Faixa a Faixa: Rubel – “Casas”

Sejamos diretos: Casas demorou muito para sair. Já tem quase cinco anos que nos apaixonamos por Rubel com seu Pearl, um tempo em que vimos suas músicas crescerem para outras direções a cada show ou lançamento. É um período mais do que considerável para um artista amadurecer de maneira sensível e consciente, assim como para que ele entregue um trabalho excelente. Felizmente, é exatamente esse o caso aqui.

Ouvir este seu segundo álbum, com o dobro de faixas do primeiro, não é apenas receber um apanhado de boas surpresas, seja com um novo lugar sonoro, com as participações mais do que ilustres (Emicida e Rincon Sapiência) ou com novas caras para músicas que já conhecíamos. O que torna sua audição ainda mais especial é o quanto canções tão pessoais e cheias de verdades receberam um tratamento respeitoso, primoroso e completamente envolvente em sua beleza.

Com uma equipe do Música Pavê conscientemente apaixonada pelo disco, foram reunidos comentários sobre a obra feito pelos pavezeiros, que, cada um a seu modo, tentam explorar um pouco mais dos significados das músicas para aproveitarmos ainda mais o todo. A conclusão? A espera foi mais do que válida.

Intro

Casas começa com um pequeno prefácio que prepara terreno para a narrativa a seguir com uma melodia ensolarada, pueril e dinâmica marcada pelas cordas. Coincidência ou não, lembra muito o que Baleia fez em sua Casa” (André Felipe de Medeiros)

Colégio

“Quem abre o disco é a saudade. Intriguinhas do colégio narradas com a calmaria de um tempo depois. Apelidos que sobem a escada da memória até o último andar. Colégio contrapõe a vida adulta. Hoje, só elevador e ar condicionado” (Anna Rinaldi)

Cachorro

“Engana na leveza do piano. Depois, surpreende com aquele sambinha sem nome, nem chão pra dar pé. A vida parece boa ali. Bumbumpaticumbum, vamos cantando e divagando” (Anna Rinaldi)

Pinguim

“A batida eletrônica acompanha Rubel cantando de um jeito diferente do seu habitual, a melodia ora traz versos mais rápidos, ora mais cadenciados. Uma música com uma beleza mais densa que termina com uma mensagem de esperança pra ser repetido várias e várias vezes: ‘Eu vou passar/Cê vai passar também/Vamo passar porque passando/Vai passar, meu bem'” (William Nunes)

Casquinha

“‘Não tampa o ouvido da platéia se eu desafinar’ – assim começa o maior samba do disco, que dialoga com o ouvinte sobre o quão é importante as verdades na lírica independente da técnica de um artista, “desde que venha do coração”, ainda que isso seja dito e cantado por um músico cheio de técnica e pinceladas de uma arte a ser contemplada. A maioria dos músicos transparecem suas experiências e suas vivências, Rubel fez um hino para que tais artistas não esqueçam de beber dessa fonte de inspiração. Uma negativa a essa obra? Curta demais: De tão gostosa, animada e dançante, gostaríamos de aproveitá-la por ainda mais tempo” (Lucas Gabriel Bosso)

Batuque

“Em um disco que mistura o passado e o presente, a infância e a vida adulta, Batuque faz as vezes de uma pequena adolescência entre um samba que quem ouvia Pearl em 2013 não sabia que Rubel lançaria no futuro e uma faixa já bem conhecida do seu público, dando tempo suficiente pro ouvinte se ajustar entre os dois momentos” (André Felipe de Medeiros)

Mantra

“Esse podia ser mesmo um Mantra de todo brasileiro. Não é fácil morar neste país e não ficar frustrado com os acontecimentos recentes, mas, não só isso, é difícil viver em uma sociedade na qual muitas coisas fúteis são veneradas. Sinto que Mantra é um tipo de reza ou pedido de ajuda para lembrar das coisas boas da vida, feita para qualquer pessoa que já se viu perdida por inseguranças, presa nas opiniões alheias e longe de lembrar do que vale a pena. A suavidade da música parece vir da leveza de alguém que viu os problemas de sua vida (e do seu mundo) e está pronto para mudar. Sinto um ar de John Lennon e sua Imagine em certas partes, e vejo que a reza preza por dias melhores, dias de luz e mais força. A canção quer nos lembrar que estamos todos batalhando e que dessa vida não vamos levar nada, nada, somente nossas almas” (Carolina Reis)

Passagem

“Quando você vai até o outro, você enxerga a si mesmo. Ao trazer três outras vozes, três outros discursos, três outras vidas, o artista continua comentando aquilo que ouvimos em todo Casas: Constatações de sonhos, medos e sensibilidades, essas coisas que todo mundo, mesmo que em sigilo, tem na ponta da língua” (André Felipe de Medeiros)

Explodir

“Não seria caso de internação se o ouvinte não inserido ao universo de Rubel, a princípio, achasse que essa explosão foi causada por Marcelo Camelo e o seu violão – o que não seria demérito, é claro. Com todo o diagnóstico precoce, fechamos os olhos embalados pela sonoridade, entendendo que o último acorde nos presenteia, nos chamando a esse universo rico e poético que, ao final, se torna gigante explodindo e derretendo, causando inspiração” (Rômulo Mendes)

Sapato

“Se sinta à vontade, combine consigo mesmo, balance o corpo, sambe torto, repense no suingue do bem, salve Jorge, invente o dia todo, nem que seja por pouco, bem pouco. Ouvindo Sapato, não tem pressa nem esforço. Mas, por favor, não deixe de sambar, deixando se inundar pelo ritmo” (Rômulo Mendes)

Chiste

“Rincon Sapiência deve ser um dos nomes mais requisitados para parcerias e, com Rubel, a dupla entrega uma faixa que poderia estar tanto em Casas quanto em um trabalho do rapper. A letra traz um confronto entre dor e riso e rende até um posicionamento político, super válido para os dias de hoje” (William Nunes)

Fogueira

“A calmaria cintilante, aquela que dá voz a tantas outras do disco, que expõe ainda mais a suavidade orquestrada da suavidade, doçura e elegante de Casas. Uma verdadeira obra de arte que abre alas para um pop brasileiro nunca feito antes” (Lucas Gabriel Bosso)

Partilhar

“Sonoridade que, desapercebidamente, faz os seus pés ensaiarem passos lentos em conjunto a cada nota ouvida. Partilhar é a canção dos apaixonados que nunca desistem e guardam no peito, na mente e no coração, a certeza que a vida é boa, mas é muito melhor com a pessoa amada. E querer compartilhar a vida boa não é obsessão, tampouco charminho, se trata apenas de estar ao mesmo compasso da poesia, criadora de melodias românticas que traçam a beleza de um par, impulsionando o anti-medo do mar e demonstrando a possibilidade de girar a terra até que o tempo se esqueça de ir para frente e volte atrás milhões de anos, quando todos os continentes se encontravam para que se possa caminhar até o amor” (Rômulo Mendes)

Santana

“Você pode ser, pode estar, pode ter feito, pode tudo que quisesse poder. E aí vem aquela lembrança, aquela cena, aquele substantivo concreto e você se desarma em um sorriso. A vida é boa pela soma de suas partes, e algumas delas são tão simples como a brincadeira de infância ou algum prazer cotidiano que você carrega dentro de si. Não importa quem você tenha se tornado, se recorda que ser feliz tem a ver com desfrutar o que se tem agora e o que se tem na memória” (André Felipe de Medeiros)

Curta mais de Rubel e de outros especiais Faixa a Faixa no Música Pavê

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