Entrevista: Yo Soy Toño

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No dicionário, a palavra “ser” possui muitos significados, como “possuir identidade, particularidade ou capacidade inerente” ou “existir; fazer parte de uma existência real”. Em tempos que o “mais do mesmo” é corriqueiro na indústria fonográfica, encontrar um som que se destaca, que faz jus ao verbo “ser” e que possui identidade própria é tarefa minuciosa.

Nessas buscas, é possível escutar um som que é: Yo soy Toño. Toño é Antonio Oiticica, um carioca com o nordeste na mistura e São Paulo no trajeto. O Soy, como projeto, já embalou a trilha do filme Entre Pontos, com o single Trilhos e já conquistou admiradores pelos quatro cantos de um Brasil que anseia novidade e música. Além disso, lançou recentemente a faixa Canal.

Perfeita para se tornar a música favorita de muita gente, Canal é um respiro profundo. A composição, uma obra-prima, pode ser facilmente confundida com gritos e gemidos desesperados de uma pessoa num processo de autoconhecimento. Cada tom, acorde e palavra se converge rumo a um abismo de emoções reunidas e que, em extrato, se tornam indecifráveis. O “canal” é por onde passam as dúvidas, indagações, murmurias, tristezas e alegrias de um ser que busca saber quem é, o que é e como é. Um ser procura ser.

Música Pavê: A letra de seu mais recente lançamento, Canal, é complexa (no melhor sentido possível) e perfeitamente musical, além de, se analisada sob um enquadramento isolado, ser uma poesia com todas as características de uma. Como você enxerga a importância do texto das composições para a música de uma maneira geral?

Yo Soy Toño: O texto, numa canção, é um guia. Principalmente para quem compõe. Eu escrevo pra tentar falar de mim, dizer o que sinto e fazer minha voz ser ouvida. No dia a dia, me acho tímido e acredito que encontrei na música minha forma de falar meus sentimentos. A importância do texto está aí, em carregar sua mensagem, transmitir e compartilhar conhecimento.

MP: Você é carioca, começou sua carreira no nordeste, passou uma temporada em São Paulo. Esse “intercâmbio musical” foi importante para a construção de sua personalidade na música e, consequentemente, na sua lista de referências?

Toño: Acredito que sim. Disse recentemente que minha música tratava de encontros e desencontros, ou seja, movimento. Gostei muito dessa definição, até porque minha vida tem muito disso, ir de lá pra cá. Então acaba refletindo na música. Fico feliz imaginando as pessoas viajando, por exemplo, indo de um lugar a outro, ouvindo essas músicas e elas fazendo sentindo no caminho. Músicas de viagem, de travessia, como tantas outras já foram pra mim.

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MP: Existem muitas diferenças entre seus trabalhos atuais dos mais antigos? Quais são?

Toño: Como Yo Soy Toño, lancei o Na Sala, que foram versões voz e violão de três músicas minhas. Agora, lancei esse compacto com Trilhos e Canal em formato banda. A diferença maior está aí, nas possibilidades de arranjo e de sentimento em relação ao formato da música. Eu tenho também uma banda de rock, Dof Lafá, e, até lançar meu solo, tocamos cinco anos juntos em Maceió, circulando entre os estilos Hardcore, Emocore e Post Rock. Talvez esse trabalho antigo seja mais diferente, mas ainda vejo pontos em comum, como a dinâmica nos arranjos.

MP: Quais os planos (lançamentos, shows, novas faixas, clipes etc.) para um futuro próximo do projeto?

Toño: Por enquanto, quero trabalhar melhor esse compacto, lançar clipe pelo menos de uma das músicas e ainda nesse primeiro semestre. E fazer shows. Quero me movimentar, conhecer mais o Brasil, conhecer quem quer me ouvir.

MP: Toño e Antônio Oiticica são “a mesma pessoa”? Se não, quais são as diferenças entre eles? Toño é uma personificação do seu trabalho na música?

Toño: São a mesma pessoa em funções diferentes. Toño sempre foi meu apelido entre os amigos e Antonio Oiticica um nome oficial, por assim dizer. Como Antonio assino mais coisas, trabalhos de produção cultural que me envolvo, trabalhos no jornalismo. Como Toño, sou músico. Mas a voz é a mesma, “yo soy los dos”.

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