Faixa Etária: El Efecto – “Pedras e Sonhos”

O primeiro contato da nova geração com obras de um passado não tão distante: Faixa Etária é uma série do Música Pavê que documenta experiências de escuta com um álbum escolhido por pavezeiros 30+, que foram marcados por aquela obra no tempo do seu lançamento.

A cada edição, vemos o disco pelos olhos de quem o viveu e, em seguida, pelas impressões de alguém que só conhecia a banda de nome, mas agora mergulha pela primeira vez no álbum inteiro, do início ao fim.

El Efecto – Pedras e Sonhos

por Roberto Soares Neves

Em 2012, a sensação geral era de que o Brasil ia em uma direção aceitável. Debatíamos no Facebook, achando que as redes sociais seriam lindas praças públicas arborizadas de ar puro. Sons periféricos variados revigoravam o sonolento cenário indie pós-hermânico, o funk mergulhava na ostentação individualista e o sertanejo dominava tudo que podia com sua (de quem?) grana. A ilusão da conciliação infinita, em que todos teriam voz, abafava descontentamentos, enquanto a onda progressista dava os últimos suspiros.

Nessa vibe, fomos atingidos pelo vídeo de O Encontro de Lampião com Eike Batista, de El Efecto. Uma guitarra singela e a frase “duas coisas bem distintas, uma é o preço, outra é o valor” abriam uma narrativa fantástica de quase nove minutos embalada por um mix de arrasta-pé e metal. É só a banda tocando em estúdio, mas viralizou pela riqueza dos arranjos e o cordel contando a vitória dos cangaceiros sobre o poder do dinheiro.

O álbum Pedras e Sonhos, que traz O Encontro de Lampião…, captou descontentamentos abafados e chamou os descontentes a lutar em coletivo com as armas que tinham. O arsenal da banda é extenso: Rock pesado com música latina, africana, infantil, gospel e erudita, entre outras. Os alvos gerais são a apatia e o capitalismo, mas cada canção costura referências para criar um universo próprio.

Por volta de junho de 2013, movimentos populares sintonizaram o país com o álbum. Por um tempo, os descontentes sonharam, lutaram e até venceram juntos, como nos protestos pelo transporte público em Porto Alegre e São Paulo. Pipocaram pelas ruas cartazes com frases das canções, como “se a gente canta em coro é mais forte o som da nossa voz”. Naquele fatídico mês, Pedras e Sonhos ainda concorreu ao 24º Prêmio da Música Brasileira. Venceu o sistema – nesse caso, Titãs, com um disco ao vivo. Mas El Efecto se firmou como uma voz para movimentos de resistência, que hoje é ainda mais necessária.

Primeiras Impressões

Pedras e Sonhos tem, sem dúvidas, um som autoral e bem original, que alterna entre o mais leve e o mais pesado (entre sonhos e pedras). As letras complexas com jogos de palavras inteligentes e temas atuais, além da mistura vibrante de gêneros musicais (cordel, rock alternativo, hard rock, gospel), tiveram grande destaque pra mim, tornando ouvir o álbum pela primeira vez uma experiência imersiva e impressionante! Gostaria de ter conhecido antes” (Gabriela Pavão)

“Que disco lindo e divertido! Tive a sensação de estar no meio de uma brincadeira, daquelas que quando criança eu participava e me sentia capaz de tudo, de quebrar estilos, regras, e principalmente de criar mundos novos. El Efecto faz isso, junta Lampião e Eike Batista em uma mesma história, cria uma ópera-manifesto à sua maneira inspirada em Os Saltimbancos e desfaz a construção formal de uma canção. Parece que a cada minuto a banda vai adicionando uma surpresa, e eu fui me deliciando e me entregando a elas. Me fez lembrar como a realidade que mata os sonhos pode ser transformada em pedra em nossas mãos por meio da música, da brincadeira, da alegria e da liberdade criativa. Fiquei bem feliz” (Nina Veras)

“Definitivamente, esse disco não era o que eu esperava. Na minha cabeça, seria um indie-rock tranquilo, parecido com Moptop. Porém, me surpreendi com o forró logo na primeira música — que fala sobre o cangaceiro Lampião — seguido de uma guitarra pesada, que acompanha as faixas ao longo do álbum. A mensagem das músicas é o destaque do disco, que incentiva a luta pela liberdade, a busca pela revolução e a persuasão dos sonhos” (Lorena Lindenberg)

“Este disco foi o meu primeiro contato com a banda e, honestamente, não sabia bem o que esperar. De primeira, pensei que a sonoridade me conquistaria, visto que conta com influências diversas, incluindo de gêneros e elementos típicos das tantas manifestações artísticas brasileiras. No entanto, essas tantas combinações se tornaram um pouco desgastantes e bagunçadas — e deixaram de me envolver. Vale um destaque para a lírica, sempre bem afiada, com um teor crítico bastante presente e com questões que promovem uma série de reflexões” (Isabela Guiduci)

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