Faixa a Faixa: “Ventura”
Poucos discos marcaram tanto uma geração inteira quanto Ventura. Como dizem por aí, sua relevância pode ser comprovada inclusive pela aversão que criou-se por alguns em torno do quarteto Los Hermanos na época, enquanto outros se fechavam em seus quartos para absorver o grande retrato ali feito: O do jovem brasileiro de nossa época.
É a pessoa bombardeada de tantas informações por todos os lados e que ter a chance de observar a si mesmo é correr o risco de ser atropelada pelas correntezas que a puxam para todos os lados. Ventura é introspectivo mesmo quando fala sobre outra pessoa e traz várias alegorias de gente difícil de não se identificar.
Com tanta coisa para ser dita sobre o álbum, que completa seus dez anos em 2013, reunimos alguns dos pavezeiros (que é como a gente chama quem participa do Música Pavê) para comentarmos cada uma das músicas do disco. Temos experiências e opiniões bem diferentes sobre o disco, então fica aí um registro de como é ouvi-lo ainda hoje.
1. Samba a Dois
A resposta da pergunta “do que é feito o samba” está no título da música. Não sei de que matéria samba é feito, mas é construído a dois. A sonoridade da letra em trechos como “Me laça a alma/me leve agora” enrosca qualquer um que escute a música em seu ritmo samba rock. Deve ser por isso que a letra está na boca de diversos intérpretes, como Fernanda Porto e Vanessa da Mata. Mas a primeríssima versão está aqui, na abertura de Ventura. (Mariana Martins)
2. O Vencedor
Los Hermanos nunca me empolgou, de verdade. Vi o show na Chácara do Jockey em 2009 por obrigação, pois estava pelo Radiohead. Entretanto, as letras de Camelo estão anos-luz melhores e mais reflexivas do que muitas bandas nacionais que estão no topo. O Vencedor tem algo a mais, uma melodia – que para época, era “diferente” – e uma letra bem feita, uma mensagem para os preocupados com a vida material. As combinações dos instrumentos de metais remetem bastante ao verdadeiro funk brasileiro, o funk à la “disco” que Tim Maia e até Jon Ben Jor fizeram (e ainda faz, no caso do último). (Rubens Filho)
3. Tá Bom
É olhar para um amigo por cima de uma xícara de café ou um copo de cerveja e falar aquilo que ele não quer ouvir. Falar que ele não sabe se relacionar, que isso aí não tá certo não – “me diz se assim está em paz”. É fazer questão que ele ouça todas as palavras ditas claramente em voz alta por alguém que entende como ninguém o que é passar por isso, porque fala exatamente as coisas que precisaria ouvir. (André Felipe de Medeiros)
4. Último Romance
Sem dúvidas, essa é a música dos apaixonados e uma das melhores do álbum. Entre três de dois casais indie fazem dessa música a trilha sonora do seu romance. Com uma construção incrível, a letra nos aproxima da declaração de amor de um alguém que certamente estava inspirado. Para mim, a música funciona e inspira pela atmosfera e pelas frases não convencionais que se interligam retratando um amor instigante. (Rômulo Mendes)
5. Do Sétimo Andar
Uma das canções mais à flor da pele da banda, uma das melhores composições de Amarante. Não dá para se restringir a um ponto em questão: Nessa letra, um universo se cria. Uma sonoridade poucas vezes casou tão bem com o que se diz. Como de costume, frases nada convencionais adentram nas composições do quarteto e nessa música não é diferente. Para mim, a melhor do álbum, que a cada ouvida aprendo, motivo e me instigo mais. (Rômulo Mendes)
6. A Outra
Camelo toma as vozes de uma mulher traída e clama por paz. A narrativa em primeira pessoa deixa a música envolvente, principalmente pelo tempero brega que toda a composição ganhou. É aquela história batida contada na mesa do bar, o que é motivo de riso para a vizinhança é a dor que está prestes a sangrar no íntimo. (André Felipe de Medeiros)
7. Cara Estranho
Uma bem animadinha que descreve um cara que pode ser qualquer pessoa que você conheça. Ele luta para ser um bom rapaz e para não se machucar, além de se agarrar a tudo o que tem com medo de perder o que conquistou. Diz aí, pode ou não pode ser qualquer um de nós? (Marcel Marques)
8. O Velho e o Moço
Uma reflexão grandiosa. De um lado, um senhor já com a idade avançada. Do outro, um jovem com sede do mundo. Um sabe do que viveu e o que fez de errado, o outro disposto a cometer todos os erros necessários para ser feliz. (Marcel Marques)
9. Além do que se Vê
O ritmo da música é o que mais me chamou atenção. A canção começa de uma maneira mais calma e vai aumentando a participação dos instrumentos chegando ao final. O modo como o trompete, a bateria e a voz de Camelo se encaixam torna evidente o porquê desta música ser tanto sucesso ao vivo. (Carolina Reis)
10. O Pouco que Sobrou
O bom de ouvir Los Hermanos é que existem faixas que se revelam ao passar o tempo. No meu caso, ouvir e se encantar com O Pouco que Sobrou foi algo natural, que se deu por eu já ter escutado demais as outras músicas. E não tem como dizer que isso não ocorre quando se ouve um álbum inteiro, variavelmente uma faixa se torna mais querida do que a outra. No entanto, hoje esta não é só uma das minhas canções preferidas do Ventura, como uma das melhores da banda. (Rômulo Mendes)
11. Conversa de Botas Batidas
No amor, o fim inexiste. No amor, o fim é um novo começo. Deixá-lo enrugar ainda jovem ou envelhecer de pele lisa? Sabedoria que só têm os velhos, que, em breve, farão do fim seu eterno recomeço. (Anna Rinaldi)
12. Deixa o Verão
Adoro a história que esta simples letra conta. Quando se está com alguém, não é preciso sair de casa para aproveitar o dia e não é preciso fazer todas as coisa correndo. Um ritmo rápido em uma canção sobre querer ficar em casa e aproveitar os momentos. (Carolina Reis)
13. Do Lado de Dentro
O poder inigualável de se colocar no lugar da eu-lírico aparece de uma forma extraordinária nesta música. Conta uma briga entre um casal prestes a se separar e ele conclui que está aberto para uma nova vida. Uma das melhores do disco. (Marcel Marques)
14. Um Par
Se virar adulto é um processo estranho para qualquer pessoa, para quem acompanhou o crescimento desde o primeiro momento não é algo simples de se assistir. Neste caso, um pai se esforça para entender o comportamento do filho (“tão diferente assim de mim”) que antes, quando criança, era tão mais fácil de ser decifrado. (André Felipe de Medeiros)
15. De Onde Vem a Calma
Um comportamento impecável revela, na verdade, uma gigantesca insegurança de um moço carente que apenas não quer estar sozinho. Ele não é nenhum estereótipo do que a sociedade chamaria de “forte”, mas continua disfarçando seus defeitos por trás das qualidades tão admiradas, mesmo sabendo que o que lhe resta é a solidão. Uma bela conclusão para um disco tão introspectivo. (André Felipe de Medeiros)
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