Esquimós: “A gente quis empurrar os limites do estúdio”

“É muito doido estar no estúdio. Às vezes, a gente ficava doze ou catorze horas lá dentro e tinha que tomar uma decisão a cada minuto. Você vai gravar guitarra: que amplificador você vai usar, e qual microfone, qual efeito, qual guitarra?”

Desde que Esquimós anunciou o álbum Bonança, lançado hoje (04), veio a informação que ele seria seu trabalho mais experimental até hoje. Não é arriscado afirmar que é uma boa notícia, para os fãs do disco Âncora (2015) e da música indie brasileira, que o adjetivo é usado aqui mais como sinônimo de “encontrar novas maneiras de explorar o som” do que a classificação “experimental” como gênero musical.

Quando ouço alguém  falar que uma banda é experimental, penso em algo mais psicodélico, instrumental, um lance de seis ou sete minutos, o que não é o caso do nosso disco” disse ao Música Pavê o músico e produtor Joaquim Mota (que disse também a fala que abre este texto). “Acho que foi mais essa questão da gente ver aonde a gente poderia chegar com uma sonoridade que a gente gostasse, que fosse diferente do primeiro, mas que ainda fosse Esquimós”, comenta ele.

A banda gaúcha decidiu que o sucessor de Âncora seria mais orgânico que o primeiro, tendo apenas guitarra, baixo e bateria para acompanhar as vozes. “A ideia sempre é não se repetir”, conta Joaquim, “e a gente experimentou muito desde o início. A gente quis empurrar mais os limites do estúdio e dos equipamentos e buscar algo novo. Quando você coloca uma limitação (caso dos três instrumentos), você tem que explorar esses elementos ao máximo”.

Apesar do nome, o álbum se mostra bastante visceral e inquieto. “A ideia é ser muito honesto, nu e cru, sabe? A gente quer comunicar o que a gente tá passando no momento”, comenta Joaquim, que explica que Bonança é como um segundo livro do mesmo universo do disco de estreia, dando continuidade àquela ambientação que já conhecíamos  – até mesmo o projeto gráfico, com arte de Ruan Sampaio Leal, demonstra essa sequência. 

O Âncora, para mim, se passa durante uma tempestade, apesar de ser mais tranquilo na maior parte do tempo. Bonança é, ao mesmo tempo que o estado de calmaria no mar depois da tempestade, quando você tem que lidar com os destroços daquela tempestade. Tá todo mundo chacoalhado, tem barco em pedaços, casas destruídas. Acho que ele é muito sobre lidar com demônios internos e buscar a paz”.

Para os shows, Esquimós seguirá sua proposta de não repetir no palco aquilo que ouvimos nas gravações. Tanto é que a banda tem ensaiado com outros músicos para os shows, incluindo timbres que não estão presentes em Bonança, como sintetizadores e piano elétrico.

“A gente pensou em ficar só nós dois e soltar alguns elementos durante o show, mas a gente sempre foi uma banda mais orgânica, apesar dos efeitos e experimentações”, conta Joaquim, ” o show é uma experiência mais única, porque acontece em menor frequência, então a gente sempre quer trazer alguma coisa nova”.

Curta mais de Esquimós e outras entrevistas no Música Pavê

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