Faixa a Faixa: Arctic Monkeys – “The Car”

Quatro anos após o divisor de opiniões Tranquility Base Hotel & Casino, Arctic Monkeys dá continuidade àquela proposta estética – diferente do indie rock juvenil de outrora – com o novo The Car.

É uma obra de apreciação menos urgente do que a música em voga hoje, com faixas bem construídas que devem render um show intrigante – e a boa notícia é que a banda embarca ao Brasil na próxima semana, incluindo participação no primeiro Primavera Sound São Paulo.

Os pavezeiros deram aquela debruçada sobre o disco para contar a você um pouco sobre algumas impressões de cada uma das faixas de The Car. Quais as suas?

There’d Better Be a Mirrorball

Matt Helders (baterista) disse que a abertura de The Car evoca a sensação de entrar em uma cafeteria em um dia chuvoso. Não só uma descrição precisa da canção, a fala de Helders indica o que se destaca no disco: O ambiente. Poucos segundos já são suficientes para desenhar a paisagem nebulosa e atraente do álbum, com suas luzes amenas e penetrantes de um globo espelhado bem no meio do aconchegante salão onde Alex Turner canta sobre amores frustrados e um coração pesado. (Bruno Maroni)

I Ain’t Quite Where I Think I Am

The Car é mais uma prova de que Arctic Monkeys não perde a capacidade de inovar e, nesse sentido, a segunda faixa do álbum é um exemplo claro da criatividade da banda. Em meio a riffs de guitarra e harmonias de orquestras, Alex Turner soa relaxado e sua voz ondulante funciona como o fio condutor da música. Na letra, a composição abstrata fala de um cenário obscuro e o significado das frases fica totalmente a cargo da interpretação do ouvinte. Com elementos do funk estadunidense, a canção é uma quebra da melancolia que está presente na maior parte do álbum. (Guilherme Gurgel)

Sculptures of Anything Goes

Ainda que pareça acenar de longe para a sonoridade de AM (2013), a terceira faixa de The Car alimenta a atmosfera soturna do álbum, sobretudo com o uso de sintetizadores, que cria uma escala de drama ao longo da canção. Apesar do tom sério, Sculptures Of Anything Goes tem um dos versos mais divertidos do trabalhoperformando em espanhol na TV italiana”. (Thaís Ferreira)

Jet Skis on the Moat

Se gostar de ficar em suas mansões de roupão fumando um charuto na banheira for crime, mandem prender a banda, pois são todos réus. Talvez não tenham sido essas palavras da música, mas é o clima que a guitarra com efeito de filtro sugere nessa música.  A letra fala sobre um personagem que saiu dos holofotes e agora pode ser encontrado em casa usando pijama. Qualquer semelhança é mera coincidência. (Nuno Nunes)

Body Paint

O quanto essa fez fãs falarem sobre a saudade do ex (Arctic Monkeys) não foi pouca coisa. Body Paint tem uma construção interessante, que começa calminha, dá uma crescida e tem um final levemente apoteótico que lembra as músicas daquele tempo onde tudo era mato. É uma boa música para indicar pra quem quer tentar virar o voto dos que sequer tentaram ouvir o álbum. A banda também soltou uma versão ao vivo do show do Kings Theatre que vale a pena conhecer. (Nuno Nunes)

The Car

Toyota Corolla E90: Caso tenha perguntado, esse é o modelo do carro presente na foto tirada pelo baterista Matt Helders, foto que virou a capa do disco. A imagem sugere isolamento. Com um tímido clima de expectativa (talvez pela progressão de cordas, ou pelos vocais misteriosos) e um declarado senso de nostalgia, Alex Turner lembra de cenas de quando andava de carro com seu pai. São memórias que aguçam o anseio por pertencimento, um dos sentimentos que colore todo o álbum. (Bruno Maroni)

Big Ideas

Uma introdução elegante, uma progressão cheia de classe e uma letra que fala de decepções ao usar a alegoria de uma banda com uma ótima ideia para uma faixa que fica perdida em meio a tanta orquestração. Talvez seja um aceno irônico aos fãs que nunca aprovaram esse novo estilo, ou talvez nossa leitura da banda ainda esteja comprometida pela ideia de ainda necessitarmos uma justificativa para a estética de 2018 para cá. Mas a música é boa. (André Felipe de Medeiros)

Hello You

O andamento bem demarcado da música, em contraste com a leveza das cordas, faz com que Hello You seja uma das músicas de The Car que mais despertam a atenção durante a audição. A letra é uma das mais enigmáticas de todo o disco, cheia de substantivos concretos e pequenas cenas que cabe ao ouvinte entender se são relatos de fato ou pano pra manga de abstrações. (André Felipe de Medeiros)

Mr. Schwartz

Se no EP de 2006 a pergunta era Who the Fuck are the Arctic Monkeys?, 16 anos depois a dúvida que fica é: Quem diabos é Mr. Schwartz? Talvez um alter ego de Alex Turner, que reflete na música sobre como os últimos lançamentos da banda não caíram no gosto dos fãs. Num tom oposto ao de Whatever People Say I Am, That’s What I’m Not, os “dancing shoes” voltam a aparecer, pertencendo agora ao Mr. Schwartz, que está “se mantendo forte pelo time”. (Thaís Ferreira)

Perfect Sense

Perfect Sense encerra a delicada, mas grandiosa, jornada de The Car. É o auge da luxuosa sonoridade do disco: vocais sinuosos e orquestrações sutilmente imponentes. A letra alude a Richard of York, figura verídica da realeza britânica, cuja ambição pelo poder levou à morte. Soa como uma autorreflexão sobre o confuso processo que levou Turner e a banda ao sucesso, uma releitura da fama. Uma confusão que faz todo sentido. (Bruno Maroni)

Curta mais de Arctic Monkeys e outros artigos faixa a faixa no Música Pavê

Compartilhe!

Shares

Shuffle

Curtiu? Comente!

Comments are closed.

Sobre o site

Feito para quem não se contenta apenas em ouvir a música, mas quer também vê-la, aqui você vai encontrar análises sem preconceitos e com olhar crítico sobre o relacionamento das artes visuais com o mercado fonográfico. Aprenda, informe-se e, principalmente, divirta-se – é pra isso que o Música Pavê existe.