EP Solo Marca a Volta de Léo Ramos: “Por algum milagre, continuei vivendo”

O currículo de Léo Ramos já era digno de orgulho: multi-instrumentista, produtor, compositor de mão cheia e frontman de uma das bandas alternativas mais influentes da última década, Supercombo. Agora, sob o esperto codinome de Reolamos, ele tem mais um item para adicionar à sua lista: artista solo. “Nunca imaginei que esse momento ia chegar um dia na minha vida”, revelou em entrevista ao Música Pavê

Mas o momento chegou. O EP Montanha Rústica foi lançado no segundo semestre de 2021 e marca não somente a estreia do projeto solo, como também um renascimento do artista capixaba depois de passar por um dos momentos mais difíceis da vida – em menos de um ano, ele perdeu o pai e a mãe. “Foi um momento terrível. Eu parei com tudo. Por algum milagre, eu continuei vivendo”, contou. A música foi peça fundamental no processo de superação. Com o novo projeto vindo ao mundo, Léo disse que voltou a sentir aquele brilho nos olhos. 

O improvável voo solo

Podemos dizer que o projeto Reolamos como conhecemos hoje foi um acidente de percurso. A ideia inicial era fazer um experimento de Léo com uma de suas paixões: a produção musical. Junto com o amigo Zeca Leme, ele fechou uma turma para ministrar uma masterclass em 2019 sem saber muito bem qual caminho seguir: “90% das vezes, eu não faço ideia do que estou fazendo. Essa, inclusive, foi a primeira lição do curso”, disse no alto de sua modéstia. 

Foi nas sessões desta primeira aula que nasceu a música Sozinho no Frio que Me Queima, que foi lançada com single de estreia. O fato é que a masterclass deu tão certo que o plano passou a ser uma turnê por diferentes cidades produzindo músicas com a participação dos interessados em aprender sobre o processo. O que não entrou no planejamento foi um detalhe que mudaria a vida de toda a humanidade: a pandemia de covid-19.

A solução para transformar o limão do lockdown em uma limonada foi aproveitar sua experiência como streamer (sim, Léo também se aventura no mundo dos gameplays) para produzir músicas ao vivo na Twitch. Assim, foram nascendo as seis faixas que formam o EP Montanha Rústica. Todas compostas, gravadas, produzidas e mixadas por conta própria e contando com os pitacos da participação do internauta. “O resultado foi um som que eu sempre quis fazer mas nunca rolava com as bandas que eu tive, que é essa parada lúdica meio tropical só que ao mesmo tempo meio emo e com umas quebraceiras no meio”.

A fuga alucinante de robôs mercenários e a cereja do bolo

Uma das canções que demonstra o quanto Léo esteve à vontade no momento de composição é Gangue dos Robôs Frentistas Mercenários, música que narra a trajetória de um fugitivo intergalático que tenta abastecer sua nave, mas acaba impedido pelos frentistas robôs que estão interessados na sua recompensa  – que nem é tão alta assim. A história mirabolante surgiu como uma resposta aos numerosos questionamentos sobre as composições de Léo serem autobiográficas. “Eu queria provar que dá para fazer música sobre qualquer coisa. O instrumental da música tem essa pegada que lembra perseguição, foi esse o ponto de partida para criar a história maluca com o pessoal durante a live”, disse.  

A cereja do bolo veio em fevereiro, quando a música (e de certa forma o próprio EP) ganhou uma nova cara após o lançamento do clipe. A animação, dirigida por Lucas Kozuki, traz uma atmosfera nostálgica digna dos desenhos do Cartoon Network dos anos 2000 como Meninas Superpoderosas e Laboratório de Dexter. O encontro aconteceu por intermédio de um colega do selo Rockambole e, imediatamente, o lado fã de quadrinhos de Léo estava novamente aceso. “Na primeira reunião para ver o rascunho, o resultado era tão brutal que para mim o clipe já estava pronto. Do jeito que tava, eu queria lançar. O Lucas então voltou para a equipe dele com toda a liberdade e finalizou a animação”, relatou Léo.

O recado está dado: tem mais de onde veio

Ao conversar com Léo, é perceptível a empolgação de alguém que está satisfeito com seu trabalho. É nítido também ver que ele está ansioso para fazer ainda mais. E os fãs dos outros projetos musicais de Léo podem ficar tranquilos, pois eles continuam em seus planos: “Supercombo é o meu maior projeto e sempre vai ser, pois já tem uma história e um significado gigantesco. Scatolove, com a minha esposa Isa Salles, é uma banda que eu construí literalmente em forma de família. Já meu projeto solo é como se fosse eu abrindo a porta do meu quarto para mostrar como minha cabeça funciona no meu aconchego, onde eu não devo satisfação para ninguém”.

As portas do quarto de Reolamos já têm data para abrirem novamente. Seu segundo EP já está pronto e o primeiro single vem ao mundo em 25 de março. Desta vez, o processo não foi compartilhado, ele é fruto de uma construção solitária e terapêutica. O nome Labirindo é um indicativo que a habilidade de Léo para fazer música nova e criar trocadilhos está novamente a todo vapor. 

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