“Flor de Fogo”: Planta e Raiz Dialoga o Reggae com Todo o Brasil

Flor de Fogo não é um disco qualquer. Nele, Planta e Raiz levou para o estúdio faixas que já havia gravado ao vivo no álbum Planta e Raiz (Ao Vivo em Noronha) (2024) – até então, inéditas. É o processo inverso de quem lança novas músicas para, tempos depois, registrá-las em show.
“Geralmente, grava-se o disco e, depois, o ao vivo, com a galera toda cantando”, contou o vocalista Zeider Pires ao Música Pavê, “mas trazer essas músicas em estúdio, com outra vibe, é como se fosse um deluxe para nossos fãs. E também uma oportunidade de levá-las a outras pessoas, para atingir mais corações”.
Das dez músicas, oito fazem parte do DVD do ano passado, e duas são inéditas – uma dela é Não Chore, lançada em agosto, no anúncio de Flor de Fogo. MC Hariel, que também estava no ao vivo, retorna para Passa a Bola e os filhos de Zeider, Laura e Ziedro, cantam em Lilás e Um Milhão de Dias, respectivamente.
Ainda no embalo do álbum em Noronha, e também do acústico lançado em 2023 (nos 25 anos da banda), Planta e Raiz optou por gravar as novas versões ao vivo, no estúdio. “É muito diferente de quando gravamos só a bateria, depois só a guitarra, e fica todo mundo só olhando o cara gravar”, brinca Zeider, “a energia é da galera tocando, todos na mesma sintonia. Conseguimos expressar melhor a energia que flui quando tá rolando a egrégora da banda, como uma coisa só”.
Essa experiência de décadas na estrada deu a Planta e Raiz também o status de uma das maiores referências do reggae no Brasil. Flor de Fogo, no entanto, comunica que o grupo está muito aberto a dialogar com outras sonoridades. Há algo de bossa nova em Lilás, uma gaita no fim de Rota do Mar e a própria faixa-título traz elementos do maracatu.
“É normal inserirmos alguma influência no que escutamos desde sempre”, conta o vocalista, “quando você vê, já puxou um ingrediente aqui, uma levada rítmica ali. E isso é brasilidade. Nossa música é muito rica, de uma musicalidade muito foda, vasta e instintiva, que vem do talento puro. É o moleque que aprendeu a tocar o cavaquinho no morro do Rio, o que aprendeu a tocar um tambor no Pelourinho, nós aqui que crescemos nas ruas de SP ouvindo de tudo e o reggae que nos pegou. O brasileiro tem essa parada de aprender, de mexer nas paradas sem ler manual (risos)”.
Ainda assim, é inegável que o que Planta e Raiz apresenta está centrado na tradição do reggae. Para além de ritmo e elementos estéticos, há também a mensagem de paz, com respeito ao ser humano e à natureza, presente em suas composições. A faixa Vamos Viralizar o Amor talvez seja a que melhor exemplifica essa intenção.
“Como não cantar [sobre isso], né?”, comenta Zeider, “o que tem viralizado hoj em dia são mentiras, muita informação falsa e muito ódio também. Isso é revoltante, deixa o coração entristecido. Faz a galera brigar um com o outro, famílias se dissolvem por causa da viralização da mentira e do ódio”.
“Nossa ideia, e acho que a própria ideia do reggae, é muito universal. Ele só é nichado porque ainda há muito preconceito, pensam que é som de doidão, de maconheiro, sei lá (risos), e às vezes nunca nem ouviram, nem sabem do que se trata. Acho que fazemos parte desse processo de trazer o reggae para que mais pessoas ouçam – não só as nossas músicas, mas que elas entendam essa parada. É um som muito especial, que saiu da Jamaica, uma ilhazinha do terceiro mundo, e dominou o planeta. Sempre vai ter quem esteja sedento por justiça, amor ou fé. O reggae tem muito disso”.