Faixa Etária: Los Hermanos – “4”

O primeiro contato da nova geração com obras de um passado não tão distante: Faixa Etária é uma série do Música Pavê que documenta experiências de escuta com um álbum escolhido por pavezeiros 30+, que foram marcados por aquela obra no tempo do seu lançamento.
A cada edição, vemos o disco pelos olhos de quem o viveu e, em seguida, pelas impressões de alguém que só conhecia a banda de nome, mas agora mergulha pela primeira vez no álbum inteiro, do início ao fim.
Los Hermanos – 4 (2005)
por André Felipe de Medeiros
Na minha memória, 4 foi o início do fim. Havia algo na obra que parecia apontar a uma banda que, ainda que em sua melhor forma, já havia nos entregado criativamente mais ainda do que precisava. O disco saiu, vieram os shows e Los Hermanos escreveu o último capítulo daquela sua história com a trilha sonora ideal.
Isso porque a audição do disco é marcada pelo sabor de clássicos de faixas como Morena, O Vento e Condicional, e igualmente pela sensação de que algo novo deveria acontecer – seja em Primeiro Andar ou no verso que encerra a obra: “Manda avisar que esse daqui tem muito mais amor pra dar” (em É de Lágrima, antes de uma explosão sonora digna do subir dos créditos e acender das luzes).
4 é uma obra que documentou em tempo real a saudade que estava para nascer. Ela não precisou ser superior a Ventura (2003), que muitos apontam como Los Hermanos em seu melhor momento (e eu tendo a concordar), para definir muito do que escutamos na música brasileira, indie ou não, nessas últimas duas décadas.
Primeiras impressões
“4 me pegou de surpresa. Como eu só conhecia os sucessos mais populares de Los Hermanos, como Anna Júlia, me deparei com um tipo de melancolia millennial e um clima de carnaval tristinho. O álbum tem uns toques de bossa e sambinha, mas também entrega guitarras escrachadas em algumas faixas. É introspectivo, mas sem perder a intensidade — como se fosse um desabafo em arranjos lindamente caóticos” (Leticia Stradiotto)
“De bate pronto, a única música que conhecia no álbum era O Vento. A minha expectativa era de encontrar a vibe de Bloco do Eu Sozinho, numa pegada mais tristonha e introspectiva, e, de certa forma, fui atendida, mas ainda assim me surpreendi. Gosto da fusão de ritmos, da bossa em Fez-se Mar ao rock em Horizonte Distante e com a favorita: Morena – com certeza, postaria um story bem diva com essa trilha. A experiência foi interessante por ter sido a primeira vez ouvindo sem ser despretensiosa, mas prestando atenção em cada detalhe da letra e melodia” (Andressa de Brito)
“Minha relação com Los Hermanos sempre foi meio limitada. Prendi-me apenas a Ventura pelas suas melodias bonitas e convidativas a serem cantadas juntas. Não parei para escutar 4 até esta última semana e imaginava que conhecia a famosa banda, mas, poderia dizer, vi uma nuance dela para mim que não tinha visto até hoje. Tateei as texturas das músicas, e me vi entre momentos de ápice sentimental e total desconexão. Eu diria que 4 inteiro me pediu mais tempo, mais calma para ouvi-lo, apesar de ter atingido um lugar em mim que não quer cantar junto às suas melodias. Uma sedução menos previsível do que Ventura” (Nina Veras)
“4 começa com uma união de instrumentos que cria uma leveza impressionante, mas que já muda de figura logo na segunda faixa, Primeiro Andar, ao se apegar a um ritmo mais animado. Porém, mesmo que 4 seja um projeto pulsante, ele quase nunca fica enérgico demais — com exceção de Horizonte Distante e Condicional. Parece que os instrumentais são instruídos a não ultrapassar determinado tom, para combinar com as letras, que são extremamente profundas, delicadas e melancólicas. O álbum em si me lembra muito as músicas de Rubel – Los Hermanos foi fonte de inspiração não só para ele, mas para diversos músicos da música brasileira atual” (Lorena Lindenberg)
“Los Hermanos nunca foi muito minha praia – às vezes que tentei, achei o ritmo das músicas muito devagar e acabei desistindo, mas isso não aconteceu agora e eu gostei muito. A forma como guitarra é usada nas músicas, cortante e intensa, me surpreendeu, porque esperava uns acordes mais abafados e lentos. Na canção Pois É, a batida da bateria com a guitarra me deu a sensação de estar ouvindo uma MPB clássica (quase um jazz, talvez?) e isso é algo bem legal do álbum também, porque é um disco de rock, mas passeia por outros gêneros sem perder essa essência. Consegui mergulhar no trabalho da banda sem pensar demais, com o coração aberto e acabei curtindo mais do que esperava. Em 2005, eu tinha 5 ou 6 anos e, depois de 20 anos, dá pra entender a razão de ter sido um sucesso. É um álbum que eu ouviria com frequência” (Mariana Santos)
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