“Favelado”: Chef Joe Une Brasil e Itália com o Som da Periferia
A língua portuguesa faz com que o italiano Chef Joe se sinta em casa. Tem a ver com as semelhanças com o dialeto napolitano, como ele contou ao Música Pavê por email, mas também porque lhe faz lembrar dos anos que morou no Brasil – e, sabemos, “saudades” é uma palavra que o país logo trata de ensinar a qualquer um que passe um tempo por aqui.
Vem disso o álbum Jesus Te Ama, uma obra conceitual que relembra os anos vividos no Brasil e que tem no single Favelado, parceria com o paulistano Rizca, o melhor exemplo de como o som da periferia une bem os dois países.
“A periferia em geral isola você, até mentalmente”, conta Joe, “na Itália, as borgate estão longe do centro. No Brasilm existem favelas até em áreas consideradas privilegiadas para que um forte sentimento de isolamento não seja tanto uma questão de distância da riqueza. Quem mora na periferia é considerado invisível por um certo tipo de sociedade. Pela minha experiência, o que vi no Brasil pode parecer distante do mundo italiano devido à maior violência nas ruas, mas, se você supera as aparências, percebe que as mesmas coisas acontecem na proporção das diferentes realidades sociais”.
“Vou te dar um exemplo: um menino cresce sozinho com a mãe, o pai foi embora quando ele era pequeno, a mãe trabalha o dia todo para lhe garantir um futuro e ele cresce a maior parte do tempo sozinho e se sente desamparado porque não ele sabe como ajudar sua mãe; pouco tempo passa e entra em contato com a rua e decide entrar no tráfico. De que país estou falando? Itália ou Brasil? Seria uma história que posso associar facilmente aos meus amigos dos dois países, então é o contexto social que dá conta dos detalhes”, comenta o rapper.
“No que diz respeito às lutas sociais entendidas como lutas por grandes questões, certamente existem diferenças no percurso dado pelo contexto social médio de cada país, especialmente nas questões importantes das periferias, que, no entanto, permanecem as mesmas em todo o mundo, porque em todo o mundo estão marginalizadas e explorada. A luta contra todas as formas de discriminação é provavelmente a mais urgente neste momento histórico. O que, na minha opinião, nunca muda é a fome de emergir num contexto onde o horizonte é o seu bairro”.
Chef Joe comenta também que essa universalidade periférica dá o tom de todo o álbum, mas ainda mais forte em duas faixas específicas: Leblon, que mistura a história de uma amiga e outra que ele mesmo viveu para expressar a “vontade de nos envolver, que é o sentimento que move as pessoas que vivem nessas situações”, e Cidade de Deus, “ao contrário, é uma visão de Roma como se eu a contasse a um brasileiro, explicitando ainda mais como as vivências em periferia são semelhantes em diversos locais do globo.