativas que já aconteceram. Não aceitamos propostas de projetos que irão acontecer. É necessário inclusive preencher com nome e documento da lista de funcionários do evento.  Estamos no processo de análise nas primeiras propostas e o que temos visto é um esforço muito grande de iniciativas independentes da música em querer fazer parte do movimento e muitas que não esperávamos já fazem esse movimento e tem essa preocupação faz tempo. 

Que impacto vocês imaginam que essa iniciativa pode ter na mudança de composição de line up de eventos?

Não apenas nos line ups, mas queremos atingir o backstage da música. Para receber o selo, além do line up, você precisa ter 50% do seu staff sendo mulheres, aí que está também a mudança. Como esse movimento está acontecendo agora, no final de 2021, queremos impactar mesmo na retomada dos festivais em 2022 e medir os resultados sempre ao final de cada ano. Mas já estamos sentindo o impacto em line ups que estão sendo divulgados, nós estamos fazendo comparativos e cobrando publicamente mudanças. É impossível para nós ver um line up em 2021 e não ter um mínimo de equilíbrio.  Não dá mais para aceitar um line up apenas bonito e impactante, mas sem diversidade de gêneros. A nossa sociedade anda nesse sentido, e isso também precisa ser refletido em iniciativas musicais. 

Queremos conhecer melhor também sobre a premiação. De onde surgem as indicações que servem de base para votação?

Temos um grupo de 450 mulheres do mercado da música distribuídas por todo o Brasil que são as chamadas embaixadoras. São essas mulheres que trabalham no backstage da música que fazem as indicações nas categorias e votam nas vencedoras das categorias de jurí técnico. 

Há intenção da premiação contemplar a produção de diversos lugares do país? São ouvidos representantes de todos os estados para as escolhas das indicadas?

Sim, a cada ano que passa a representatividade nas indicações de outras regiões do país vem aumentando. Isso é reflexo do time de embaixadoras espalhadas por todo o país. 

Pensando no mercado musical de 2016, quando o WME surgiu, em comparação ao cenário de hoje em dia, o que vocês notam que já mudou? E qual a próxima urgência de transformação?

O que mudou é que nós mulheres estamos mais seguras de nossos espaços e capacidades, montamos redes de apoio, criamos oportunidades e o mercado está respondendo para isso – lento, é claro, mas também é clara a evolução de cinco anos para cá. O caminho ainda é longo e está fora no ideal. São muitas mudanças na sociedade como um todo para que a gente consiga realmente sentir que se reflete também na música. Precisamos de mais representantes no congresso por exemplo lutando pela liberdade de nossos corpos, lutando pelas mulheres que são mães-solo, de outras que não querem ser, das mulheres trans e zelo pelas mulheres indígenas.. São muitas, muitas, muitas lutas ainda. Do lado do WME, acreditamos que formação e educação na base é uma das grandes urgências para uma maior transformação. 

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