Faixa Etária: Marisa Monte – “Universo ao Meu Redor” e “Infinito Particular”

O primeiro contato da nova geração com obras de um passado não tão distante: Faixa Etária é uma série do Música Pavê que documenta experiências de escuta com um álbum escolhido por pavezeiros 30+, que foram marcados por aquela obra no tempo do seu lançamento.
A cada edição, vemos o disco pelos olhos de quem o viveu e, em seguida, pelas impressões de alguém que só conhecia a banda de nome, mas agora mergulha pela primeira vez no álbum inteiro, do início ao fim.
Marisa Monte – Universo ao Meu Redor e Infinito Particular
por Lili Buarque
Em 2006, eu era uma fã à espera. Tinha passado anos ouvindo Cor de Rosa e Carvão como quem lê um livro sagrado – aquele disco sempre foi, e ainda é, o meu favorito de Marisa Monte. Mas, quando Infinito Particular e Universo ao Meu Redor chegaram, ao mesmo tempo, foi como se duas portas diferentes se abrissem e eu não soubesse por qual entrar primeiro. Dois mundos completos, lançados no mesmo dia.
Me lembro do impacto: “Como assim ela fez dois discos completamente diferentes… ao mesmo tempo?”. Universo em mergulho profundo no samba de raiz, com elegância, de onde saiu Vai Saber, com arranjos de violinos que fazem um sorriso se abrir facilmente. Infinito, por sua vez, com uma introspecção pop cheia de poesia e sofisticação que nos trouxe Vilarejo – hoje entendida como um clássico. Fiquei meses mergulhada nesses dois mundos, alternando entre a cadência das rodas de samba e a introspecção luminosa das canções mais íntimas.
Para mim, Marisa não é exatamente humana. Ela tem algo de ET, de entidade que habita outro tempo e espaço. Ninguém faz tudo com a precisão, a beleza e o mistério que ela faz. Ela é uma só e é muitas ao mesmo tempo. É um universo e um infinito. E ela ocupa um lugar muito especial no meu imaginário de fã.
Primeiras Impressões
“Escutar Marisa Monte foi uma experiência especial. No quesito instrumental, não me surpreendi muito – esperava que a artista realizasse uma coletânea de músicas de ritmo tranquilo, para combinar com a sua voz sensacional. Mas, não esperava encontrar faixas que escutava com a minha mãe quando pequena e nem lembrava que existiam – Geranio e Meu Canário. As letras ligadas à natureza, ao se misturarem com o instrumental singelo, me deram a sensação de estar flutuando” (Lorena Lindenberg)
“Minha primeira vez escutando uma obra inteira de Marisa, apesar de conhecer meio que desde sempre sua voz e ter vivido o sucesso dos Tribalistas na infância. Não sabia que ela tinha um trabalho mais voltado para o samba, como no disco Universo ao Meu Redor, imaginava que iria encontrar nos dois discos apenas a sonoridade mais pop que caracteriza Infinito Particular. Suas poucas músicas que conhecia, como Vilarejo, me davam a sensação de um excesso açucarado, um doce que, pra mim, é a originalidade do som e da voz da artista, mas também a razão de um certo enjôo que adquiro na minha recepção da obra dela. Confesso que precisava ouvir mais, porque a dose de açúcar vai bem no samba, e o pop de Infinito Particular tem nuances, tem temperos, que só uma escuta não superficial pode revelar. É uma delícia, no final” (Nina Veras)
“Infinito Particular foi a obra que me apresentou aos trabalhos maiores de Marisa Monte quando adolescente, mas nunca tinha parado para escutar o álbum inteiro – vergonha. A sensação é de tensão construída através dos instrumentais, que fazem com que você preste atenção em cada palavra que ela canta (que de forma alguma são tensas). É denso, mas é leve. É como um mergulho em quem se é nos mínimos detalhes (destaque para Geranio!), um olhar pra dentro com música de fundo (com instrumentais de tirar o fôlego, ainda assim). Por mais leve que seja, sinto que é introspectivo – um olhar do eu para entender o mundo. A sensação que tenho com Universo Ao Meu Redor é que é um álbum mais preto no branco; é bonito, tem samba; se conecta com a coisa de se descobrir, mas olhando o mundo para se entender. Em resumo, Infinito Particular é uma noite de sexta em que se está satisfeito de estar sozinho em casa e Universo Ao Meu Redor, o sair para ver o mundo em um domingo ensolarado com pessoas que se ama e indo a lugares que se ama; os dois no mesmo final de semana” (Giovana Bonfim)
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