Especial 2024: Os Videoclipes do Ano
Não vivemos uma boa fase para os videoclipes. Desde que os músicos foram tomados pelo raciocínio de um mercado imediatista, que trata os produtos culturais e artísticos como itens de consumo breve, essa linguagem tem sido esvaziada ao ponto do acompanhamento visual a uma música ser tão obrigatório quanto desvalorizado em criatividade. A qualidade média dos lançamentos, comparada aos de uma, duas ou várias décadas atrás, está cada vez mais baixa.
Felizmente, é claro, não é o caso de todas as produções. Muitas delas valorizam a história do formato, enquanto também atualiza a linguagem para os novos públicos e meios. E em época de visualizer, quem tem um bom videoclipe se destaca ainda mais. Da safra 2024, eis os mais repercutiram no Música Pavê.
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The Weeknd + Anitta – São Paulo
A intenção era causar, e deu certo. Com direção de Freeka Tet, o clipe flerta com o grotesco e se inspira em produções na música, televisão e cinema de décadas passadas para criar uma obra com cara de vídeo conceito de moda, mas digerido pelo estômago do pop. É tão obra de arte quanto é um produto publicitário – ou seja, é o videclipe por excelência. (André Felipe de Medeiros)
Criolo + Dino D’Santiago + Amaro Freitas – Esperança
O clipe retrata a conexão Brasil e Cabo Verde nascida pela junção entre Criolo, Amaro Freitas e o português e filho de cabo-verdianos Dino D’Santiago. Dirigido por Helder Fruteira, o vídeo traz imagens coreografadas de Rubens Oliveira, entre espaços urbanos e uma praia paradisíaca, e takes dos Mandingas da Ribeira Bote, grupo tradicional da ilha de São Vicente, em Cabo Verde. Destaque para a fotografia de Luiz Maximiano. (Lili Buarque)
Tyler, the Creator – Noid
Dirigido pelo próprio artista, o vídeo de Noid traduz com maestria a sensação sufocante de paranoia que a música narra. Com elementos surreais e tons sépia, o clipe acompanha uma fuga desenfreada de Tyler, que briga até com a própria sombra. Enquanto isso, ele usa uma máscara, no que pode ser uma referência a Take Your Mask Off, outra faixa de Chromakopia, que fala sobre a liberdade de ser quem é – o que talvez seria a solução para o personagem do vídeo. (Guilherme Gurgel)
Charli XCX – Von Dutch
Os aeroportos ao redor do mundo são, em sua grande maioria, muito parecidos. O mesmo acontece com a música pop. Charli XCX se aproveita desses dois cenários para trazer forte personalidade em Von Dutch, clipe dirigido por TORSO, que nos relembra a potência criativa da artista dentro dos contextos pasteurizados no qual está inserida. Há muito dinamismo, algumas surpresas e a sensação de que ela ri do nosso desconforto. Ou seja, é exatamente a cara dessa música. (André Felipe de Medeiros)
Dua Lipa – Training Season
O vídeo traz dezenas de homens tentando ganhar a atenção da artista e finalmente virando uma massa quase indistinguível de seres. É a tradução imagética do sentimento de desconexão e banalidade das relações em tempos de oferta ‘infinita” via mundo digital, o que também dialoga com o tema desse disco pop vibrante: A cantora refletindo sobre seu próprio valor e como isso eleva sua expectativa a respeito de um possível parceiro romântico. (Eduardo Yukio Araujo)
O Terno + Devendra Banhart + Shintaro Sakamoto – Volta e Meia
Em clima de despedida, a banda apostou em um clipe repleto de referências ao disco atrás/além. Com uma estética vintage, o vídeo se passa em um programa de palco, que conta com Wandi Doratiotto como apresentador. As imagens apresentam as cores e símbolos do álbum (círculos amarelo, azul e vermelho) e, enquanto a música reflete sobre as voltas da vida, o videoclipe fica em constante rotação – uma composição muito inteligente e que dá ainda mais significado a esse belíssimo clipe. (Isabela Guiduci)
James Blake – Like the End
Quinze anos após o pensador Mark Fisher declarar “o lento cancelamento do futuro”, a sensação é a de que esse processo é muito mais rápido do que pensávamos. Com uma produção toda montada por Jon Rafman com cenas geradas por inteligência artificial, Like the End comenta o estranhamento de estar vivo em 2024, com as bizarrices de redes sociais e a pós-verdade, e questiona: Será que isso tudo não é só um começo? (André Felipe de Medeiros)
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