Faixa a Faixa: Maglore – “V”

Relevante nas mensagens e excelente na execução: Maglore acaba de enriquecer seu CV e portfólio com um quinto álbum que não deixa dúvidas quanto às suas melhores características.

V é uma coleção de treze faixas que dialogam com a música brasileira contemporânea e com o rock de outrora em ótimas composições e um jeito contagiante de tocar e cantar que banda executa com maestria. É um abraço que te põe pra dançar.

Diante da beleza da obra, parte da equipe Música Pavê comentou o disco música por música, para adicionar alguns olhares à sua audição.

A Vida É uma Aventura

Abrindo o álbum (e que álbum!), a música é um hit. Foi o primeiro single que Maglore soltou desse novo trabalho e resume bem toda a estética do disco. É uma canção dançante, com uma pegada anos 70, com metais marcantes e um refrão que reforça a celebração da vida, apesar de todos os seus percalços: “A gente envelheceu, a gente superou cada momento em que a vida foi mais dura, para se escrever em um final que não chegou. A vida é uma aventura”. E ela é mesmo, uma aventura muito mais gostosa com a trilha sonora desse álbum. (Lili Buarque)

Amor de Verão

Curioso como uma banda madura em sua ambição artística consegue traduzir musicalmente sua confiança. A canção é basicamente um powerpop movido a jingle jangle, um acerto refinado e harmônico com melodia bonita e letra acolhedora e otimista. Esse amor de verão certamente resistirá às intempéries do tempo. (por Eduardo Yukio Araújo)

Espírito Selvagem

Maglore é uma banda que funciona tão bem como conjunto que é fácil deixar passar batido a individualidade brilhante dos músicos. Esta faixa merece ser ouvida no repeat reparando a beleza de cada instrumento, seja a bateria afiadíssima, a ginga das guitarras, o baixo dançante, os vocais contagiantes do refrão e os metais monumentais. Se esse é o retrato do espírito selvagem da banda, torço para que siga longe de todas as gaiolas. (Nuno Nunes)

Talvez

Algo que achei muito interessante nesse álbum, e que é bem perceptível nessa faixa, foi a forma como a banda conseguiu trazer uma harmonia alegre para músicas tristes. Em Talvez, há uma descrição de uma relação pesada de dependência, de alguém que só se reconhece quando está despedaçado pela separação e que ama de verdade apenas quando já não está no relacionamento. E, ao mesmo tempo, a música soa divertida. Senti uma referência de The Beatles no início da faixa, mas pode ser impressão minha. E tem um solo de guitarra delicioso ao final, que merece o repeat. (Lili Buarque)

Eles

Pra quem sabe ler, um pingo é letra. Maglore não precisa dar nomes aos bois para deixar muito claro seu recado de que vivemos tempos de obscurantismo, sequestro de narrativas e pura ignorância. Mas Teago garante: “Eles não têm chance, não”. E ousa fazer isso com um arranjo solar pra contrapor o breu. Deu certo. (Nathália Pandeló Corrêa)

Vira-Lata

Peço licença para falar desta em primeira pessoa. Os leitores mais, digamos, dedicados do site lembrarão de um comentário sobre a composição, que originalmente estaria em Se Chover, trabalho do baixista Lucas Gonçalves. Ao ler a matéria, ele concluiu que a música não era para estar ali, mas em alguma obra do futuro. Esse amanhã chegou e minha alegria é a de poder ver mais gente tendo acesso a essa belezinha que eu pude curtir há dois anos e ficou todo esse tempo escondida do público. A espera valeu demais. (André Felipe de Medeiros)

Outra Vez

Com rimas externas e um arranjo magistral, Outra Vez transporta para nossos conflitos internos quando apaixonados, seja por nós mesmos, após “dançar com a solidão” ou por aquela pessoa que surge de forma inesperada e muda tudo, inclusive nossas convicções sobre o amor. E, sim, ele sempre vem, mesmo que a gente não queira. Uma hora vem. E mesmo que a gente ache que não quer, sempre encontra um jeito de vivê-lo. (Rafaela Valverde)

Transicional

As canções existencialistas são uma marca registrada de Maglore, que sabe como entregar uma lírica completa, abundante e repleta de significados. Transicional é um ótimo exemplo disso e reflete sobre uma personagem que vive as miudezas da rotina e experimenta amores, até “sem querer”. Em sua totalidade, a faixa concentra uma identidade marcante da banda e traz um forte riff de guitarra, com brasilidades que expõem as diferentes referências da discografia do grupo. (Isabela Guiduci)

Revés de Tudo

É uma boa música para reparar como o som cheio de ambiência que a banda explorou nos discos anteriores deu lugar a um instrumental mais cru (mais “sequinho”, se preferir) em V. Esse “menos é mais” traz um gostinho daquele Maglore lá do começo da carreira, e, ao mesmo tempo, mostra como as composições conseguem se tornar cada vez mais elaboradas e interessantes ao longo do tempo. Que momento lindo da música brasileira. (Nuno Nunes)

Medianias

Existe beleza no meio termo. Há também um certo conforto em compartilhar das incertezas de quem parece já ter descoberto o caminho do sucesso. Em Medianias, a banda canta que tá tudo bem não estar tudo bem, que não tá fácil pra ninguém. Mas o arranjo é crescente, acenando que há luz no fim do túnel. Ou pelo menos um violino bem massa. (Nathália Pandeló Corrêa)

Amor Antigo

Os elementos da MPB permeiam toda a construção sonora de Amor Antigo, faixa que resgata brasilidades identitárias da banda e é um dos pontos altos do disco V. Com uma levada serena e quase nostálgica, a canção explora o som do violão de nylon, grande símbolo da música brasileira. Sensível e delicada, a lírica aborda intensamente sobre finitude, amores e vivências; a música soa como um diálogo maduro e sincero com os ouvintes sobre “amores antigos”. (Isabela Guiduci)

Maio, 1968

Na penúltima faixa do álbum, Maglore faz um mergulho histórico. Do assassinato do líder do movimento negro nos EUA, Martin Luther King, à Passeata dos 100 Mil, no Rio de Janeiro, somos transportados aos eventos que marcaram o ano de 1968 – entoados por Lucas Gonçalves. Ouvir Maio,1968 em 2022 é lembrar que esta não é a primeira vez que tudo acontece ao mesmo tempo, numa bruta sinfonia. (Thaís Ferreira)

Para Gil e Donato

Alguns de nossos heróis seguem vivos e em atividade, e observá-los em suas criações é contemplar uma passagem de tempo possível. Gilberto Gil e João Donato são homenageados na canção, mas são também objetos de nossas projeções do que é viver bem na tal terceira idade. “Se Deus quiser, vou querer saber” como dar conta do envelhecer e das dimensões extra terrenas que a vida tem (e pode ter). “Se Deus quiser, vou saber querer”. (André Felipe de Medeiros)

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